- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
Entendo perfeitamente o conceito de guilty pleasure. Eu tenho vários filmes na minha lista de favoritos que caem nessa categoria. Mas guilty pleasure exige que a pessoa tenha consciência do que gosta, ou seja, que ela saiba que sua série ou filme favorito da vida é muito ruim na verdade. O problema sério vem quando não há essa percepção e a série ou filme favorito passa a ser vista como uma obra maravilhosa, defendida a todo custo.
Nesse mundo em que vivemos, em que cada capítulo novo na “saga” Velozes e Furiosos ou cada novo filme de super-herói é aguardado com ansiedade por pessoas que, por outro lado, não querem nem saber de filmes de três horas do Scorsese ou não concebem a ideia de ver filmes mais “antigos” que o ano 2000, essa diferenciação é particularmente preciosa, para que não nos percamos completamente em um mar de mesmice pasteurizada feita para deslumbrar os olhinhos, mas nunca para alimentar o que há por trás deles. Sei que estou sendo particularmente amargo e “crítico de cachecol” e Stargirl talvez nem mereça isso, mas o pouco que vejo de rede social parece apontar para uma idolatria cega a essa série escrita por estagiários no intervalo do dever de casa que ela acaba recebendo toda a minha carga venenosa.
E olhem que eu estou gostando muito da interação adolescente da temporada inaugural de Sociedade da Jus… digo… Stargirl. Esse é, sem dúvida alguma, o ponto alto da série comandada por Geoff Johns e aquele outro cara da CW, colocando-a, nesse quesito, muito acima de seus pares. Mas o problema é que tudo é feito na base do “vamos atacar primeiro e pensar depois”, algo que é bonitinho da primeira vez, mas que se torna idiota e imbecil depois da décima vez que acontece. E mais: não dá para levar a sério quando um vilão que matou seu colega de trabalho de décadas e o filho adolescente dele simplesmente porque deu vontade brigar com outros dois vilões por terem assassinado (no estacionamento da escola, local onde tudo acontece e ninguém nunca vê nada) o treinador do time de futebol americano ou quando Courtney é ordenada a pegar de volta os objetos super-heroísticos que andou distribuindo de brinde para que no momento seguinte suas amigas comentem o quanto ficaram felizes como pintos no lixo pela oportunidade que lhes foi dada. É preguiça demais do roteiro e isso cansa, retirando toda a vontade de continuar assistindo.
Se eu sou implicante? Sim, sim, sem dúvida, mas parem e pensem se o que eu escrevi acima não faz sentido, mesmo que a conclusão seja dolorosa. E agora somem tudo com o momento em que Pat entrega o diário de Rex Tyler para Rick – que tem o nome de Rex Tyler gravado em dourado na capa – e diz, com todas as letras, algo como “isso pertencia a seu pai”. Como é que o garoto deduziria algo tão genial assim se não fosse essa frase brilhante??? Eu, por exemplo, tinha certeza que o diário ou era de Anne Frank ou daquela série de vampiros da CW…
E o que sobra depois disso tudo? Ah, claro, uma pancadaria divertida com todos os adolescentes devidamente uniformizados contra o filho bastardo do Jason Voorhees com uma cosplayer do Rei dos Tigres. Sem dúvida simpática a luta, especialmente pelo fato de o jovens apanharem como deveriam e mesmo considerando que Courtney talvez tenha demonstra habilidades demais em tempo de menos (ok, o centro senciente dela ajuda bastante, mas mesmo assim…). Pelo menos agora podemos esperar algum tipo de montagem de treinamento ou uma passagem de tempo que faça a nova Sociedade da Justiça ser mais do que apenas um monte de adolescentes achando que são super-heróis só porque vestem uniforme coloridos. E, por favor, alguém me diga que a Dra. Meia-Noite tem mais habilidades do que ser apenas uma Enciclopédia Britannica turbinada…
Em termos narrativos do lado vilanesco, falta algo que tire um pouco do mistério exagerado sobre o plano da Nova América do Geada, pois alimentar o espectador com mínimas pistas por episódio dá aquela incômoda impressão de que, quando houver a grande revelação, ela não será tão grande assim. Resta-nos esperar que não seja algo extremamente banal como controle mental sendo transmitido via satélite ou algo assim e que a Sociedade da Injustiça não seja derrotada facilmente, nos 15 minutos finais da temporada.
The Justice Society certamente fará os fãs abrirem aquele sorrisão bobo vendo a garotada fantasiada lutando, mas qualquer análise um pouco mais fria que vá um pouquinho abaixo da superfície levará à conclusão que Stargirl vem consistentemente perdendo o pouco de qualidade que vinha mostrando aqui e ali. É como desapontar-se com um bolo pouco saboroso debaixo de diversas camadas de confeitos e caldas reluzentes como a lava do vulcão de Mike.
Stargirl – 1X06: The Justice Society (EUA, 22 de junho de 2020)
Showrunners: Geoff Johns, Greg Berlanti
Direção: Christopher Manley
Roteiro: Taylor Streitz
Elenco: Brec Bassinger, Luke Wilson, Yvette Monreal, Anjelika Washington, Christian Adam, Julia Armitage, Mark Ashworth, Christopher James Baker, Olivia Baughn, Elizabeth Bond, Sam Brooks, Meg DeLacy, Wil Deusner, Suehyla El-Attar, Max Frantz, Cameron Gellman, Eric Goins, Neil Hopkins, Neil Jackson, Hina Khan, Joe Knezevich, Joel McHale, Joy Osmanski, Ashani Roberts, Trae Romano, Amy Smart, Stella Smith, Brian Stapf, Henry Thomas, Annie Thurman
Duração: 41 min.