- Há spoilers. Leia, aqui, as críticas dos demais episódios e, aqui, de todo nosso material sobre Star Trek.
Para todos os problemas de caráter infantil, clichê e genérico de Star Trek: Prodigy, é preciso tirar o chapéu para o desenvolvimento orgânico da série dentro da sua proposta de apresentar ST para o elenco principal (e para as crianças que assistem), assim como tornar o grupo desconjuntado da animação em uma tripulação digna da Frota Estelar. Os showrunners não passaram por todos os conceitos da franquia (nem de perto), mas trouxeram as bases fundamentais e muitos princípios da mitologia de ST.
Estou fazendo essa pequena retrospectiva porque o nono episódio da temporada tem um ar de graduação conceitual. Após aprenderem sobre a nave, sobre si mesmos, sobre o vasto universo e sobre vários regimentos da Federação, e, no episódio anterior finalmente se tornarem uma tripulação, os membros da Protostar se encontram com o seu maior dilema: se sacrificarem pela vida dos outros ou simplesmente fugirem? É a principal essência de ser um oficial da frota, e como Janeway bem pontua, os personagens fazem a escolha difícil. E até ganham um uniforme de formatura, inspirado nos trajes de voo de Voyager, compostos por uma estética simples, mas com uma aparência militar que achei muito bacana.
Após estarem devidamente uniformizados, o grupo parte na missão de se render ao Diviner e entregar a Protostar em troca da vida dos seres em Tars Lamora – chantagem narrativamente conveniente, mas tudo bem. Primeira parte de um episódio duplo com cara de season finale (mas possivelmente será um hiato, ainda não tenho certeza), o nono episódio é como uma pequena introdução para o clímax. Como reclamei por dezenas de vezes nas críticas, a construção da aventura é básica ao ponto da chatice, sem momentos ousados e/ou criativos para a missão, mas por ter um aspecto introdutório, situar a narrativa em torno de decisões morais (tanto do grupo quanto de Gwyn em ir com o pai) e um ótimo caráter simbólico (os trajes e a destruição da insígnia), consigo ver o episódio com melhores olhos, sendo uma ponta para o que espero ser um ótimo clímax semana que vem.
No mais, é surpreendente como, de certa forma, me importo com os dramas de alguns personagens nesse ponto da série e nos riscos do episódio, mesmo sendo extremamente simples e tendo reclamado que os jovens eram estereotipados. Rok com seus desdobramentos recentes, Gwyn com o conflito familiar (apesar de achar o Diviner maniqueísta e desinteressante até aqui) e Dal com o subtexto de escravidão (facilmente esquecido dado o tom leve da série), são linhas narrativas bem desenvolvidas – no entanto, Jankom é basicamente um alívio cômico, enquanto Zero continua sendo desperdiçada.
Como o título do nono episódio indica, somos brindados por difíceis escolhas morais da nossa tripulação, agora maduros para trabalharem juntos em prol do bem comum. Finalizando o episódio em uma interessante (ainda que previsível) reviravolta, delineando o embate climático da segunda parte de A Moral Star, estou genuinamente ansioso pelo desfecho da situação. Tenho ressalvas, desde a contínua falta de criatividade aventureira, o fato da trama do passado da Protostar e Chakotay serem jogados pra frente novamente, até o receio de que, agora com todo o lance de “apresentação” até certo ponto completo, a série não tenha para onde ir. Ainda assim, sempre faço um esforço para ver Prodigy por uma ótica infantil, e nesse sentido, seu público-alvo está bem servido com um grupo muito bacana de acompanhar nessa reta final da primeira temporada.
Star Trek: Prodigy – 1X09: A Moral Star – Parte 1 | EUA, 27 de janeiro de 2022
Showrunners: Kevin Hageman, Dan Hageman
Direção: Sung Shin, Olga Ulanova
Roteiro: Kevin Hageman, Dan Hageman (baseado na obra de Gene Roddenberry)
Elenco (vozes originais): Brett Gray, Ella Purnell, Jason Mantzoukas, Angus Imrie, Rylee Alazraqui, Dee Bradley Baker, Jimmi Simpson, John Noble, Kate Mulgrew
Duração: 24 min.