- Há spoilers. Leia, aqui, as críticas dos demais episódios e, aqui, de todo nosso material sobre Star Trek.
Em sua última temporada (oh céus, oh vida, oh azar…) Lower Decks está vindo com tudo, talvez para justamente mostrar que poderia ficar no ar por pelo menos duas temporadas para empatar o máximo de temporadas que uma série da franquia já teve. Dos Cerritos e Shades of Green já chegaram chutando a porta e, agora, The Best Exotic Nanite Hotel reúne a equipe de “subalternos” em uma aventura dupla em um gigantesco resort espacial, com Mariner, Tendi, T’Lyn e Rutherford tentando capturar um enxame de nanitas que se alimenta de energia e Boimler, convocado por Ransom, parte para localizar um almirante da Frota Estelar que teria abandonado seu posto e se refugiado no local. Mas o que faz o episódio realmente funcionar não são os objetivos das missões, como de praxe, mas sim o que essas missões permitem abordar.
Na primeira delas, o foco fica em Mariner e sua dificuldade com relacionamentos e seu receio de criar conflitos interpessoais, já que quem se junta ao grupo é, para seu desespero, Jennifer “Jen” Sh’reyan (Lauren Lapkus), a andoriana que era sua namorada e que ela havia encerrado o relacionamento sem realmente encerrar. A interação entre as duas, com Jen toda amorosa e Mariner cada vez mais envergonhada toma conta de toda a missão e faz com que o restante do grupo fique em segundo plano. No entanto, essa dinâmica funciona muito bem, pois o roteiro não só não se esquece da trinca de amigos, como faze com que eles sirvam de conselheiros de relacionamento para Mariner com especial destaque – pasmem – para a vulcana T’Lyn que, ainda por cima, contra todas as probabilidades de sua mente lógica, é revelada como tiete de um músico que faz apresentações no hotel. E o melhor é a revelação, ao final dessa linha narrativa, de que Jen estava, na verdade, trollando Mariner para forçá-la a oficialmente encerrar o namoro, como uma forma de lição.
Na segunda história, Ransom, Billups e Boimler disfarçam-se de turistas em férias para achar o almirante, mas Boimler, que ainda está deixando sua barba crescer, vale lembrar, acha que ele está sendo usado como bucha de canhão – ou, no lore de Star Trek, Camisa Vermelha – para os momentos de maior perigo, o que o faz hesitar e a constantemente duvidar das intenções de Ransom, algo que só funciona como gatilho para ele inadvertidamente meter-se nas maiores encrencas, como descer a montanha nevada mais perigosa (em uma sequência que só faltou ser ao som da música tema de James Bond) ou conversar com alienígenas sem levar em consideração seus costumes. Quando o Almirante Milius (Toby Huss), cujo nome, claro, já era toda a pista necessária para saber como o assunto seria abordado, é finalmente encontrado e justifica sua fuga da Frota por ter recebido ordens para ordenhar baleias espaciais (he, he, he), o episódio reencena de maneira concisa, mas absolutamente brilhante e incrivelmente fiel, a interação entre o Capitão Benjamin L. Willard e o Coronel Walter Kurtz no seminal Apocalpyse Now. Tem que ter muita imaginação e uma sagacidade enorme para imaginar e executar uma sequências dessas em uma animação de ficção científica sem distorcer nem o material fonte e nem o espírito da série, mas é isso que o roteiro de Stephanie Amante-Ritter (por favor, leiam o “obs” ao final da crítica!) e a direção de Brandon Williams conseguem fazer sem falhas.
The Best Exotic Nanite Hotel é mais um hilário e muito bem concatenado episódio da série que mostra novamente que Mike McMahan sabe como ninguém lidar com histórias paralelas com direito até à convergência surpresa final, tropos narrativos da franquia como um todo e, claro, citações à cultura pop que são quase inacreditáveis de tão bem feitas. Faltam apenas sete episódios para a série acabar e eu já estou triste só de imaginar que, ano que vem, não terei mais Lower Decks para aguardar ansiosamente.
Obs: Apesar dos rumores, a roteirista NÃO é minha amante!!!
Star Trek: Lower Decks – 5X03: The Best Exotic Nanite Hotel (EUA, 31 de outubro de 2024)
Showrunner: Mike McMahan
Direção: Brandon Williams
Roteiro: Stephanie Amante-Ritter
Elenco (vozes originais): Tawny Newsome, Jack Quaid, Noël Wells, Eugene Cordero, Dawnn Lewis, Jerry O’Connell, Fred Tatasciore, Gillian Vigman, Gabrielle Ruiz, Paul Scheer, Lauren Lapkus, Toby Huss
Duração: 26 min.