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Crítica | Star Trek: Strange New Worlds – 2X04: Among the Lotus Eaters

Planeta estranho, com gente esquisita, eu não tô legal...

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série e, aqui, de todo nosso material sobre Star Trek.

Depois de alguns episódios mais, digamos, intimistas, Strange New Worlds nos oferece o primeiro “planeta estranho da semana” desta temporada com Among the Lotus Eaters. Com conexão direta à The Cage, o primeiro piloto da Série Original, o quarto episódio da segunda temporada acompanha a tripulação da Enterprise retornando à Rigel VII, um local em que uma missão capitaneada por Pike deu errado, com tripulantes morrendo e tecnologia avançada ficando para trás. Como consequência, há contaminação cultural no planeta, afetando a Primeira Diretriz. Em síntese, Pike e a Enterprise recebem uma missão para arrumarem sua bagunça.

Apesar de Tomorrow and Tomorrow and Tomorrow conter uma história de viagem no tempo, Among the Lotus Eaters é o primeiro episódio do segundo ano com características mais claras de aventura e exploração. O design de produção faz um ótimo trabalho com os cenários e vestimentas que misturam elementos estéticos do feudalismo com as bizarrices da ficção científica. A direção de Eduardo Sánchez mescla filmagens em locações com bons usos de CGI, mas o destaque das habilidades do diretor é vista quando extrai o máximo possível de um roteiro que preza uma narrativa angustiante por conta de uma anomalia no planeta.

A tripulação se vê afetada pela misteriosa radiação em Rigel VII, que apaga suas memórias, removendo qualquer senso de contexto ou continuidade, apesar dos personagens não esquecerem elementos básicos de comunicação e informação. O conceito e a lógica interna dos efeitos dessa radiação oscilam durante o episódio, mas, como disse, Sánchez e a produção como um todo fazem um ótimo trabalho para transpor a angústia da perda de memória, com cortes rápidos da edição, montagem que pula segmentos inteiros, sequências trêmulas e desfocadas, e, claro, os incômodos zumbidos. É uma narrativa que chega a ser desconfortável, o que é propositalmente ótimo e chega a me lembrar o agoniante Memento Mori, além de que o texto captura nossa atenção ao longo de toda a história para descobrirmos como será a resolução do mistério, apesar de não termos um clímax propriamente dito.

A explicação da radiação é efetivamente simples, assim como a solução (chegar no castelo protegido), mas também satisfatória e coerente dentro das regras do episódio. A parte mais interessante é justamente a jornada e a maneira como a anomalia afeta os personagens. O artifício de ser “guiado pelas emoções” abre algumas portas interessantes para trabalhar os personagens dramaticamente, principalmente Pike retornando aos holofotes, mantendo o traço sentimental da temporada. Nesse sentido, chegamos a ter mensagens bonitas e tradicionais sobre a importância da dor, do passado e de como tudo o que nos molda é necessário para nosso progresso (como indivíduos e sociedade). Posso até estar forçando a barra, mas vejo algumas propriedades no argumento sobre História e a importância de “não queimar livros“.

No entanto, como usual, vejo alguns problemas no episódio. Penso que o conceito de exploração e aprendizado da sociedade poderia ter sido melhor desenvolvido para além do sistema feudal e algumas linhas de diálogo expositivo do nativo Luq (Reed Birney) falando sobre totens, mitologia e o funcionamento interno da comunidade. Sou mais fã do mostre e não fale, então fiquei incomodado com isso, sendo que, na minha opinião, todo o bloco na Enterprise poderia ter sido facilmente descartado para focar em Rigel VII. Inclusive, o arco de Ortegas é estranho, neste sentido “sou apenas a piloto e está tudo bem”, apesar de entender a ideia da importância de cada ofício na nave, assim como Spock é subutilizado em uma história efetivamente sobre esquecer fatos e ser guiado por emoções; adoraria ter visto mais do vulcano neste cenário peculiar.

Mesmo com as minhas queixas chatas, Among the Lotus Eaters é um episódio de muita qualidade e atributos especiais da sempre divertida Strange New Worlds. É bom ver Pike retornando ao protagonismo e recebendo evolução dramática; é bom ver um episódio sobre um planeta estranho com uma anomalia esquisita, cheio de peculiaridades narrativas e visuais; é bom ver a produção encontrando no desconfortável uma virtude narrativa; e é bom ver elementos como a Primeira Diretriz, o contato contaminado da Frota Estelar e tripulantes corrompidos aparecendo para cutucar as regras utópicas da Federação. Em uma história angustiante e fundamentada em ficção científica para os fãs tradicionais tirarem o rosto mal-humorado, Among the Lotus Eaters também mantém a toada emocional da temporada até aqui.

Star Trek: Strange New Worlds – 2X04: Among the Lotus Eaters (EUA, 06 de julho de 2023)
Desenvolvimento: Akiva Goldsman, Jenny Lumet, Alex Kurtzman (baseado em personagens criados por Gene Roddenberry)
Direção: Eduardo Sánchez
Roteiro: Kirsten Beyer, Davy Perez
Elenco: Anson Mount, Ethan Peck, Jess Bush, Christina Chong, Celia Rose Gooding, Melissa Navia, Babs Olusanmokun, Rebecca Romijn
Duração: 61 min.

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