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Crítica | Star Trek: Picard – Contagem Regressiva

por Ritter Fan
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É quase que uma regra: hoje em dia, tie-ins em quadrinhos de filmes ou séries de TV na forma de prelúdios ou adaptações não são muito mais do que caça-niqueis que pouco ou nada acrescentam à mitologia e parecem obras apressadas, feitas de qualquer jeito só para cumprir tabela. Mas, ainda bem, toda regra tem exceção e o prelúdio de Star Trek: Picard, lançado como uma minissérie de três edições pela IDW Publishing, é uma grata surpresa.

A editora tem os direitos sobre a franquia Star Trek há alguns anos e tem feito um trabalho bastante abrangente sobre esse vasto universo, incluindo obras que complementam a também recente Star Trek: Discovery, mas sem jamais esquecer das séries clássicas. Era de se esperar, portanto, que Star Trek: Picard ganhasse algum tratamento em quadrinhos e a decisão de se fazer uma história que se passa antes da série faz absolutamente todo sentido possível considerando o “vácuo” que existe entre Jornada nas Estrelas: Nêmesis e o velho Jean-Luc Picard, agora almirante, saindo de sua aposentadoria no bucólico Château Picard.

Os eventos abordados no breve prelúdio, portanto, tratam diretamente de um momento marcante na carreira do capitão, quando ele saiu do comando da Enterprise para o comando da U.S.S. Verity, nos esforços para evacuar os romulanos de seu império, agora ameaçado pela supernova de seu sol. Tendo como imediato a especialista em cultura romulana, comandante Raffi Musiker, Picard logo se encarrega de viajar até Yuyat Beta, colônia romulana que a Frota Estelar sequer sabia de sua existência, para retirar de lá 10 mil colonos. Toda a primeira edição é dedicada à contextualização desse novo status quo para Picard, com o cuidado de tornar bastante explícita a animosidade das autoridades romulanas em relação à evacuação de seus planetas, já que esses esforços são vistos não como uma estratégia humanitária, mas sim como um engodo para a dominação do império pela Federação dos Planetas. Ou seja, são os romulanos sendo romulanos.

O que parece ser uma missão razoavelmente corriqueira para Picard, que vinha se dedicando a esses esforços há quatro anos, logo se complica quando o almirante descobre que há quatro ou cinco milhões de seres nativos de Yuyat Beta que foram escravizados pelos romulanos e que os romulanos, comandados pela Governadora Shiana, não querem que seja evacuados. Picard sendo quem é não demora e entra em conflito com seus anfitriões, somente para envolver-se em uma revolta que conta com a ajuda do casal romulano Zhaban e Laris que, na série, são os ajudantes de Picard em seu vinhedo e que, aqui, ganham uma interessante história pregressa como agentes do Tal Shiar, grupo dissidente secreto com ambiciosa agenda própria.

Kirsten Beyer e Mike Johnson têm uma tarefa ingrata na minissérie, pois ela é curta demais para o tamanho da história que criaram. Mas há que comendá-los pelo seu poder de concisão nas três curtas edições que trabalham desde a contextualização necessária, até as várias reviravoltas que a missão de paz de Picard passa ao longo das pouco mais de 100 páginas. O texto é célere, ainda que por vezes – especialmente no começo – seja carregado de exposição, algo que reputo inevitável considerando o pouco espaço que a IDW conceceu aos roteiristas. Por outro lado, há momentos em que a velocidade narrativa dá espaço para conveniências que claramente só existem para resolverem os imbróglios criados, como a forma fácil demais com que Picard toma de volta a Verity (se é que posso chamar isso de “tomar de volta”) e como tudo acaba em um piscar de olhos. Talvez seja o melhor que pudesse ser feito em tão pouco tempo, mas, por outro lado, é uma pena que essa correria tenha atrapalhado uma história potencialmente magnífica.

Seja como for, como um prelúdio de série de TV, Beyer e Johnson entregam uma obra realmente relevante, que não só joga luz sobre momento importante – e até agora não visto – sobre o passado de Picard pós-Nêmesis, como também desenvolve uma origem robusta para Zhaban e Laris, indo muito além de “dois romulanos que o almirante salvou”, além de permitir alguma contextualização para a comandante Raffi Musiker, que entra na série no final do segundo episódio. A arte de Angel Hernandez, por sua vez, é apenas burocrática, com alguns visuais bonitos, mas nada terrivelmente original ou memorável, ainda que ela seja eficiente o suficiente para a proposta dos roteiristas.

O prelúdio em quadrinhos de Star Trek: Picard revela um potencial enorme para mais histórias sobre esse período na vida de Jean-Luc Picard como capitão da U.S.S. Verity e abre os horizontes para a própria série sobre o personagem saindo de sua aposentadoria. Um grande acerto da IDW e, sem dúvida alguma, uma bem-vinda exceção à regra dos tie-ins desapontadores.

Star Trek: Picard – Contagem Regressiva (Star Trek: Picard – Countdown, EUA – 2019/29)
Contendo: Star Trek: Picard – Countdown #1 a 3
Roteiro: Kirsten Beyer, Mike Johnson
Arte: Angel Hernandez
Cores: Joana Lafuente
Letras: Neil Uyetake
Editoria: Chase Marotz
Editora original: IDW Publishing
Data original de publicação: novembro e dezembro de 2019 e janeiro de 2020
Páginas: 107

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