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Crítica | Stardew Valley

por Guilherme Coral
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Games que simulam a criação e manutenção de fazendas não são nenhuma novidade no mercado, tendo ganhado inúmeras entradas, que vão desde Farmville até o famigerado Colheita Feliz. Nenhuma dessas obras, contudo, conseguiu ser o que Harvest Moon fora em seu auge: uma experiência verdadeiramente viciante, que oferecia inúmeras possibilidades ao jogador, não limitando o jogo a simplesmente cultivar suas plantações ou alimentar os diversos animais da fazenda. Eis que, na tentativa de resgatar o espírito perdido dos primórdios dessa franquia, surge Stardew Valley, o game que todos os órfãos dos primeiros Harvest Moon tanto esperaram.

Desenvolvido pela ConcernedApe, esse jogo indie tem como principal objetivo oferecer ampla liberdade ao jogador, não limitando nossa experiência com tarefas exaustivas, possibilitando que, essencialmente, façamos o que bem entendermos. Logo no início criamos nosso personagem, que pode ser menino ou menina, e o vemos abandonar seu terrível emprego na cidade grande a fim de se mudar para o campo, para cuidar da velha fazenda de seu avô. Chegamos, pois, a Stardew Valley, uma pequena cidadezinha e prontamente, após breve recepção do prefeito local, podemos explorá-la ou colocar a mão (controle mais precisamente) na massa e iniciar a vida de fazendeiro.

Aqueles que jamais jogaram um game do tipo provavelmente irão se perguntar por que raios iria perder seu tempo com um game sem objetivo ou trama bem definida. Stardew Valley, realmente, pode parecer algo “sem propósito”, mas ele resgata a própria essência dos videogames: o entretenimento. Não há competição, ou desafios obrigatórios e sim pura diversão. O objetivo em si, nós próprios escolhemos, seja ele construir uma gigante fazenda, melhorar todos as ferramentas, casar com alguém da cidade, explorar as minas locais, dentre inúmeras outras possibilidades. Cada uma dessas atividades trazem mecânicas simples e intuitivas, não requerendo infindáveis tutoriais, como nas versões mais recentes de Harvest Moon.

Isso, contudo, não quer dizer que o jogo não possua qualquer história. Cada um dos personagens possuem subtramas próprias, desenvolvidas através de curtas cutscenes que são desbloqueadas conforme atingimos certo nível de amizade, que pode se transformar em um relacionamento amoroso, como já dito anteriormente. Naturalmente que o casamento com alguém da cidade traz certos benefícios, com essa pessoa ajudando nas tarefas da fazenda. Além disso, logo no início do game descobrimos que um supermercado abriu as portas no local, ameaçando destruir toda aquela vida mais simples do campo – cabe a nós decidir se vamos ajudar o prefeito a expulsar essa rede ou se vamos “nos vender” e fortalecer as operações do mercado.

Não existe, porém, nenhuma pressão para cumprirmos qualquer meta. Apesar do jogo contar com um calendário bem definido, com eventos festivos em dias específicos, ele se repete ano após ano, permitindo que uma oportunidade perdida seja aproveitada posteriormente. A melhor maneira de experimentar essa obra em sua plenitude, portanto, é não se preocupando muito, fazendo o que quiser, quando quiser. Claro que as próprias mecânicas nos incentivam a definir certas prioridades – ver a fazenda crescer, por exemplo, é algo extremamente recompensador, especialmente considerando o estado lastimável que a encontramos no início do jogo, com tantos galhos, árvores e pedras no caminho que sequer espaço para cultivar temos.

A cereja no topo do bolo são os níveis de habilidade, aspecto tirado direto de RPGs, que aumentam conforme realizamos certas atividades. Desvendar os inúmeros níveis da mina local, quebrando rochas em busca de pedras preciosas, por exemplo, aumentará o nível da habilidade correspondente – o mesmo vale para pescaria e outras coisas que podemos fazer no game. Isso não amplia a sensação de recompensa do jogador, como possibilita que enxerguemos com maior clareza a evolução do personagem principal, fator que é acompanhado pela melhoria dos equipamentos, que podem ganhar upgrades no ferreiro local.

Os gráficos podem soar um tanto limitados, mas eles cumprem sua função plenamente, com uma arte simples, mas intuitiva e orgânica, permitindo a diferenciação de cada elemento em tela. Além disso, os personagens e cenários são muito bem diferenciados entre si, jamais confundindo o jogador. Dessa forma, a obra nos lembra que videogames não são sobre gráficos poderosos e sim sobre experiências capazes de nos entreter por horas e horas a fio – não que jogos realistas ao extremo devam ser desvalorizados, tudo varia da proposta do game em questão.

Stardew Valley, portanto, é um jogo de infinitas possibilidades, que nos permite simplesmente aproveitar o jogo pelo que ele é, sem ficarmos presos a um ou mais elementos em específico. Essa é uma obra pautada quase que inteiramente no gameplay, nos mergulhando nessa universo de tal forma que será difícil abandonar a fazenda e a cidadezinha a sua volta antes de jogar por dezenas de horas. Finalmente ganhamos o Harvest Moon que há tanto esperávamos.

Stardew Valley
Desenvolvedor:
ConcernedApe
Lançamento: 26 de fevereiro de 2016
Gênero: Simulação
Disponível para: PC, Mac, Linux, PlayStation 4, Xbox One, Nintendo Switch

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