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Crítica | Star Trek: Lower Decks – 5X01 e 02: Dos Cerritos / Shades of Green

A fronteira final.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leia, aqui, as críticas dos demais episódios e, aqui, de todo nosso material sobre Star Trek.

Star Trek: Lower Decks, mais conhecida como a melhor, mas ao mesmo tempo mais ignorada série da leva nova da franquia na TV (e uma das melhores no geral), retornou para sua 5ª e infelizmente última temporada seguindo a linha do 4º ano, ou seja, com dois episódios lançados no mesmo dia. Fiquem, portanto, com as críticas de cada um dos episódios:

5X01
Dos Cerritos

O primeiro episódio da nova temporada de Lower Decks brinca duplamente com o conceito de duplos, algo mais comum do que colocar os phasers para atordoar na franquia Star Trek, primeiro usando a batida anomalia espacial genérica que abre as portas para outro universo e, segundo, lidando com os órions verdes, a representação mais comum deles, em oposição aos órions azuis, que tiveram sua primeira aparição, não coincidentemente, na série animada original, da década de 70. Com isso, as duas linhas narrativas conversam tematicamente, mas têm execuções refrescantes e completamente diferentes, mantendo o episódio dinâmico o tempo todo.

Na história que ocorre na Cerritos – ou melhor, nas duas Cerritos – vemos a tripulação que conhecemos lidar com uma tripulação de uma realidade paralela que é quase totalmente igual, diferenciando-se pelos tons dos uniformes e algumas características específicas dos personagens, como o penteado do Shaxs Duplo, a barba do Boimler Duplo e a vestimenta de realeza do Billups Duplo, a quase completa robotização do Rutherford Duplo e por duas grandes diferenças, a ausência completa da Capitã Carol Freeman e a presença autoritária da Capitã Beckett “Becky” Mariner, que é um exato oposto em atitude à Mariner Prime. O objetivo é simples, fazer com que a Cerritos Prime retorne ao seu universo, algo que exigirá o trabalho conjunto dos dois grupos e o que é genial na estrutura narrativa é justamente o fato de todos ali serem . A jogada genial é que não há conflitos abertos entre as duas tripulação justamente por elas serem muito parecidas em tudo o que fazem, com apenas Becky entrando em conflito com Mariner, claro.

Na segunda história, vemos D’Vana Tendi, que retornara ao seu título de Senhora das Constelações de Inverno no final da temporada anterior, em uma missão estabelecida por sua irmã D’Erika, comandando uma tripulação de três guerreiras Órion, para recuperar uma relíquia, mas muito claramente sofrendo por ter deixado a Frota Estelar e fazendo de tudo para seguir um código moral. A inteligência dessa segunda história é mostrar que sua próprias subordinadas têm sonhos não relacionados com pirataria e/ou violência e colocar na mesa uma missão final – de recuperação de uma nave média Órion há muito perdida – que a coloca em conflito com os Órions azuis, conflito esse que escala para uma declaração de guerra entre os povos e a escolha, pela própria Tendi, de ficar ao lado da irmã por mais tempo, até que a paz volte a reinar, o que impede que um acontecimento importante para a personagem seja magicamente desfeito logo no começo da temporada, o que é sempre algo bem-vindo.

Dos Cerritos é um episódio exemplar na forma como conta duas histórias tematicamente alinhadas, mas completamente separadas, que conseguem manter o espectador interessado em cada uma delas, sem que seja fácil identificar a narrativa “menos importante”. O roteiro é cuidadoso em criar histórias completas, independentes e importantes para a série como um todo, a primeira lidando com o que pode ser “um futuro” de Mariner se ela caminhar na direção da capitania de uma das naves da Frota (além dos vislumbres do potencial de Boimler e o que Rutherford pode se tornar sem Tendi ao seu lado) e outra desenvolvendo Tendi ainda mais em seu lado Órion de ser. Se eu tenho uma reclamação é que cada uma dessas linhas narrativas merecia seu próprio episódio para ser desenvolvida com os detalhes que precisava. Seja como for, esse foi, definitivamente, um grande começo para a derradeira temporada de Lower Decks!

5X02
Shades of Green

E, fazendo uma bela dobradinha com o primeiro episódio da temporada, Shades of Green desenvolve elementos introduzidos por lá e, dividindo a narrativa desta vez em três, lida com Mariner e Boimler em um vértice, Rutherford e T’Lyn em outro e, finalmente, as irmãs D’Vana e D’Erika no terceiro, criando mais uma vez histórias independentes que surpreendentemente convergem no encerramento, criando um bem trabalhado início do fim da série. Na verdade, estes dois episódios tão bons logo no começo da derradeira temporada de Lower Decks acaba deixando um gosto agridoce pela decisão do Paramount+ de encerrar uma jornada que poderia muito facilmente durar pelo menos mais duas temporadas, só para chegar nas tradicionais sete das séries dos anos 80 e 90 da franquia Star Trek.

No lado da guerra entre os órions verdes e azuis, a Rainha Pirata estabelece que ela deverá ser decidida com uma tradicional corrida de veleiros em meio a uma perigosa nebulosa, algo que deixa D’Vana apreensiva, pois ela descobre, logo antes, que sua irmã está escondendo uma gravidez dela. Querendo proteger D’Erika, a Senhora das Constelações de Inverno faz de tudo para sabotar a liderança da líder órion, de forma que ela fique quieta em um canto, sem fazer esforço, algo que o roteiro usa para fazer hilários comentários comparativos com a capitania de uma nave da Frota Estelar que basicamente faz com que o/a líder fique sentado(a) em uma cadeira dando ordens, sem efetivamente arregaçar as mangas. Em meio a um motim fomentado por D’Vana, tudo chega a uma resolução que leva as duas irmãs a um meio termo comportamental, uma entendendo e respeitando os desejos da outra, o que leva o retorno de D’Vana à Cerritos, claro.

Mas a ausência de D’Vana é objeto da segunda história do episódio, uma que reitera a profunda falta que Rutherford sente da amiga, colocando T’Lyn em uma posição de relativização de sua frieza vulcana, de maneira a ajudar o jovem ciborgue a superar essa fase em sua vida, o que significa consertar em apenas algumas horas o transporte que era o projeto xodó dele com D’Vana e que ele queria deixar inacabado justamente para nutrir a esperança do retorno da órion. A mesma doçura com que o roteiro trata da relação das irmãs órion é repetido aqui, com T’Lyn demorando a compreender o que o conserto do transporte significa e Rutherford imediatamente entendendo o que a vulcana tentou fazer por ele. A conexão entre os dois foi tão bem construída que cheguei a pensar em como seria interessante se o retorno de D’Vana fosse atrasado somente um pouco mais para abrir espaço para T’Lyn novamente, algo que aconteceu um pouco na série, mas não tão quanto deveria ter acontecido.

E, finalmente, temos Boimler e Mariner em uma missão no planeta Targalus IX para ajudar a população a adaptar-se à era pós-escassez em razão da tecnologia fornecida pela Federação de Planetas, eliminando todos os traços do capitalismo por ali. A ideia é genial, especialmente porque abre espaço para Boimler tentar ser o Boimler Duplo do episódio anterior, com direito até mesmo a ele tentar deixar crescer barba – mas falhando miseravelmente -, mas ela acaba sendo resumida ao sequestro dos dois subalternos dele por membros da elite capitalista que não quer ver o sistema que lhes dava controle sobre tudo desaparecer. Assim como eu senti que as duas linhas narrativas de Dos Cerritos merecia um episódio para cada, aqui eu achei que toda essa premissa se beneficiaria tremendamente de mais tempo para ganhar desdobramentos. Mas, não se pode ter tudo, claro, e se Lower Decks tem uma marca, é seu passo apressado, por vezes até frenético, que só em relativamente poucos momentos ao longo das temporadas realmente leva a tropeções, o que definitivamente não é o caso aqui.

Star Trek: Lower Decks – 5X01 e 5X02: Dos Cerritos / Shades of Green (EUA, 24 de outubro de 2024)
Showrunner: Mike McMahan
Direção: Megan Lloyd (5X01); Bob Suarez (5X02)
Roteiro: Aaron Burdette (5X01); Keith Foglesong (5X02)
Elenco (vozes originais): Tawny Newsome, Jack Quaid, Noël Wells, Eugene Cordero, Dawnn Lewis, Jerry O’Connell, Fred Tatasciore, Gillian Vigman, Gabrielle Ruiz, Ariel Winter
Duração: 24 min. (5X01), 23 min. (5X02)

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