- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
Depois de me surpreender muito positivamente com os dois primeiros episódios de Skeleton Crew, peguei-me pensando na série no últimos dias muito mais vezes que poderia imaginar, não exatamente construindo teorias sobre o que está por vir, pois não tenho paciência para isso, mas sim genuinamente feliz pela série ter conseguindo capturar tão bem o espírito de Star Wars como se realmente fosse uma aventura infantil de amadurecimento produzida pela Amblin nos anos 80 e, claro, um pouco temeroso pelos episódios seguintes. Agora, tendo assistido Muito Interessante, Como um Problema de Astronavegação, tenho para mim que não há mais razão para temer, pois a série criada por Jon Watts e Christopher Ford com um público de idade bem específica em mente, não se trai e entrega uma narrativa leve, simples, mas muito bem construída que se agarra a todos os tropos do gênero, bebendo com muito gosto da franquia em que é situada e, também, de toda a literatura e obras audiovisuais que lidam com a mitologia dos piratas, algo que é musicalmente encapsulado pela trilha sonora de Mick Giacchino (filho de Michael Giacchino), em seu segundo trabalho em série de destaque em 2024, a primeira tendo sido nada menos do que a celebrada Pinguim.
Todo o mistério da série se resume ao segredos que o planeta At Attin e Jod Na Nawood (Jude Law), que, conforme aprendemos aqui, é, na verdade, Jack Escarlate, escondem e a diversão é reunir todas as peças do quebra-cabeças ao longo dos episódios, com direito a muitos personagens novos e ótimas sequências de ação, como é a que vemos no final, com a Onyx Cynder se defendendo da aproximação de duas X-Wings da mesma maneira que a Millenium Falcon se defendeu de Tie Fighters em Guerra nas Estrelas. Aliás, para já abordar outro aspecto que venho gostando demais na série é o uso de referências, já que nada na cultura pop, hoje em dia, pode ser produzida sem elas, pelo visto, o que gera obras que se apoiam tanto nelas que as referências engolem a narrativa. Em Skeleton Crew, pelo menos até agora, tudo é feito ou para impulsionar a narrativa, como é o combate espacial que mencionei, ou para fazer troça mesmo, como acontece na porta da base lunar onde Kh’ymm mora e trabalha: vemos o “olho mágico” do Palácio de Jabba tornado famoso no prólogo de O Retorno de Jedi, somente para a voz ser em língua que compreendemos e outros “olhos mágicos” aparecerem em seguida, quase como em uma esquete satírica dos Muppets.
E o que falar de Kh’ymm, “amiga” de Jack? Não só vemos ecos da chegada de Han Solo e companhia em Bespin, sendo recebidos por Lando Calrissian, como aquela coruja-gata (corugata? gatoruja?) é uma deliciosa criação animatrônica com ajuda de CGI que Alia Shawkat imediatamente dá vida com seu excelente trabalho de voz. Toda a sequência em que a vemos enrolar Jack para que as X-Wings cheguem para capturá-lo é como um fascinante mergulho em um microcosmo muito bem vivido, como a franquia Star Wars sempre soube fazer (com algumas exceções, eu sei e lamento), já que seu habitat, por assim dizer, é uma completa bagunça ao mesmo tempo atordoante e perfeitamente compreensível, com o tempo investido por ali sendo utilizado para que os diálogos possam relevar mais sobre At Attin e seu peculiar status de “planeta escondido” que, como já havia ficado mais ou menos claro anteriormente, vive sem contato com o mundo exterior, ainda na época da Velha República. O que isso significa, ainda é muito difícil de conjecturar, mas o que posso dizer é que esse é um mistério que pode até decepcionar quando ele for finalmente revelado, mas que é uma premissa excelente, não tenho dúvidas de que é.
Esse espaço vivido da base de Kh’ymm nós vemos também no começo do episódio, durante a fuga de Port Borgo, com os poucos minutos ali mais uma vez assombrando pela quantidade de detalhes, alienígenas e naves em uma ambientação que, confesso, gostaria de conhecer em mais detalhes, com mais calma e tranquilidade. A própria fuga das crianças e de Jack, caótica, causando destruição em massa e enfurecendo o shistavanen Brutus (Fred Tatasciore) que, claro, aparecerá novamente alguma hora (ou assim espero) foi uma diversão só, realmente – e sei que estou me repetindo – na melhor tradição Goonies de ser. Se o episódio tem um defeito “grande”, é que ele é curto demais não para contar o trecho da história que precisa contar, pois isso a minutagem dá conta, mas sim para explorar mais os lugares e os personagens que os pequenos heróis encontram, permitindo uma absorção maior do que é mostrado. O ritmo acelerado é bem-vindo, mas ele cobra um preço, reduzindo o tempo que o espectador tem para admirar cada canto desse pedaço ainda desconhecido de nossa galáxia favorita.
Star Wars: Skeleton Crew – 1X03: Muito Interessante, Como um Problema de Astronavegação (Star Wars: Skeleton Crew – 1X03: Very Interesting, As An Astrogation Problem – EUA, 10 de dezembro de 2024)
Criação: Jon Watts, Christopher Ford
Direção: David Lowery
Roteiro: Christopher Ford, Jon Watts
Elenco: Jude Law, Ravi Cabot-Conyers, Ryan Kiera Armstrong, Kyriana Kratter, Robert Timothy Smith, Nick Frost, Tunde Adebimpe, Kerry Condon, Marti Matulis, Jaleel White, Fred Tatasciore, Stephen Oyoung, Mike Estes, Dale Soules, Alia Shawkat
Duração: 40 min.