Espaço (não-canônico): Órbita de Tatooine, Tatooine (Anchorhead, Mos Eisley, Mar de Dunas e Lar da família Lars), espaço profundo, Estrela da Morte, órbita de Alderaan, órbita de Yavin-4 e Yavin-4 (base rebelde)
Tempo (não-canônico): A Rebelião – Eventos logo anteriores à Batalha de Yavin, a Batalha de Yavin e eventos logo posteriores (a.BY e d.BY)
As adaptações em mangá da trilogia original de Star Wars, que foi seguida pela adaptação de A Ameaça Fantasma (não há adaptação, até agora, de Ataque dos Clones e A Vingança dos Sith) não são consideradas canônicas do universo criado por George Lucas. Mas deveriam ser, pois, a julgar pela adaptação do Episódio IV, Uma Nova Esperança, trata-se de material extremamente fiel à obra original que consegue ser muito superior à pouco inventiva adaptação em quadrinhos da Dark Horse Comics. de 1997 e até mesmo, arrisco dizer, da clássica adaptação da Marvel, de 1977.
Desenhada por Hisao Tamaki diretamente com base no roteiro e no filme de George Lucas, o mangá foi dividido em quatro volumes, da seguinte forma:
– Volume 1: Do começo até quando Luke descobre seus tios mortos em Tatooine;
– Volume 2: Da cremação dos Jawas até o pouso da Millenium Falcon na Estrela da Morte;
– Volume 3: Da saída de Han Solo, Luke, Obi-Wan Kenobi e Chewbacca dos esconderijos de contrabando da Millenium Falcon até o meio da batalha espacial entre a Millenium Falcon e os Tie-Fighters, já fora da Estrela da Morte;
– Volume 4: Final da batalha entre Millenium Falcon e Tie-Fighters até a entrega das medalhas em Yavin-4.
Com isso, o artista teve espaço para realmente trazer ao mangá absolutamente tudo – e um pouco mais – que vimos nas telonas. A base foi o roteiro completo de Lucas e não o shooting script, o que trouxe algumas cenas extras, com Luke Skywalker observando a captura do Tantive IV de Leia pelo Destroyer Espacial de Darth Vader e as sequências com Biggs em Tatooine. Momentos bem vindos que só acrescentam à história. Ainda que a sequência com Jabba também tenha sido incluída, ela consegue ser bem melhor do que a da Versão Especial do filme. Ah, claro, fiquem tranquilos: Han Solo continua atirando primeiro!
Os diálogos são integrais quase até a vírgula. E Hisao Tamaki tem um excelente ritmo de quadros, intercalando páginas bem estruturadas, nunca confusas, com magníficos spreads que são, normalmente, de tirar o fôlego. Até mesmo sequências comumente vistas como pouco ágeis no filme – como a luta entre Vader e Obi-Wan Kenobi – ganham ótimas repaginadas, com muito movimento de maneira bem características dos mangás.
Os personagens são desenhados também da maneira típica dos mangás, com aparências substancialmente mais jovens, com grande olhos e expressões e reações exageradas. Mas isso já era de se esperar e, mesmo que o leitor estranhe nas primeiras páginas, logo se acostumará, pois a consistência é mantida do começo ao fim. Além disso, Tamaki é cuidado ao inserir muitos detalhes em todo o aparato tecnológico usado, com especial destaque para as naves e para a Estrela da Morte. É literalmente como ver a versão japonesa de Star Wars.
O artista também é inteligente ao impor seu estilo. No lugar de tentar copiar as feições dos atores do filme ou mesmo de reproduzir os figurinos de forma 100% fiel, ele trabalha com nossa percepção do todo. Assim, Luke não tem quase nenhuma semelhança física com Mark Hamill, mas o Luke de Tamaki encapsula, sem tirar nem por, a essência do personagem. O mesmo vale para os demais, especialmente Han Solo, desenhado de maneira a não parecer mais velho do que Luke; Leia, que mantém sua força, mas ganha muita jovialidade e, claro, Chewbacca, que parece um simpático cachorrinho peludo.
No caso de Darth Vader, Tamaki não brinca. A icônica armadura negra ganha contornos ainda mais dramáticos com o lápis do artista. Nada de rejuvenescimento ou leveza aqui. Vader é o mal encarnado e Tamaki não se furta de mostrar suas ações de forma até bem violenta, como o pescoço quebrado do soldado rebelde no início ou o assassinato de Obi-Wan. Há força nesse Vader, mais força até do que no original (sei que cometi uma heresia aqui – desculpe-me tio Lucas!).
A versão original do mangá foi publicada normalmente no Japão, ou seja, com a leitura da direita para a esquerda. No entanto, no Ocidente, como acontece com alguns mangás de forma a alcançar o maior número possível de leitores, especialmente aqueles não acostumados com quadrinhos japoneses, a publicação ocorreu de maneira espelhada. Aqui no Brasil também foi assim, com a leitura no sentido Ocidental, da esquerda para a direita. Isso em nada atrapalha o aproveitamento da obra, ainda que cada volume seja precedido de uma cuidadosa explicação sobre isso, de maneira que o fã não estranhe posicionamentos inversos de alguns personagens em determinadas sequências. Afinal, como disse, Tamaki realmente tomou cuidado com sua obra e procurou trabalhar seu mangá de forma a seguir quase quadro-a-quadro o clássico filme.
É uma leitura obrigatória para os fãs de Star Wars e um deleite visual para qualquer um.
Star Wars: Uma Nova Esperança #1 a 4 (Star Wars: A New Hope #1 a 4, Japão – 1998)
Roteiro: George Lucas
Arte: Hisao Tamaki
Letras: Tom Orzechowski
Editora (no Japão): Tokyopop (julho a dezembro de 1998)
Editora (no Brasil): JBC Mangás
Páginas: 90 (cada volume)