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Crítica | Star Trek: Lower Decks – 2X05: An Embarrassment of Dooplers

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leia, aqui, as críticas dos demais episódios e, aqui, de todo nosso material sobre Star Trek.

Sob certo ponto de vista, An Embarrassment of Dooplers se parece bastante com o episódio imediatamente anterior, Mugato, Gumato, já que ambos são mais simples, autocontidos e menos dependentes de um frenesi enlouquecedor – no bom sentido, que fique claro! – de referências e de uma visão crítica de fora para dentro sobre a franquia Star Trek que esteve tão presente em Strange Energies, Kayshon, His Eyes Open e We’ll Always Have Tom Paris, os três primeiros da temporada. No entanto, mesmo com essas semelhanças, o quinto capítulo da 2ª temporada consegue elevar-se alguns níveis acima por trabalhar sua temática, que pode ser resumida à boa e velha amizade entre colegas de trabalho, com uma ternura rara, daquelas capazes de emocionar o espectador que se deixar levar.

O artifício que serve de gatilho para a narrativa é básico, mas hilário, com a Cerritos transportando um embaixador Doopler (Richard Kind em um excelente trabalho de voz) para a Starbase 25. O alienígena rosa, baixinho, rechonchudo e careca foi criado para o episódio, o que é uma raridade na série, e tem como característica principal a “dooplicação” involuntária sempre que ele se sente envergonhado, mesmo que levemente (houve uma óbvia inspiração nos famosos Tribbles, não tenham dúvida). A tensão entre os oficiais é grande, pois a missão está acabando sem incidentes, o que lhes garantirá a participação na cobiçada festa de encerramento da Conferência de Comando, a mais prestigiada da Frota Estelar, mas, claro, tudo dá errado no último segundo e o Doopler passa a “dooplicar” exponencialmente, o que leva à proibição de a Cerritos ancorar na base.

Aproveitando o caos que é criado com o alienígena sendo multiplicado em velocidade absurda pela nave, Mariner convence Boimler a sair à francesa e entrar na festa usando a identidade de seu clone de transporte William (criado em Kayshon, His Eyes Open), que é oficial na Titan, enquanto Tendi e Rutherford ficam para trás montando um super-detalhado modelo da Cerritos, aparentemente um hobby da dupla há muito tempo e que eles não param de montar nem com a invasão dos “dooplicados”, com Rutherford tentando compensar o tempo perdido por ele ter tido sua memória apagada. Com isso, o inteligente roteiro de Dave Ihlenfeld e David Wright desdobra o catalisador da ação em três linhas narrativas fluidas que são trabalhadas de maneira muito ritmada pela direção tranquila e equilibrada de Kim Arndt.

A divisão de tempo é o trunfo da diretora aqui, já que ela não só dedica o tempo exato que cada linha narrativa precisa, como sabe abordar os ritmos internos de cada uma sem suar e sem causa solavancos na história. Se a “dooplicação” rende uma história quase surreal, mas que se desdobra naturalmente, inclusive com amplo espaço, por um lado, para Rutherford lidar com seu trauma com a ajuda da sempre atenciosa e preocupada Tendi e, por outro, a Capitã Freeman entrar em parafuso, a ação na Starbase 25 com Mariner e Boimler é frenética, com direito a uma excelente perseguição automobilística que leva o espectador a um passeio à la National Lampoon por tudo que a base tem a oferecer, inclusive um gigantesco aviário. Em outras palavras, é uma variedade de foco e progressão que acaba entregando material suficiente para agradar todo mundo.

E isso é particularmente verdadeiro pelo golpe de mestre que é fazer todo mundo convergir para um bar depois que as tentativas de se entrar na festa dão errado, bar esse que foi justamente frequentado por grandes nomes deste universo, com destaque dado para o Capitão Kirk e Spock, que tem seus nomes gravados no balcão como dois namorados e que inspiram e espantam Mariner e Boimler, claramente versões desses icônicos personagens. Fica evidente, diria, que o roteiro de An Embarrassment of Dooplers foi pensado de trás para frente, com a ideia de Mike McMahan – e de sua equipe, claro – de homenagear de maneira singela a amizade entre Kirk e Spock, fazendo ecoar pelo tempo até chegar nos protagonistas da série, incluindo aí também Tendi, Rutherford e todos os oficiais da Cerritos, o que normalmente leva a episódios problemáticos, mas que, aqui, funciona muito bem.

An Embarrassment of Dooplers, depois do apenas simpático Mugato, Gumato, é um retorno à forma para Lower Decks, mas não da maneira usual, já que sua trama, apesar de mirar na homenagem lá na frente, costura uma narrativa própria que se segura surpreendentemente bem, revelando que o showrunner também pode muito facilmente fazer sua série galgar seus próprios degraus, sem precisar sempre subir em ombros de gigantes. E que assim seja, equilibrando as duas maneiras de se contar as fascinantes aventuras dos personagens “desimportantes” desta espetacular franquia.

Star Trek: Lower Decks – 2X05: An Embarrassment of Dooplers (EUA, 09 de setembro de 2021)
Showrunner: Mike McMahan
Direção: Kim Arndt
Roteiro: Dave Ihlenfeld, David Wright
Elenco (vozes originais): Tawny Newsome, Jack Quaid, Noël Wells, Eugene Cordero, Dawnn Lewis, Jerry O’Connell, Fred Tatasciore, Gillian Vigman, Richard Kind, Tom Kenny, Jenifer Lewis, Paul Scheer
Duração: 24 min.

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