- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
Bryce Dallas Howard retorna como diretora para a franquia Star Wars depois de seu fraquíssimo trabalho em Guns for Hire, o sexto episódio da decepcionante terceira temporada de The Mandalorian e entrega um episódio edificante de Skeleton Crew que aborda de maneira simples e direta o “ser diferente” e como as crianças podem reagir a essa situação em meio a uma aventura em que elas precisam se virar sozinhas mais uma vez. Nenhum Amigo De Novo é, também, o primeiro episódio da série que repete locação, com a maior parte da história ocorrendo mais uma vez no planeta em que fica o covil do lendário pirata Tak Rennod, começando exatamente do ponto em que Vocês Têm Muito o Que Aprender Sobre Piratas acaba.
Trata-se de uma boa decisão de roteiro, pois, com isso, não é necessário que tudo comece novamente “do zero”, com uma nova ambientação exigindo nova aclimatação. Além disso, o “descarte” da linha narrativa de Jod, aprisionado por seus colegas piratas, também é ligeiro, com ele logo virando a condenação de Brutus ao usar a ganância de todos ali em razão da promessa de créditos infinitos da Velha República em Att Attin, o que funciona muito bem para abrir espaço para as crianças enfrentarem desafios sem ajuda de mais ninguém. No entanto, por outro lado, mesmo assim o episódio teria se beneficiado muito de uma duração levemente maior, algo como 10 minutos, de maneira que o conflito entre as melhores amigas KB e Fern, depois que a primeira sofre com problemas em seus implantes cibernéticos, pudesse ser trabalhado com mais calma.
Ou isso ou essas diferenças entre as duas deveria ter ficado mais claro antes, com Fern, sempre impulsiva, pouco ouvindo sua amiga, algo que em retrospecto faz sentido, mas que não havia sido abordado de maneira mais incisiva. Seja como for, o grupo acaba dividido em duas duplas, Fern com Neel e KB com Wim, a primeira escalando de volta o penhasco para chegar à nave e a segunda seguindo caranguejos do lixo (uma sacada genial) na esperança um tanto quanto aleatória, mas ok, de eles a levarem para o destino desejado por um caminho mais fácil. Nesse processo, enquanto Fern percebe, na prática, que nem todo mundo é igual e precisa compensar as pernas diminutas de Neel que atrapalham na subida, o bem mais empático Wim faz de tudo para consertar os implantes de KB que quase entra em colapso.
A lição de vida, aqui, é bastante clara, mas diria que o roteiro de Myung Joh Wesner foi feliz em desviar-se do didatismo excessivo. Ele está lá, não tenham dúvida, sobretudo nos diálogos entre KB e Wim, mas existe toda uma lógica boa por trás, já que Wim não conhece nada de KB e ele, junto com o espectador, ganha contexto para o passado dela, em que um acidente tornou os implantes necessários e que esses implantes precisam de manutenção constante, algo que conversa muito bem com o fato de KB ser uma particularmente boa mecânica. E, nessa linha narrativa, o “ser diferente” é, então, devidamente discutido e construído, com as duas duplas separadas chegando às mesmas conclusões por caminhos literalmente diferentes. Aos adultos que estiverem rolando os olhos para minha apreciação do que foi feito aqui, lembrem-se: trata-se de uma série infantil, o que faz com que seu público alvo seja formado essencialmente de crianças. Se fossem roteiros do tipo paternalistas, que retiram da criança qualquer chance de ela preencher os espaços em branco, eu seria o primeiro a reclamar, mas não é o caso de Skeleton Crew como um todo, que realmente faz como Os Goonies – sim, aqui estou eu de novo fazendo menção ao clássico oitentista – e costura o “ser criança” em uma narrativa de amadurecimento com viés de pura aventura imaginativa.
Mas aqueles 10 minutinhos extras fizeram falta aqui, com o roteiro tendo que correr demais na geração do conflito entre as crianças e a consequente divisão momentânea delas, ainda que, quando a convergência ocorre novamente, os visuais de altíssima qualidade (o que foi aquele mega caranguejo, hein?) ajudam a compensar, incluindo a revelação de que a Onyx Cynder faz como o Batmóvel e é uma “nave dentro de outra nave”, com a segunda um pouco lustrosa demais para o meu gosto e sem a personalidade do hunk of junk, ou sucata, da versão original completa, muito na linha do que fizeram em The Mandalorian, quando destruíram a bela Razor Crest para substituí-la por aquele horrível caça N-1. Seja como for, ao que tudo indica, piratas e crianças, agora, convergirão em At Attin e a dinâmica da série pode mudar bastante nos dois episódios finais. Veremos!
Star Wars: Skeleton Crew – 1X06: Nenhum Amigo De Novo (Star Wars: Skeleton Crew – 1X06: Zero Friends Again – EUA, 31 de dezembro de 2024)
Criação: Jon Watts, Christopher Ford
Direção: Bryce Dallas Howard
Roteiro: Myung Joh Wesner
Elenco: Jude Law, Ravi Cabot-Conyers, Ryan Kiera Armstrong, Kyriana Kratter, Robert Timothy Smith, Nick Frost, Kelly Macdonald, Fred Tatasciore, Jaleel White
Duração: 34 min.