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Crítica | Star Trek: Picard – 3ª Temporada

Reunindo a Nova Geração.

por Kevin Rick
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  • spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série e, aqui, de todo nosso material sobre Star Trek.

Depois de um primeiro ano razoável e uma segunda temporada desastrosaStar Trek: Picard decidiu jogar seguro em sua última temporada, trazendo os antigos companheiros de Jean-Luc Picard (Patrick Stewart) para uma aventura final que serve mais como uma carta de amor para Star Trek: The Next Generation do que necessariamente um desfecho para o enredo desta nova série. O fanservice e a nostalgia sempre fizeram parte da identidade da obra, mas é a terceira temporada que abraça o sentimento de reunião da equipe composta por Picard, Geordi La Forge (LeVar Burton), Worf (Michael Dorn), Riker (Jonathan Frakes), Data (Brent Spiner), Troi (Marina Sirtis) e Beverly Crusher (Gates McFadden).

Ainda que narrativas nostálgicas não sejam necessariamente ruins, utilizar a memória afetiva do público se tornou uma muleta comum para histórias que são construídas em torno de justificar a presença de antigos personagens e referências. Podemos ver muito disso nessa temporada, com aparições convenientes e mal estruturadas da velha tripulação de Picard para termos interações forçadas, repetições de piadas e frases de efeito conhecidas pelos fãs, combates com inimigos conhecidos e velhas brigas/traumas florescendo. Cada vez que uma das faces famosas e enrugadas retorna, a câmera faz uma parada e foca no retorno de tal personagem, enfatizando como a presença deles é mais importante do que qualquer qualidade de trama.

Por um lado, tudo me parece um desperdício do interessante conceito inicial de Star Trek: Picard, que é a progressão da história de Picard com uma nova equipe, explorando o passado, o presente e o legado do personagem com diferentes interações. Claro que a maioria dos coadjuvantes da série nunca deixaram uma marca até aqui, mas a concepção do seriado sempre me soou como um novo passo corajoso para o arco do capitão shakespeariano. Ver que os antigos personagens da série são escanteados, com muitos deles sequer fazendo uma aparição na temporada final, é, no mínimo, estranho, ainda mais quando vemos como Raffi (Michelle Hurd) está deslocada na temporada em seu vazio e superficial arco de mistério com Worf.

Por outro lado, ao abraçar de vez a nostalgia, a terceira temporada faz um trabalho melhor com o fanservice que vinha sendo problemático nos anos anteriores, principalmente na temporada de estreia. Ao invés de termos personagens queridos pipocando como fillers que desviam fortemente a história principal, os antigos rostos e motifs de The Next Generation são incorporados como o centro da história, não apenas reunindo a velha gangue, como também reinterpretando muitos deles. Worf é um mestre Zen; Riker está de luto por trás de seu humor; La Forge ama mais a família do que a engenharia; e Data é quase um ser humano.

Essa abordagem de “inversões de papéis” ou simples evoluções e mudanças com a idade cria uma série de momentos interessantes, como quando Picard está sob a liderança de Riker em uma situação impossível, no que é um dos atritos dramáticos que mais gostei na série. Até mesmo os vilões entram na brincadeira, com os Changelings sendo geneticamente modificados e a Rainha Borg com uma nova filosofia “coletiva” bastante extremista, no que se torna um plot twist curioso nos episódios finais. Trazendo de volta antagonistas famigerados como os metamorfos e os Borg, a série realmente almeja agradar os fãs da série, mas entendendo que não pode ser o mais do mesmo.

A linha dramática mais interessante é a de Picard, que agora precisa compensar anos de atraso com o filho que não sabia que tinha, Jack Crusher (Ed Speleers), com uma ligação entre os dois e a Rainha Borg. Chama a atenção acompanhar o Picard nesse papel paterno enquanto lida com suas relações de amizade e a “traição” de Crusher, com Stewart entregando mais uma grande performance, provavelmente a mais vulnerável que vimos dele com o personagem. O argumento sobre legado continua em tópico e, apesar de muitos vezes se tornar óbvio em diálogos expositivos sobre velhice e passado, mantém o seriado com conflitos engajantes sobre morte, arrependimento e traumas do tempo.

Obviamente que, com as limitações dos roteiristas da série, não assistimos nada narrativamente notável. A complexidade moral da história é rasa e a aventura em si, como já disse, é uma série de justificativas muitas vezes forçadas para reunir o elenco original, sendo que a ação não tem muito destaque, apesar dos efeitos especiais estarem melhores do que o ano anterior. O principal demérito fica com o inchado combate com os Changelings, que mais parece uma aventura semanal esticada em diversos episódios com uma antagonista que nunca realmente entendemos, interpretada por Amanda Plummer.

Mas o terceiro ano de Star Trek: Picard atinge com esmero muitas notas sentimentais, principalmente para quem cresceu assistindo esses personagens e tem um afeto com o grupo. O apelo emocional, porém, só te leva até um certo nível de qualidade quando se está lidando com uma narrativa tão nostálgica, razão pela qual a escolha dos roteiristas em mostrar facetas falhas e erros desses personagens queridos é razoavelmente certeira. Confesso que até gostaria de ter visto mais dessa interações entre os personagens, porque vemos pouco do Data semi-humano ou da Crusher arrependida, mas valeu a pena assistir o adeus, ou pelo menos um até logo, da equipe de The Next Generation e seu legado, mesmo com seus diversos defeitos e em detrimento do que Star Trek: Picard inicialmente oferecia.

Star Trek: Picard – 3ª Temporada (EUA, de 16 de fevereiro a 20 de abril de 2023)
Criação: Kirsten Beyer, Akiva Goldsman, Michael Chabon, Alex Kurtzman (baseado em personagens criados por Gene Roddenberry)
Direção: Douglas Aarniokoski, Jonathan Frakes, Dan Liu, Deborah Kampmeier, Terry Matalas
Roteiro: Terry Matalas, Kirsten Beyer, Akiva Goldsman, Michael Chabon, Alex Kurtzman
Elenco: Patrick Stewart, Michelle Hurd, Jeri Ryan, LeVar Burton, Michael Dorn, Jonathan Frakes, Brent Spiner, Marina Sirtis, Gates McFadden
Duração: XXX min. (dez episódios)

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