Espaço: Alderaan, Coruscant, Hoth, Jelucan, Tatooine, Oulanne, Zeitooine
Tempo: Império Galáctico até queda do regime. Passando pela Trilogia Clássica, até a batalha de Jakku.
Lançado às sombras do “irmão maior”, Marcas da Guerra, livro que prometeu contar importantes detalhes sobre o novo cânone de Star Wars, Estrelas Perdidas começou comendo pelas beiradas e hoje é tido como um dos melhores livros da franquia. Escrito por Claudia Gray, o romance tem uma proposta diferente do convencional da saga, ser uma história desenvolvida para o público jovem-adulto.
Essa proposta torceu o nariz de muitos fãs da saga, desde que a Disney comprou a Lucasfilm, a sombra da romantização e da transformação da franquia em uma história de princesas era algo que assustava muitos apaixonados. Sendo assim, a casa do Mickey foi muito ousada, já que recentemente Claudia Gray deu uma entrevista dizendo que o livro que lhe foi pedido já era originalmente um romance.
Mesmo com uma proposta controversa, Estrelas Perdidas não tem medo de dizer o que é. Logo nas primeiras páginas, ele já apresenta para o leitor clichês do gênero. Mas quem disse que ser clichê é ruim? A autora conhece tão bem sua obra e o ramo que está trabalhando, que consegue colocar algo que já vimos milhões de outras vezes em outras franquias, mas que raramente vimos em Star Wars.
Mesmo estando escondido, o romance sempre foi um grande fator na saga: Han Solo e Leia, o primeiro a ser mostrado e também o mais lindo casal de toda a galáxia. Anakin e Padmé, o amor que deu inicio a tragédia dos Skywalker, Kanan e Hera, Luke e Mara, Obi-Wan e Satine e até a paixão entre droids, R2D2 e C3PO… Brincadeiras a parte, o amor é algo muito presente na franquia, todavia, ele nunca tinha sido tratado como elemento principal da narrativa, aqui ele é.
O livro conta a história de Ciena Ree e Thane Kyrell ambos do planeta Jelucan, a menina (Ciena) nasceu em uma região chamada Vale, local onde os moradores não são apegados a valores materiais, vivem em comunidade e tem a honra e palavra como elemento principal de sua comunidade. O menino, é da alta sociedade do planeta, criado em uma casa totalmente diferente de Ciena, seus pais sempre foram mais ligados ao físico e a fortunas do que ao espiritual.
Ambos são unidos por um único objetivo: se tornarem imperiais. O Império, que é tido como algo ruim para todos os fãs da saga, em Jelucan é considerado o salvador da destruição que as Guerras Clônicas causaram. Isso é um elemento muito interessante inserido por Claudia, para nós, a bandeira vermelha e preta é tida como algo horrível, mas para quem está realmente vivendo as manipulações de Sidious, tudo fica mais nebuloso. Nós já presenciamos aqui, na nossa realidade, ditaduras tomando países e sua população enxergando tudo aquilo como a verdadeira salvação.
Com muito empenho os dois conseguem entrar para a academia Imperial. Não entrarei em detalhes, pois não quero estragar com minhas vãs palavras o livro criado com tanto esmero por Claudia Gray. O que você precisa saber para ter um bom entendimento dessa crítica é que a amizade dos dois cresce muito durante o treinamento que ambos fazem para tentar ingressar no Império. A autora escreve de forma tão segura essa parte que, o que era para ser o mais lento e entediante de sua trama, o temido segundo arco, acaba sendo uma das partes do plot que mais brilham no romance.
Não é apenas no segundo ato da narrativa que vemos os talentos de Claudia Gary, durante todo o novel é possível ver a leveza que a autora escreve. O livro é viciante, o leitor simplesmente não tem vontade de parar de ler e fica triste quando vê que a sua aventura com Ciena e Thane acabou. Outra grande escolha feita pela escritora é o desenvolvimento, não só de ambos os protagonistas, mas também de todos os outros personagens.
Mas talvez a opção mais bem-sucedida do livro é o tempo percorrido por ele. A narrativa percorre grande parte da linha do tempo de Star Wars, começando logo nos primeiros anos do Império e terminando um pouco depois da Batalha de Jakku. Porém, diferente do que é apresentado nos filmes, aqui vemos os acontecimentos pelas lentes dos capacetes de Stormtroopers. Toda a narrativa é vista pela ótica imperial.
Essa inversão acaba transformando aquilo que já vimos em algo totalmente novo. O livro relata a captura de Leia, a destruição de Alderaan, a queda da primeira e da segunda Estrelas da Morte, e até a captura dos planos da grande Arma, que não é uma lua e sim uma nave espacial, é mencionado durante a leitura (trama que acompanharemos em Rogue One).
Tudo isso é apresentado tão bem que faz esses acontecimentos terem um significado totalmente diferente. A destruição de Alderaan, vira uma ato necessário, a Estrela da Morte, se transforma em terrorismo. Tudo isso graças a excelente forma que Gray sabe lidar com seus personagens, ela sabe o que cada um é, e não falha em retratar um pensamento se quer em toda a narrativa.
Estrelas Perdidas é uma linda história de amor em Star Wars. Contrariando as expectativas, Claudia Gray mostra o quanto a saga é abrangente e pode se adaptar a vários gêneros diferentes. O novel nos impressiona, emociona e anima durante todas as suas páginas. No final, os fãs ganharão uma excelente história que não precisa se apoiar em Luke, Han e Leia e em um determinado gênero para se desenvolver.
Hoje vemos que a Disney não quer se prender a esses dois fatores para contar a grande história de Star Wars, O Despertar da Força já foi uma obra que nos apresentou ótimos novos personagens e honrou os “santos” já conhecidos. Agora temos Rogue One: Uma História Star Wars, um filme que promete narrar um conto da saga com uma ótica totalmente diferente do que já apresentado. Fiquemos na expectativa e que, no futuro, a galáxia muito, muito distante possa ser cada vez maior.
Star Wars: Estrelas Perdidas (Star Wars: Lost Stars) — EUA, 2015
Autor: Claudia Gray
Publicação original: 2015
Editora original: Del Rey
Editoras no Brasil: Editora Seguinte
Tradução para português: Fábio Fernandes, Zé Oliboni
Páginas: 444