O explosivo première da segunda temporada de Rebels, The Siege of Lothal, alterou os paradigmas estabelecidos no primeiro ano da série, inserindo o pequeno grupo de rebeldes em um cenário maior, nos primórdios da Aliança Rebelde vista na trilogia clássica. A introdução da temporada, que trouxera Darth Vader como principal antagonista ainda abriu interessantes repercussões, criando um vínculo maior com o outro desenho, Clone Wars, também canônico dentro do universo agora controlado pela Disney. Se você esperava, contudo, ver mais do famoso Lorde Sith, pode se acalmar, pois ele, provavelmente, não dará as caras por algum tempo, sendo somente mencionado aqui e lá – fator, é claro, que contribui para seu status dentro de Star Wars.
Seguindo uma dica de Ahsoka, antiga aprendiz de Anakin, os rebeldes de Lothal vão a um planeta desértico, onde encontram um trio de soldados clones, um deles sendo o comandante Rex, personagem importante dentro de Clone Wars. Matt Michnovetz, todavia, é sábio na construção de seu roteiro e torna perfeitamente possível engajar tanto quem assistiu quanto quem nunca viu a série animada anterior, utiliza, em geral referências ao Episódio III e apenas deixa alguns indícios ao tratar de eventos ocorridos no outro desenho. A desconfiança de Kanan – sobrevivente da Ordem 66 – é colocada em destaque e um pluralismo ideológico maior dos clones é abordado, distanciando-os do conceito de que são apenas máquinas de guerra.
Além disso, mais uma vez é reiterado o fato de que os stormtroopers não são mais clones, algo deixado claro inúmeras vezes ao longo do capítulo e, inclusive, utilizado para a construção do humor dentro dos episódios. A primeira parte do arco, The Lost Commanders funciona como um ótimo vínculo entre A Vingança dos Sith e o que vemos na atualidade da série, já a segunda cria interessantes contrastes, colocando uma tecnologia contra a outra, além de criar uma noção de avanço tecnológico ao termos um combate entre um tanque da Velha República e uma versão antiga do temível AT-AT, famoso pela Batalha de Hoth em O Império Contra-Ataca. Aqui temos um ótimo exemplo de fan-service bem inserido que não só funciona para fazer nossos olhos brilharem, como para trazer importantes informações para o universo de Star Wars como um todo.
A utilização desses walkers e o paralelismo com a batalha no planeta gélido anos depois é constantemente reiterado por uma precisa trilha sonora que traz temas clássicos à franquia, mas, especialmente aqueles compostos por John Williams para a batalha do Episódio V. Esses se fazem presentes ora de maneira sutil, ora com toda a força e garantem a sensação no espectador de que estamos assistindo algo intrinsecamente conectado aos filmes. Há uma unidade narrativa quando pensamos na obra como um todo e o showrunner Dave Filoni, juntamente da equipe criativa da Disney, é claro, merecem palmas pela sua construção.
O arco formado por The Lost Commanders e Relics of the Old Republic é, portanto, um resgate ao conflito já longínquo que fora as guerras clônicas. Trata-se de um interessante elo entre a trilogia clássica e a nova que traz muitos fan-services organicamente inseridos e delineia o caminho para essa segunda temporada de Rebels. Mais uma prova do quão essa série merece ser assistida e, se a Força estiver conosco, renovada por muitos anos ainda.
Star Wars Rebels 2X03/4: The Lost Commanders / Relics of the Old Republic (EUA, 2015)
Showrunner: Dave Filoni
Direção: Sergio Paez, Bosco Ng
Roteiro: Matt Michnovetz, Steven Melching
Elenco: Taylor Gray, Vanessa Marshall, Freddie Prinze Jr., Tiya Sircar, Steve Blum, David Oyelowo, Ashley Eckstein, Keone Young
Duração: 23 min cada episódio.