- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série e, aqui, de todo nosso material sobre Star Trek.
Eu já havia ficado feliz em meramente saber que uma das pistas da tecnologia dos Progenitores estaria em uma biblioteca espacial, mas, quando ficou claro que Labyrinths se passaria quase que totalmente dentro do tal Arquivo, abri um sorriso de orelha à orelha. Não poderia haver contexto e cenário mais bacana para uma série passada em um futuro distante do que uma biblioteca que guarda livros e artefatos raros de todas as civilizações conhecidas, uma verdadeira Biblioteca de Alexandria no meio das Badlands, cenário que nos remete tanto à Deep Space Nine quanto à Voyager.
E o melhor foi notar o cuidado da produção com cada detalhe visual da experiência, seja a bibliotecária efrosiana Hy’rell (Elena Juatco) com seu penteado e traje exóticos, quase cerimoniais, a forma como ela recebe a Discovery e leva Michael e Book às salas de leitura e, claro, a direção de arte da biblioteca em si, misturando o anacronismo de livros físicos e, claro, infinitas prateleiras para guardá-los, com alta tecnologia. Eu poderia muito facilmente, como faço na vida real com todas as bibliotecas e livrarias por que passo, ficar horas só explorando o literal labirinto formado pelas estantes e corredores, a ponto de ficar incomodado toda a vez que a ação era transportada para a nave Breen que, em determinada altura, chega por ali para estragar prazer.
Se eu fosse julgar o episódio só pelo que mencionei no parágrafo anterior, ele seria facilmente o melhor da temporada, quiçá da série inteira, mas tenho consciência de que não posso fazer isso, ainda que a bela ambientação tenha sim influenciado minha visão final de Labyrinths. A grande verdade é que se trata apenas de um bom episódio tornado melhor para quem, como eu, apreciar o fato de ele em grande parte ocorrer onde ocorre, já que o roteiro de Lauren Wilkinson e Eric J. Robbins mergulha no clichê no lado de Michael na biblioteca e na conveniência no lado de Moll na nave Breen, sem oferecer muita coisa nova.
A localização da pista final, com um teste que nada mais é do que o bom e velho “truque” da sessão de terapia dentro da mente da protagonista, para além da biblioteca em si, diverte porque, apesar do chororô de Michael ao final, que revela seus verdadeiros sentimentos por Book (que dúvida…) e o porquê de ela ter se afastado dele (ok, aqui foi genuinamente interessante, ainda que novelesco), temos Book vivendo um construto de figurino espalhafatoso e um tom irônico como contraponto, algo que funciona muito bem. O teste em si lembra a maratona que vimos em Whistlespeak, mas sem o esforço físico e sem a improbabilidade que é Tilly vencer algo assim contra uma jovem – ops, escorreu veneno aqui agora… – e não é lá muito revelador, pois já vimos coisas semelhantes acontecerem com Michael que, aliás, a personagem que mais profundamente conhecemos na série. No final das contas, passa.
Já a ação na nave Breen, apesar de ser talvez inadvertidamente engraçado ver o Primarca Ruhn (Tony Nappo) perder as estribeiras e ser morto, não sei se compro Moll ser seu algoz e especialmente ela tornar-se a líder dessa facção dos encapacetados. Foi fácil demais, conveniente demais e absurdo demais tudo acontecer em um intervalo de poucas horas, se isso tudo. E eu não estou falando dos eventos em si, pois toda a intriga das intenções de Ruhn, do uso de L’ak como um mero instrumento de tomada de poder, do amor de Moll que ainda permanece e sua vontade de ressuscitar o marido tem ressonância e funciona como uma trama palaciana. O que faltou foi um desenvolvimento maior disso ao longo de pelo menos mais um episódio ou, no mínimo dos mínimos, trabalhando uma passagem temporal maior dentro de um mesmo episódio.
Seja como for, o episódio valeu pela biblioteca espacial e por toda a calma e cuidado que a produção teve com ela, além de sólidas atuações de Sonequa Martin-Green e especialmente David Ajala em papel duplo. O restante não foi particularmente sensacional, mas passou longe de chegar a ser sequer apenas mediano. Labyrinths, porém, é mais um episódio que deixou um baita potencial inexplorado e que aponta para um final de série sólido, mas não especial como Discovery merecia.
Star Trek: Discovery – 5X08: Labyrinths (EUA, 16 de maio de 2024)
Showrunners: Alex Kurtzman, Michelle Paradise
Direção: Emmanuel Osei-Kuffour
Roteiro: Lauren Wilkinson, Eric J. Robbins
Elenco: Sonequa Martin-Green, Doug Jones, Anthony Rapp, Mary Wiseman, Wilson Cruz, Blu del Barrio, Callum Keith Rennie, David Ajala, Phumzile Sitole, Emily Coutts, Michael Chan, Annabelle Wallis, Tara Rosling, Tig Notaro, Eve Harlow, Elias Toufexis, Tony Nappo, Elena Juatco
Duração: 58 min.