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Crítica | Star Wars: Andor – 1X08: Narkina 5

O cerco se fecha.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Um dos vários aspectos interessantíssimos de Star Wars: Andor é a capacidade que a série tem de transportar o espectador para dentro das engrenagens burocráticas do Império que, em outras obras, conhecemos, apenas, como uma eficiente máquina opressora que tem um gosto particular por superfícies lisas e reflexivas. Na série, o Império continua gostando de tudo muito lustroso, mas, no restante, vemos que a máquina de eficiente não tem nada, um verdadeiro espelho, diria, de todos os governos – ditatoriais ou não – desse nosso planeta azul. A maior prova disso é que Cassian Andor passa a ser caçado pela insistente e solitariamante competente Dedra Meero, do ISB, sendo que ele, como Keef Girgo, já é prisioneiro do Império em Narkina 5, planeta que batiza o episódio.

E a passagem temporal que mencionei como um aspecto negativo em meus comentários sobre o episódio anterior ganha uma boa justificativa que serve para reunir Meero a Karn, com o segundo usando o tempo em seu trabalho repetitivo (novamente, impossível não lembrar de Tempos Modernos e da recente Ruptura) para enviar mensagens sobre Andor. Em qualquer outra série, Karn, em seu desejo por vingança, seria logo recrutado por Meero, mas o episódio, apesar de apontar nessa direção, subverte as expectativas e dispensa Karn, com Meero partindo para intensificar a investigação em Ferrix que a leva a capturar Bix Caleen depois que a jovem tem sua conexão com a Rebelião friamente cortada por uma insistente Kleya Marki que, por sua vez, praticamente sacoleja Luthen Rael para que ele saia de seu torpor.

Falando em subversão de expectativas, é muito corajoso que Narkina 5, imediatamente depois de um episódio que faz de seu protagonista um coadjuvante, repita a dose e foque em Cassian Andor exclusivamente como uma maneira de compreendermos a peculiar prisão de visual peculiar e cuidadoso que lembra THX-1138, em que o chão “eletrificado” é a grande arma do Império e em que os trabalhos forçados ganham uma dimensão instigante ao fazer com que haja uma feroz competição interna com “incentivos” que, mais uma vez, serve de comentário crítico ao capitalismo selvagem. Fui pego de surpresa ao ver Andy Serkis como Kino Loy (seu segundo personagem na franquia, vale lembrar), prisioneiro que comanda a “sala de montagem” em que Andor foi inserido, mas o que realmente quebra aquilo que esperamos do foco no protagonista é que Andor permanece totalmente passivo, ainda que profundamente observador de tudo ao seu redor. Na sequência em que seus “colegas de mesa” estão atrás na competição, tudo é construído de maneira a fazer o espectador crer que Andor, de alguma forma, será o “salvador da pátria”, o sujeito que chega no último segundo para mostrar sua eficiência ímpar e ganhar o respeito de todos ali. Mas não. Ele é apenas mais um prisioneiro completamente perdido e incapaz de demonstrar qualquer tipo de reação que não seja um misto de passividade, surpresa e desespero por estar naquele lugar, sem qualquer tentativa do roteiro de dar pistas sobre como ele sairá de lá.

Há, também, um outro tipo de passividade, esta vista na Senadora Mon Mothma em sua festa luxuosa para atrair votos de seus colegas para colocar os poderes do Imperador em xeque. O jogo político é transmitido novamente com diálogos crípticos, de meias palavras e que são cuidadosamente proferidos como raras pepitas de metal precioso em mais uma demonstração do quão econômicas e ao mesmo tempo tão significativas são as palavras na série. Elas nunca são desperdiçadas e elas simplesmente não existem em abundância, o que só ajuda a construir esse maravilhoso, mas também angustiante e sombrio “cantinho” no universo amplo de Star Wars. Afinal, debaixo de uma ditadura, o “Grande Irmão” sempre observa, sempre está pronto para privar de liberdade todos aqueles que usam a palavra como arma ou mera demonstração de descontentamento.

Além da (re)entrada de Serkis na franquia, temos a primeira aparição cronológica live-action do rebelde radical Saw Gerrera, novamente vivido por um Forest Whitaker, já com diversas marcas de batalha no rosto, mas ainda longe de ser o semi-Darth Vader que vemos em Rogue One. Ele é visitado por um Rael que luta por algum tipo de unificação dos esforços anti-Império e que tenta comprar um favor específico (e misterioso), somente para ser recebido com animosidade por um Gerrera que já demonstra todos os traços de alguém que não negocia um milímetro sequer de seus ideais por absolutamente nada. E, com isso, a série já conseguiu apresentar ao espectador três versões de Rebeldes, o tipo diplomático que joga o jogo de longo prazo, representado por Mon Mothma; o tipo que cansou de se esconder sob figurinos espalhafatosos e decidiu arregaçar as mangas para precipitar ações repressoras do Império, representado por Luthen Rael; e, finalmente, o radical constantemente entrincheirado, representado por Saw Gerrera e como essas posições que, em linhas gerais, têm exatamente os mesmos objetivos, não conseguem reunir esforços com um fim comum, o que acaba, no processo, sacrificando um número maior de vidas do que o que seria verdadeiramente necessário.

Star Wars: Andor, com Narkina 5, mais uma vez faz aquilo que diferencia a série de todas as outras séries e filmes da franquia e também de outras franquias deste porte: ela vai no detalhe, com toda a calma da galáxia, dos meandros políticos e burocráticos de um rico e complexo universo que brilhantemente cria a cada novo episódio. Tenho plena consciência de que a série não agrada a todos por não fazer nada que seja mero denominador comum, ou seja, sequências de ação atrás de sequências de ação, de preferência com arminhas e espadinhas, mas é aí que está seu verdadeiro valor e coragem. Confesso que já estou em pré-abstinência por só faltarem quatro episódios para o final da temporada…

Star Wars: Andor – 1X08: Narkina 5 (EUA, 26 de outubro de 2022)
Desenvolvimento: Tony Gilroy
Direção: Toby Haynes
Roteiro: Beau Willimon
Elenco: Diego Luna, Kyle Soller, Denise Gough, Malcolm Sinclair, Anton Lesser, Andy Serkis, Duncan Pow, Christopher Fairbank, Clemens Schick, Brian Bovell, Tom Reed, Josef Davies, Rasaq Kukoyi, Genevieve O’Reilly, Alastair Mackenzie, Ben Miles, Fiona Shaw, Joplin Sibtain, Adria Arjona, Dave Chapman, Faye Marsay, Varada Sethu, Stellan Skarsgård, Elizabeth Dulau, Forest Whitaker
Duração: 56 min.

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