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Crítica | Star Trek: Picard – 2X07: Monsters

A fábula traumática de Picard.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série e, aqui, de todo nosso material sobre Star Trek.

Como esperado, Monsters é um mergulho na mente de Jean-Luc Picard para descobrirmos seus demônios internos. Em primeiro lugar, resolver o trauma infantil do protagonista sem fazer qualquer ligação com o plano de Q é uma escolha duvidosa e que proporciona um péssimo gosto arbitrário para a narrativa. Afinal, quando a temporada começou, tudo parecia estar conectado ao passado, com a infância de Picard e algum tipo de drama do antagonista com o tempo, ligados em torno do “teste” na Los Angeles contemporânea.

Agora, todos aqueles flashbacks do protagonista e sua mãe são resolvidos como uma subtrama, de maneira rápida e sem impacto dramático com a pseudo-terapia de Picard com seu pai imaginário. E ainda por cima sem explorar com mais cuidado e emoção a relação entre mãe e filho, e sem dar sentido lógico para a intrusão da ancestral de Laris na mente do personagem. Enfim, a sensação não recompensadora dessa trama é decepcionante, e dá a impressão de que tudo se resolveu apenas para Picard descobrir que a protetora de Renée é uma romulana, e assim os roteiristas podem continuar enfiando o estranho romance dos dois na história.

Em segundo lugar, as sequências na mente de Picard são bem ruins. A equipe criativa tenta misturar fantasia com ficção científica (se é que o show ainda tem isso), o que é… interessante, por assim dizer, mas que visualmente e narrativamente parece fora de tom. Tem um lance de fábula mesclada com uma fotografia escura que tenta expressar esteticamente os “cantos escuros” da mente de Picard, mas tudo acaba sendo muito feio por causa do péssimo design de produção e também a direção sem criatividade para proporcionar urgência em torna da ação ou sensação onírica com o ambiente. Todo o desenrolar da “aventura” é mais tedioso do que qualquer outra coisa.

E isso me leva a mais um reclamação: as sequências de clichês terapêuticos com Picard, do tipo “olhe para dentro” ou “enfrente seus medos”. Ora, faça-me o favor. Os roteiristas me citaram Hamlet no começo da temporada, indicando algum tipo de tragédia poética em torno do arco do protagonista, e agora entregam para a audiência esses diálogos óbvios, bobos, didáticos e autoexplicativos? Estou mais do que cansado em ver personagens sentados e conversando sobre conflitos e elementos de trama que deveriam ser trabalhados, resolvidos num processo narrativo, e não simplesmente falados e narrados o tempo todo. Tudo nessa série se resolve de forma literal, com Picard papeando com alguém, seja seu pai imaginário, seja Guinan na segunda metade do episódio.

Mostre, não fale. Nos envolva na história para que possamos refletir sobre os conflitos desses personagens. Chega a ser um insulto à inteligência do espectador por parte dos roteiristas ao mastigar tudo aos mínimos detalhes. Sem falar nas desinteressantes tramas secundárias, com a dupla dinâmica de Sete de Nove e Raffi procurando uma Jurati que destrói vidros (uau!) em vídeos de câmera de segurança (esses roteiristas não tem noção do que é boa aventura), e, pior ainda, Ríos que ficou subjugado a uma trama de flerte a temporada toda, arriscando toda a missão por causa disso (situação bem fora do personagem rígido que ele era no início da série). E tudo fica ainda pior quando notamos que Monsters não traz progresso para a história principal, deixando Q e a trama de Renée marinando enquanto Picard fica de bate-papo com cada figura que aparece, para que, no final, vejamos o novo antagonista da história: o FBI. Uhul… Reviravolta tão boa quanto a deportação de Ríos ou Picard sendo atropelado…

Star Trek: Picard – 2X07: Monsters (EUA, 14 de abril de 2022)
Desenvolvimento: Kirsten Beyer, Akiva Goldsman, Michael Chabon, Alex Kurtzman (baseado em personagens criados por Gene Roddenberry)
Direção: Joe Menendez
Roteiro: Jane Maggs
Elenco: Patrick Stewart, Alison Pill, Evan Evagora, Michelle Hurd, Santiago Cabrera, Isa Briones, Jeri Ryan, Orla Brady, Annie Wersching
Duração: 57 min.

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