Home TVEpisódio Crítica | Star Trek: Lower Decks – 3X07: A Mathematically Perfect Redemption

Crítica | Star Trek: Lower Decks – 3X07: A Mathematically Perfect Redemption

Um episódio matematicamente perfeito.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leia, aqui, as críticas dos demais episódios e, aqui, de todo nosso material sobre Star Trek.

A primeira pergunta que meio veio à cabeça quando terminei de assistir A Mathematically Perfect Redemption foi o que raios a equipe criativa da série estava fumando, pois fazer um episódio quase que completamente protagonizado pelo robô consciente e egoísta Cesta de Amendoim a que fomos apresentados no excelente No Small Parts, em que ela acaba casada com o filho do líder de uma tribo de águias humanoides em um planeta de seres alados é uma das coisas mas sensacionalmente doidas que vi em tempos recentes. E olha que eu sequer me lembrava de Cesta de Amendoim, tendo que correr para ver também o episódio em que ela é apresentada, mesmo considerando a ótima recapitulação somada com eventos posteriores que desconhecíamos que substitui a abertura da série.

Para começo de conversa, Cesta de Amendoim é uma personagem absolutamente intragável, com o ótimo trabalho de voz de Kether Donohue, com um roteiro sem falhas de Ann Kim desenvolvendo o robozinho em uma vilã que não deixa nada a dever aos piores da franquia Star Trek por ela reunir uma enorme quantidade de características humanas execráveis e desconfortáveis demais para existirem em um mesmo ser ao mesmo tempo. Além disso, a coragem de desnortear completamente o espectador mantendo o foco exclusivo em Cesta de Amendoim é algo para se tirar o chapéu, já que o resultado é um episódio autocontido – que pode ser revisitado no futuro de diversas maneiras diferentes, incluindo, claro, uma rebelião de inteligências artificiais psicóticas que colocariam a Skynet para correr – e completamente divorciado de tudo na série, mas que ao mesmo tempo discute questões extremamente relevantes para a mitologia, como o próprio primeiro contato e, mais ainda, a preciosa Primeira Diretriz da Federação que reza que planetas com povos pré-dobra não podem sofrer interferência externa em seu desenvolvimento. E isso sem contar, claro, com o relacionamento de I.A.s com seres biológicos e, claro, a boa e velha máxima de Spock sobre as necessidades de muitos.

O episódio tem uma construção clássica à la Pocahontas (ou Dança com Lobos ou Avatar, escolham a opção que desejarem), ou seja, com a desbocada Cesta de Amendoim odiando o vilarejo dos Aerore onde foi parar depois de fugir dos Drookmani com uma nave improvisada (e de sacrificar sua própria versão de Wilson em outra sacada genial do roteiro), mas aos poucos conectando-se com o hilariamente musculoso Rawda (Harry Shum Jr.) ao ponto de descobrir que esse povo um dia foi altamente tecnológico e, claro, de transar e, não satisfeita, casar com o pássaro humanoide chegado a esteroides. No entanto, subvertendo a premissa de Pocahontas, eis que Cesta de Amendoim não mudou coisíssima nenhuma e continua achando que suas necessidades são muito mais importantes do que as necessidades de muitos, criando uma ação final caótica – já com a presença da Cerritos – e cheia de reviravoltas rocambolescas que só acrescentam ao tom irônico e satírico de todo o episódio.

E o melhor é que, mesmo levantando a sobrancelha em desconfiança, tudo é feito de maneira muito verossímil – considerando a premissa enlouquecida, óbvio – a ponto de ser possível acreditar na mudança de personalidade de Cesta de Amendoim, somente para tudo desmoronar na medida em que a ameaça renovada dos Drookmani começa a afetar severamente o modo de vida dos Aerore. Na direção, Jason Zurek dá um show de narrativa compassada, jamais deixando que o lado quase surreal da história atrapalhe o storytelling e dando tempo efetivo para que os personagens se desenvolvam, seja o inicialmente arredio Rawda, seja, claro, a robozinha vilanesca que dá vontade de pular na tela para quebrar com uma chave de fenda.

A Mathematically Perfect Redemption não tem redenção nenhuma, lógico, mas é, realmente, um episódio matematicamente perfeito, provavelmente fruto dos alucinógenos de Mike McMahan e equipe de roteiristas. Não só ele já começa deixando o espectador basicamente perdido sobre o que afinal está acontecendo (com exceção dos espectadores com memória assustadoramente robótica capaz de lembrar de Cesta de Amendoim e o que aconteceu com ela), insere uma personagem improvável em uma ambientação ainda mais estranha, desenvolve a história que em mãos menos hábeis não teria nem pé nem cabeça de maneira lógica e, de quebra, cria todo o tipo de armadilha para resultar em algo realmente memorável, completamente fora da caixinha da franquia como um todo, arriscaria dizer. Já quero Cesta de Amendoim de volta em temporada futura ao lado de Agimus para criar o caos para a Cerritos e para a Federação!

Star Trek: Lower Decks – 3X07: A Mathematically Perfect Redemption (EUA, 06 de outubro de 2022)
Showrunner: Mike McMahan
Direção: Jason Zurek
Roteiro: Ann Kim
Elenco (vozes originais): Tawny Newsome, Jack Quaid, Noël Wells, Eugene Cordero, Dawnn Lewis, Jerry O’Connell, Fred Tatasciore, Gillian Vigman, Paul Scheer, Kether Donohue, Harry Shum Jr., James Sie, J.G. Hertzler, Jeffrey Combs
Duração: 27 min.

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