- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
O espancamento de Sylvester Pemberton ao final de The Blackmail leva a uma discussão interessante sobre ele passar ou não adiante de vez o bastão – no caso o literal cajado – de Starman para Court. O problema é que essa conversa é encurtada por Pat que convence seu ex-parceiro a continuar com sua persona super-heróica, inclusive presenteando-o com um uniforme novo que ele costurou. Algo que tinha potencial para ser trabalhado com um pouco mais de vagar – ainda que eu ache que o assunto continuará aceso de uma forma ou de outra – ganha uma velocidade desnecessária, diria, mesmo considerando a participação do Dr. Meia-Noite original (Alex Collins) que aparece quase que exclusivamente para mais uma vez explicar como Starman ressuscitou e para criar a ponte entre o herói acamado e a ideia de aposentadoria.
E essa velocidade tira do episódio aquilo que ele tinha de melhor, pois o que resta é basicamente burocrático e pouco inspirado, com Beth usando seu “poder” (para que aquele uniforme todo elaborado até com capa se tudo o que ela faz é usar aqueles óculos?) para achar uma pista no trailer do Jogador que aponta para o retorno do Dragão Rei, mas que é revelado – para nós, apenas – que é Shiv quem está se transformando no que o pai era, ao que parece. Isso a coloca novamente como suspeita principal, mas é bem provável que haja mais nessa história, como ela ter tido algum blecaute, ter sido controlada pelo pai que pode estar vivo em sua mente e assim por diante.
Por um lado, eu gosto que o mistério fique circunscrito aos personagens já explorados em Blue Valley (imaginando que o Dragão Rei, como entidade separada, não voltou da maneira tradicional, digamos assim, pois esse negócio de ressuscitar personagens é cansativa, ainda que parte do DNA dos quadrinhos, eu sei), mas, por outro, não sei se a melhor solução é vilanizar de vez a Shiv dessa forma, pois a personagem tem potencial para ser mais e de maneira independente, sem que ela precise ser conectada de maneira indelével com o legado do pai. Não que eu não a prefira como vilã, pois eu prefiro, mas apenas gostaria que ela não se transformasse em um “lagarto” malvadão. Mas, claro, há a figura enluvada misteriosa que observa os monitores, o que pode ao mesmo tempo não significar nada de diferente ou, claro, mudar tudo.
Mas esse lado do episódio ainda foi interessante, mesmo que a inserção de Mike e Jakeem tenha sido não só estranha, como forçada, com outra cena no banheiro da escola que, pior, leva àquela avalanche de chaves que, pelo visto, ninguém acha estranho… Seja como for, ainda que eu não necessariamente seja anti-romance adolescente, foi justamente o romance adolescente que pesou neste capítulo. E a questão nem exatamente é o romance em si, mas sim os diálogos tenebrosos, repletos de didatismo, entupidos até a boca de preparação para o que está por vir. Desde a revelação de que Cameron tem poderes, que Court recebe – considerando que ela, nos olhos dele, não é Stargirl, lógico – como se ele apenas tivesse dito para ela que nasceu uma espinha em seu nariz, passando por toda aquela história de “usar seus poderes para a arte” (com direito à nevasca fora de estação na cidade que, como de praxe, ninguém vê) e de “meu pai era bonzinho” e, mais ainda, “meu pai foi assassinado, mas meus avós não dizem por quem”. Foi quase como ver cenas dos próximo capítulos na forma de um momento “fofo” de “amorzinho” que eu até acho que Brec Bassinger faz bem como a menina inocente diante de seu primeiro amor, mas que, no geral, chega a ser um pouco vergonhoso…
Reconheço que algo assim era inevitável, pois a série, é indisfarçavelmente, “de adolescente”, mas ela normalmente consegue alcançar um bom equilíbrio, algo que Paula Sevenbergen não consegue aqui em seu roteiro de The Evidence. Mesmo com esses problemas, porém, a temporada como um todo continua muito bem. Leves retrocessos como o que vimos aqui fazem parte de séries como essa e chega a ser surpreendente que o primeiro deles (sou pessimista, eu sei) só aconteça na quarta semana e, mesmo assim, sem prejudicar o todo de verdade.
Stargirl – 3X04: The Evidence (EUA, 14 de setembro de 2022 nos EUA e 22 de setembro de 2022 no Brasil)
Showrunner: Geoff Johns
Direção: Walter Carlos Garcia
Roteiro: Paula Sevenbergen
Elenco: Brec Bassinger, Luke Wilson, Yvette Monreal, Anjelika Washington, Cameron Gellman, Trae Romano, Meg DeLacy, Amy Smart, Hunter Sansone, Nick Tarabay, Ysa Penarejo, Joel McHale, Stella Smith, King Orba, Milo Stein, Jonathan Cake, Alex Collins, Keith David, Alex Collins
Duração: 40 min.