- Há spoilers. Leia, aqui, as críticas dos demais episódios e, aqui, de todo nosso material sobre Star Trek.
Foi a primeira vez na série, mas, desta vez, Mike McMahan não conseguiu encerrar com categoria uma temporada de Lower Decks, levando a um resultado que conseguiu ficar abaixo até mesmo de First First Contact, que encerrou o segundo ano. Não é o fim do mundo, vejam bem, pois Old Friends, New Planets, continua sendo um bom episódio, mas ele definitivamente não é o tipo de episódio que faz jus ao grande mistério que permeou toda a temporada e que lidava com a nave que, aparentemente, destruía naves das mais diversas espécies do universo Star Trek.
Apenas para deixar bem claro, como episódio solto ou mesmo como segunda parte de uma dobradinha com The Inner Fight, Old Friends, New Planets seria, no agregado, muito melhor. Afinal, Lower Decks sempre foi uma esperta combinação entre episódios autocontidos e episódios que contam uma história contínua única, pelo que não haveria o menor problema em Nick Locarno, personagem que tem um passado conectado com o de Mariner, ser o grande vilão que deseja criar uma espécie de federação de subalternos insatisfeitos com a hierarquia de seus respectivos comandos. Trata-se de uma ideia muito boa que, porém, não tem o peso de ser a grande chave unificadora da linha narrativa central da temporada.
De certa forma, em minha crítica do episódio anterior, eu já previa que algo assim poderia acontecer quando afirmei que achei apressada a confissão de Mariner sobre a perda de sua amiga Sito e que isso a teria levado a lutar contra a promoção que recebeu no começo do ano. Esperava uma contextualização melhor para isso, mas tudo o que Old Friends, New Planets trouxe foi outra situação do passado da personagem que só resvala em Sito, mas que foca muito mais em Locarno e sua incapacidade de aceitar sua expulsão da Academia. Para fins de encerramento da linha narrativa una da temporada, essa escolha me pareceu tirada completamente da cartola, não funcionando nem como algo que contribuísse para o drama pessoal de Mariner, nem como uma boa explicação para o “mistério da nave”.
No lado positivo, porém, gostei muito da forma como Mariner é trabalhada aqui, ou seja, uma rebelde, mas não sem causa, capaz de reconhecer com lucidez as vantagens e desvantagens da Frota Estelar e, mais ainda, sua conexão com sua mãe que tem participação central em seu resgate das garras de Locarno e seu plano sem dúvida intrigante, mas mal executado na prática. Da mesma maneira, achei excelente que o roteiro tenha estabelecido forte conexão com o excelente Something Borrowed, Something Green, episódio que nos brindou com um ótimo e rico contexto para D’Vana Tendi e seu passado com sua riquíssima família pirata e sua briga com sua irmã D’Erika e que é usado inclusive para alterar o status quo da série ao fazer com que a cientista de baixa patente da Cerritos tenha que retornar para seu planeta e para a função que foi originalmente treinada para exercer.
Old Friends, New Planets, mesmo conseguindo ser bom e divertido, foi minha primeira grande decepção com Lower Decks. Claro que isso está longe de condenar a temporada ou menos ainda a série, a melhor desse segundo revival televisivo da franquia, mas fica aquela sensação de que algo desandou na concepção da história que conecta os episódios e, lógico, aquele receio de que a série se perca na próxima temporada. Mas isso é só meu “eu” pessimista falando, pois, se pensarmos bem, McMahan só conseguiu errar aqui, no 40º episódio de sua série, nada mal para algo tão diferente e ousado como sua proposta de focar nos personagens de fundo de uma rica franquia. Agora é torcer para que a quinta temporada venha com força total.
Star Trek: Lower Decks – 4X10: Old Friends, New Planets (EUA, 02 de novembro de 2023)
Showrunner: Mike McMahan
Direção: Bob Suarez
Roteiro: May Darmon
Elenco (vozes originais): Tawny Newsome, Jack Quaid, Noël Wells, Eugene Cordero, Dawnn Lewis, Jerry O’Connell, Fred Tatasciore, Gillian Vigman, Paul Scheer, Gabrielle Ruiz, Robert Duncan McNeill
Duração: 30 min.
