Por muitos anos, pensava-se que Star Wars: Episódio III – A Vingança dos Sith seria não só o último filme da saga galáctica de George Lucas, mas também a última vez que veríamos John Williams retornar a este universo. Mesmo aqueles que torcem o nariz para a trilogia prequel, precisam admitir a qualidade assombrosa do sexto filme da franquia, que finalmente revela a transformação de Anakin Skywalker no maligno Darth Vader, dando a Williams a chance de criar os mais melancólicos temas de toda a saga.
Como atestei em meu texto sobre Ataque dos Clones, cada filme desta nova trilogia tem um tema musical base: Episódio I com a sinistra Duel of the Fates, Episódio II com a romântica Across the Stars e, finalmente, Episódio III com a trágica Battle of the Heroes. É totalmente centrada na porção trágica do filme, desde a queda da ordem Jedi até o duelo final entre Anakin e Obi-Wan Kenobi, trazendo uma orquestra gigantesca, mas que cresce de maneira triste, resgatando o coral em sânscrito para algo muito mais pessimista, mas que ainda é capaz de criar um espetáculo. Mesmo diante do épico clímax em meio a rajadas de lava e sabres de luz (temos essa seção mais presente em Anakin vs. Obi-Wan), a música de Williams não nos deixa esquecer que esta é a destruição de uma forte amizade e a perdição de um herói. Immolation Scene é uma verdadeira facada para o desfecho do duelo, em que os violinos e violoncelos nos fornecem um tema melancólico e que realmente impacta a cena em questão, fazendo 70% do trabalho de Hayden Christensen.
Ainda no tema de perdição, Williams nos apresenta a um de seus trabalhos com teor mais trágico para a queda da República Ignorando o piano que passaria a usar loucamente para produzir a tristeza em filmes como Lincoln e A Menina que Roubava Livros, o compositor mantém a grande escala e abraça os instrumentos de corda para a tristíssima Anakin’s Betrayal, que logo vai acrescentando um coral trágico para a sequência em que Palpatine dá a Ordem 66, resultando em um brutal extermínio dos Cavaleiros Jedi pela galáxia. Padme’s Ruminations é outra peça brilhante, e o diretor George Lucas felizmente a utiliza isoladamente, dando o tom apropriado para a cena em que Anakin hesita se deve ou não desobedecer seus Mestres Jedi para salvar sua amada Padmé. É um coral sinistro de quase uma nota única, simbolizando todo o mal que viria a seguir.
E por falar em coral, este é o ingrediente principal de The Birth of the Twins and Padme’s Fate, faixa que permeia uma das melhores sequências do longa, quando o nascimento dos gêmeos Skywalker é entrecortado com a transformação de Anakin no lendário Darth Vader. O coral fornecido novamente pela London Voices traz uma lírica pesada e que soa como o final de uma ópera, quase como se encerrasse um arco iniciado com a eletrizante Duel of the Fates.
Não que A Vingança dos Sith dispense totalmente os momentos mais leves e o senso de aventura grandiloquente que Williams sempre representou muito bem. Com os personagens mergulhados nas Guerras Clônicas na primeira metade da projeção, o compositor mantém sua grande orquestra animada, e o maléfico General Grievous rende temas empolgantes, abraçando a selvageria de sua personalidade: General Grevious e Grievous and the Droids adotam tambores quase tribais e instrumentos de sopro fortes, dando o tom para o confronto do líder dróide com Obi-Wan Kenobi. Vale também a menção a Grievous Speaks to Lord Sidious, uma faixa curta, mas que traz um grito de coral absolutamente impecável.
O equilíbrio de tons também é certeiro. Por exemplo, em Enter Lord Vader, a marcha mais pesada para a cena dos líderes separatistas no planeta Mustafar é sutilmente transitada para o acorde mais esperançoso da subtrama de Obi-Wan e Yoda tentando retornar ao Templo Jedi, apenas para novamente termos uma elipse sombria que marca a chegada de Anakin ao planeta vulcânico. Anakin’s Dark Deeds realiza o mesmo feito, dessa vez com um denso coral para inserir no meio de uma orquestra agitada; marcando a criação do Império.
E como A Vingança dos Sith é o filme que enfim conecta diretamente esta trilogia com Uma Nova Esperança, isso quer dizer que muitos temas clássicos estão de volta. A icônica Imperial March já vinha sendo sutilmente sugerida nos episódios anteriores, mas aqui ela é liberada completamente com a passagem de Anakin para o Lado Sombrio. Yoda’s Theme também retorna, para a cena em que o sábio Mestre Jedi é forçado a abandonar a defesa dos Wookies em Kashyyk. Mas é mesmo com A New Hope and End Credits que temos uma arrepiante dose de nostalgia, quando Leia’s Theme toca para mostrar o refúgio da jovem princesa em Alderaan e, claro, quando somos presenteados com Binary Sunset na cena final em que Luke é deixado por Obi-Wan com seus tios Owen e Beirute Lars em Tattooine. A cena aliás, facilmente consegue me levar às lágrimas, pelo simples fato de conseguir estabelecer uma conexão puramente musical entre as duas trilogias, e o jovem Lars segurando em suas mãos a semente que um dia destruiria o Império. Usar Binary Sunset, que tocava justamente quando Luke contemplava o pôr do sol duplo de seu tedioso planeta e sonhava em escapar para algo grandioso, é um golpe de gênio.
E pra não deixar batido, ainda em End Credits, temos uma versão novinha daquela que é sem dúvida alguma uma das melhores faixas da trilogia original: The Throne Room, que marca a coroação dos heróis ao fim do primeiro filme. É uma versão cuja percussão surge consideravelmente desacelerada, mas que não tira o brilho da sensacional composição. Convenhamos, é uma forma apropriada de “se despedir”.
O que John Williams faz com Star Wars: Episódio III – A Vingança dos Sith é algo realmente memorável. Mesmo os haters mais resistentes da trilogia prequel precisam cair de joelhos para o lendário compositor. Ao abordar o lado negro de sua própria criação, fica a nítida epifania de que Star Wars não seria a mesma coisa sem Williams.
Que venha O Despertar da Força, e que o Mestre continue mantendo a Força viva.
Star Wars: Episode III – Revenge of the Sith (Original Motion Picture Soundtrack)
Composto e conduzido por John Williams
País: Estados Unidos
Ano: 2005
Gravadora: Sony Classical
Estilo: Música Clássica, Trilha Sonora