- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
Todos os episódios de Stargirl a partir do momento em que a temporada começou a realmente ficar boa – ou seja, exatamente em Shiv Part One – sofrem pela forma como tudo foi construído nos seis capítulos iniciais. Os desenvolvimentos de Courtney como a heroína título e de todos os personagens ao seu redor, sejam aliados ou inimigos, foram claudicantes e equivocados, sem que houvesse fluidez na história como um todo. Claro que, com a qualidade dos roteiros subindo, os problemas passaram a ser menos sensíveis, mas eles não desapareceram completamente – algo que apenas talvez Brainwave Jr. tenha tido sucesso em eliminar – e eles retornam mais evidentemente em Shining Knight.
Apesar da aparente morte de Henry King Jr. anteriormente e do nome do episódio ser Shining Knight, ou Cavaleiro Andante, integrante dos Sete Soldados da Vitória juntamente com Stripesy, ou Fúria, o foco do episódio é mesmo a paternidade de Courtney e sua tristeza não exatamente por descobrir que ele é um cafajeste que está pouco se lixando para ela, mas sim por não ser filha de um super-herói morto, algo que, devo confessar, causa uma certa estranheza e que tem o objetivo único de criar insegurança sobre sua identidade super-heroica que faz com que o Cajado Cósmico pare de funcionar, ela choramingue um pouco e, voilà, tudo acabe bem novamente. Escrevi tudo isso em apenas uma frase, pois é assim que tudo pareceu acontecer nos 44 minutos do episódio, em um roteiro que, mesmo escrito pelo próprio Geoff Johns, é um daqueles que tem seu principal mote algo criado e resolvido nele mesmo, sem efetivamente gerar consequências duradouras e, pior, ainda, sem se aproveitar do forte momento dramático que foi o assassinato de Henry Jr.
É decididamente uma pena que esse tipo de artifício seja utilizado a essa altura do campeonato na temporada, com a introdução do pai verdadeiro de Courtney com uma baita conveniência de roteiro, já que a primeira vez que ouvimos falar dele foi quando Barbara envia um e-mail para ele no episódio anterior sem entrar em detalhes sobre nada. Sam Kurtis (Geoff Stults) é mais um daqueles personagens extremamente mal utilizados que caem de para-quedas na história e criam um caos clichê auto-contido momentâneo que é de revirar os olhos. Mais uma vez, se tivesse havido uma construção melhor em episódios passados, especialmente considerando que Courtney não parava de falar que seu pai era Starman, o mesmo resultado poderia ter sido alcançado de maneira muito mais interessante e significativa na história.
O segundo assunto mais relevante foi o Cavaleiro Andante servir de conduíte para Pat deduzir em um estalar de dedos que o grande plano da Sociedade da Injustiça é controlar mentalmente grande parte da população americana. O pulo lógico para ele chegar a essa conclusão é hilário, considerando que ele passou anos investigando a SIA, inclusive com um diário criptografado em mãos, sem nunca solucionar absolutamente nada. De um minuto para o outro, Pat tornou-se um novo Sherlock Holmes. Novamente, problema enorme de construção de roteiro que vem desde o começo da temporada e que, agora no final, é colocado em passo acelerado de qualquer maneira.
Querem ver outro problema sério? Geada foi desenvolvido com um assassino frio e calculista, capaz de matar, só porque deu vontade, o filho adolescente de seu colega vilão e o próprio colega vilão e isso porque sabemos, também, que ele circundou o globo eliminando todos os que de alguma forma foram responsáveis pelo assassinato de sua amada esposa. Estou dizendo isso tudo por uma questão muito simples: o episódio deixa claro que, se Jordan Mahkent não tivesse descoberto que Barbara desconfia dele, ele aparentemente não autorizaria Henry King Sr. a matar a família Whitmore-Dugan. Em outras palavras, a paixonite do grande vilão da temporada o impediu de agir exatamente como ele vem agindo há anos contra seus maiores inimigos às vésperas de colocar em andamento seu plano diabólico. Começo a achar que o único personagem coerente nessa história toda é o Onda Mental mesmo…
Mas o pior é que eu não detestei o episódio. A péssima construção narrativa pesou muito aqui, sem dúvida alguma, mas o drama de Courtney, se recortado do episódio e analisado separadamente, é uma boa história-clichê que levou à melhor performance de Brec Bassinger até agora (e não, isso não é exatamente um elogio), além de uma boa conexão de Court com Pat e Barbara. Até mesmo a presença de Mike, que considero um ótimo personagem criminosamente subutilizado na temporada, foi boa nos poucos segundos que teve, aumentando o conflito entre ele e seu pai e que deveria gerar consequências mais interessantes do que só cara feia e olhos revirados (como por exemplo ele achar a caneta rosa com o Yz do Johnny Trovoada e usar os poderes contra Stargirl…).
Shining Knight sofre pelos pecados do passado e por não saber aproveitar o que a série apresentou de melhor nos episódios imediatamente anteriores. Talvez seja o caso de manter o foco nos vilões mesmo, pois foram todos tiro certeiros. Com mais dois episódios pela frente, porém, a temporada ainda tem chance de acabar no alto.
Stargirl – 1X11: Shining Knight (EUA, 27 de julho de 2020)
Showrunners: Geoff Johns, Greg Berlanti
Direção: Jennifer Phang
Roteiro: Geoff Johns
Elenco: Brec Bassinger, Luke Wilson, Yvette Monreal, Anjelika Washington, Christian Adam, Trae Romano, Meg DeLacy, Jake Austin Walker, Neil Jackson, Christopher James Baker, Amy Smart, Hunter Sansone, Henry Thomas, Eric Goins, Neil Hopkins, Joy Osmanski, Hina Khan, Mark Ashworth, Nelson Lee, Geoff Stults
Duração: 44 min.