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Crítica | Starlight

por Guilherme Coral
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Por mais que Mark Millar constantemente retorne às histórias de super-heróis, independente da editora, sua presença em editoras que favorecem mais o trabalho autoral, oferece ao autor o espaço necessário para que ele crie quadrinhos de variados estilos, indo desde a espionagem ao estilo James Bond, como visto em Kingsman, até a ficção científica, como é o caso de Starlight. Além disso, é preciso notar como Millar costuma fazer homenagens aos clássicos da cultura pop em suas obras, algo que aparece bem claramente em Superior e na obra aqui em questão. De forma respeitosa, o autor nos leva de volta às óperas espaciais, aos moldes de Flash Gordon, criando uma minissérie que pode ser perfeitamente definida pelo sentimento de nostalgia que ela traz à tona.

De fato, a intenção de Millar é justamente trabalhar essa atmosfera nostálgica, questão deixada bem clara pela escolha do protagonista Duke McQueen – cujo próprio nome remete-nos a alguém mais velho. O personagem é um ex-piloto da força aérea americana que, durante uma de suas missões, há quarenta anos, foi sugado por um buraco negro e levado para um planeta distante, onde salvou os habitantes locais da tirania de um ditador. Ao retornar à Terra ninguém, exceto sua esposa, acreditou em sua história. Todos esses anos depois, McQueen perde sua amada e, deixado de lado pelos filhos, permanece solitário em sua casa, até que um jovem desse outro planeta aparece em sua porta, com uma nave, pedindo a sua ajuda para, mais uma vez, salvar seu povo.

Sob a superfície, Starlight nada mais é que uma história sobre o luto e superação. No início da história encontramos o protagonista em uma triste situação, recordando de seus grandes feitos interestelares. Depois de perder a esposa ele precisa enxergar que sua vida não acabou, apenas entrou em uma nova fase e que ele continua sendo o mesmo homem de tantos anos atrás, somente mais velho. Millar mantém essa como uma perspectiva constante ao lidar com a velhice de McQueen sempre que pode – ele considera-se velho demais para salvar o planeta, mas não é isso o que suas ações mostram, revelando com bastante clareza a zona de conforto (ou desconforto) na qual o personagem ficou preso durante todos esses anos.

Evidente que essa questão da idade do personagem central dialoga com o já citado sentimento de nostalgia, que não somente é trabalhado pelo fato das pessoas desse outro planeta considerarem McQueen uma lenda, como pelo próprio visual dos quadrinhos. Estamos falando de algo que constantemente nos remete às ficções científicas de outrora, com roupas collants, armas com designs um tanto exagerados e a presença de uma variada gama de cores, ponto bem trabalho por Ive Svorcina, que as bem utiliza a fim de passar a completa noção de que não estamos mais diante do planeta Terra. Além disso, a própria trama – livrar um planeta de um ditador ou força invasora – nos remete imediatamente aos clássicos filmes e séries do gênero.

O único verdadeiro grande deslize encontra-se na edição final, na qual Mark Millar apresenta uma exagerada pressa para construir o desfecho, fazendo parecer como se tudo estivesse em fast forward. Ele respeita tudo o que foi construído antes, mas o faz de maneira rápida demais, quebrando a fluidez da obra e, consequentemente, nossa imersão. Um detalhe menor é a presença pontual de violência gráfica. Ainda que essa aparece bem menos do que em outras obras do autor, ela simplesmente não combina com essa história, visto que a intenção era justamente homenagear alguns clássicos da ficção científica.

Tais aspectos, porém, não prejudicam nosso aproveitamento geral dessa obra, que já deixa saudades no instante que viramos a última página. Em Starlight, Millar foge das histórias de super-herói ou de criminosos, criando uma boa ficção científica, com elementos que imediatamente despertam o nosso saudosismo. Mesmo que apressada em seu fim, não há como não se deixar levar por essa última aventura de Duke McQueen.

Starlight — EUA, 2014
Roteiro:
Mark Millar
Arte: Goran Parlov
Cores: Ive Svorcina
Letras: Marko Sunjic
Editora original: Image Comics
Data de lançamento original: março a outubro de 2014
Editora no Brasil: ainda não publicado
Páginas: 168

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