- Há spoilers.
Continuando a série em formato de antologia que começou com Histórias dos Jedi, Dave Filoni apresenta Histórias do Império também com seis partes e também focando em dois personagens com caminhos entrelaçados aos do Império, claro, cada um com três episódios. Nos três primeiros, vemos a queda de Morgan Elsbeth (voz de Cathy Ang), personagem originalmente apresentada no Capítulo 13 de The Mandalorian que, depois, ganhou destaque em Ahsoka, para o Lado Sombrio e, nos três últimos, acompanhamos a história da Jedi Barriss Offee (Meredith Salenger), introduzida em Ataque dos Clones e, depois, desenvolvida em The Clone Wars, após seu aprisionamento pelo atentado à bomba no Templo Jedi.
Para começo de conversa, vou repetir algo que tive a oportunidade de afirmar quando de minhas críticas de The Bad Batch: considero muito ruim o design de personagens biológicos usado em animações de Star Wars desde The Clone Wars e considero a animação em si péssima para movimentação natural dos mesmos personagens. Seria muito mais interessante se Filoni tentasse algo novo, realmente diferente e mais bem acabado, ou que pelo menos adotasse o estilo e animação de Rebels, que são muito superiores. O “estilo The Clone Wars” só funciona bem para naves, equipamentos e androides e, além disso, reutilizar a mesma coisa sempre parece-me pura preguiça criativa.
Desopilado o fígado, vamos aos blocos de episódios.
No primeiro, que, como já disse, é focado em Morgan Elsbeth, a escolha de Filoni foi traçar a trajetória da personagem em três momentos bem distintos em sua vida e na história do universo que conhecemos, com o primeiro episódio passando-se durante as Guerras Clônicas, com a personagem ainda muito jovem tendo seu clã dizimado pelos insuportáveis “Roger Roger” e pelo ridículo General Grievous (Matthew Wood); o segundo anos depois, durante o auge do Império, com ela já como Magistrada tentando vender seu projeto de novos e melhores caças TIE ao Império, que rejeita suas ideias, mas que leva a seu primeiro contato com o ainda não tão barrigudo Almirante Thrawn (Lars Mikkelsen) por intermédio do caninamente fiel Gilad Pellaeon (Xander Berkeley); e, finalmente, depois da queda da Império, com ela em sua fortaleza em Corvus em algum momento anterior à chegada de Mando e Ahsoka recusando-se a aceitar o novo status quo.
Chega a ser curioso como os três episódios são considerável e desnecessariamente autocontidos, literalmente passando a sensação de capítulos soltos na vida de Elsbeth que não conseguem criar uma narrativa única e menos ainda justificar as decisões da personagem. Sim, claro, com um exercício imaginativo forçado, podemos entender o tal “medo leva à raiva; raiva leva ao Lado Sombrio”, mas esse papinho que não foi sequer bem trabalhado com Anakin Skywalker na Trilogia Prelúdio, novamente parece ser algo aleatório e apressado, na base do estalar de dedos, sem um desenvolvimento apropriado da personagem que passa de jovem assustada e perdida a malvadona do pedaço como se esse caminho fosse natural e esperado.
Ainda bem que, nos três episódios seguintes, que seguem fundamentalmente a mesma estrutura de saltos temporais, mas sempre dentro do período do Império, a história de Barriss Offee ganha uma narrativa de queda e ascensão fluida e bem concatenada que logicamente leva a personagem, primeiro, de prisioneira da República à Inquisidora júnior depois de ser recrutada pelo Grão Inquisidor (Jason Isaacs), depois de Inquisidora em dupla com a Quarta Irmã (Rya Kihlstedt) descobrindo o que realmente é uma Inquisição e, finalmente, sua transformação em uma curadeira. Tudo aquilo que Filoni faz de maneira afobada no bloco de Elsbeth, ele acerta no de Offee, fazendo a ex-Jedi trafegar um caminho triste e kafkiano até libertar-se dos grilhões do Império, mesmo que, para isso, o queridinho do público e pupilo preferido de George Lucas use clichês cansados como o momento de realização da malvadeza do mundo pela protagonista e metáforas para lá de batidas, como o labirinto ao final.
A maior vantagem de curtas temporadas em formato de antologia como “Histórias” é dar destaque a personagens canônicos (para não canônicos, temos Visions, em tudo muito superior, mas reconheço que a comparação é injusta até) menos conhecidos e que, portanto, têm menos espaço para desenvolvimento em séries regulares e, nesse aspecto, Histórias do Império acerta mais do que Histórias dos Jedi, já que, lá, dois personagens já bastante trabalhados na mitologia ganharam mais construção. Por outro lado, Histórias do Império não soube lidar bem com o ritmo narrativo de Morgan Elsbeth, mesmo tendo acertado com o de Barriss Offee, o que resultou em uma temporada irregular demais que desperdiçou bastante seu potencial. Agora é ver se haverá mais dessa antologias e, se houver, Filoni não arrisca encomendar designs mais bonitos e computação gráfica mais fluida do que a que ele vem usando há 16 anos…
Star Wars: Histórias do Império (Star Wars: Tales of the Empire – EUA, 04 de maio de 2024)
Criação: Dave Filoni
Direção: Nathaniel Villanueva, Steward Lee, Saul Ruiz
Roteiro: Amanda Rose Muñoz, Nicolas Anasatassiou, Matt Michnovetz
Elenco (vozes originais): Cathy Ang, Matthew Wood, Lydia Look, Daisy Lightfoot, Diana Lee Inosanto, Meg Marchand, Gina Hermosillo, Lars Mikkelsen, Xander Berkeley, Tom Konkle, Warwick Davis, Shelby Young, Wing T. Chao, Katee Sackhoff, Steve Blum, Meredith Salenger, Zeno Robinson, Dee Bradley Baker, Nicolas Cantu, Rya Kihlstedt, Jason Isaacs, Keith Ferguson, Ry Chase, Jordyn Curet, Anna Graves, Keston John, Suzie McGrath
Duração: 93 min. (seis episódios)