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Crítica | Star Trek: Discovery – 5X01 e 5X02: Red Directive / Under the Twin Moons

Caça ao tesouro!

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série e, aqui, de todo nosso material sobre Star Trek.

Pouco mais de dois anos do final da 4ª temporada, Star Trek: Discovery, a série que recomeçou a franquia na televisão, retorna às telinhas para sua 5ª e derradeira temporada, desta vez encurtada, com apenas 10 episódios. Como dois episódios foram lançados simultaneamente, preferi fazer as críticas separadamente, mas em uma publicação só, e escrevendo meus comentários sobre o 5X01 sem assistir o 5X02 como se estivesse fazendo semanalmente. Fiquem, então, com as críticas!

5X01
Red Directive

Os 15 primeiros minutos de Red Directive são completamente insanos, o que é ao mesmo tempo uma qualidade e uma desvantagem, com o roteiro da co-showrunner Michelle Paradise iniciando-se no meio da ação, com a Comandante Michael Burnham em cima de uma nave em plena velocidade de dobra, tentando invadi-la, para que, então, tudo retorne para quatro horas antes em que a vemos em uma festa, juntamente com seus tripulantes, que serve de mecanismo de ativação das memórias dos espectadores sobre o status quo de cada personagem. Mas a direção de Olatunde Osunsanmi não perde tempo com essas amenidades e logo mergulha no que parece ser o caso da temporada, a recuperação de um misterioso objeto que estaria no interior de uma nave romulana que desaparecera há 800 anos, com direito à diretriz do título sendo invocada e ao uso do Dr. Kovich de David Cronenberg de maneira proeminente de forma a criar toda a gravidade necessária para comprarmos imediatamente o MacGuffin que dá partida ao que é basicamente uma caça ao tesouro.

A desvantagem que mencionei se dá porque o frenesi inicial é realmente intenso, lembrando muito os filmes da Linha Temporal Kelvin – que eu gosto muito, vale dizer – e com um ritmo muito apertado, quase completamente desnorteador. Mas Osunsanmi tem plena consciência disso e ele segura a progressão narrativa depois que os caçadores de tesouro Moll (Eve Harlow) e L’ak (Elias Toufexis) fogem pela primeira vez dos protagonistas. Não que a história parece, pois, muito pelo contrário, ela continua galopando à la Indiana Jones, com revelações interessantes sobre o artefato cobiçado por Kovich que o conecta umbilicalmente com The Chase, o 20º episódio da penúltima temporada de Star Trek: A Nova Geração, algo que é explicado até mesmo com o rápido uso de cenas do capítulo em questão, de forma que o MacGuffin ganhe uma forma, ou melhor, um conceito de tecnologia ancestral de manipulação de DNA que tornou possível a vida humanoide na galáxia.

Mas o maior interesse do episódio inicial da última temporada de Discovery para além de encerrar a relação de Michael com Book e aproximar Saru e T’Rina ainda mais, é refestelar-se com sequências de ação. Normalmente, episódios costumam contentar-se com uma grande sequência do tipo, mas, aqui, além dos já mencionados 15 minutos iniciais, há, ainda, o encontro de Moll e L’ak com o comerciante artificial de origem “nooniana” Fred (J. Adam Brown) que acaba em pura pancadaria e, claro, o grande set piece que nos leva de Indiana Jones para Star Wars, com direito a perseguição de speeder bikes por um planeta desértico e que resulta em um inusitado momento em que não uma, mas duas naves da Federação – a Discovery e a Antares, esta comandada pelo Capitão Rayner (Callum Keith Rennie), personagem rabugento e mandão que acha que está certo mesmo quando sabe que está errado e que, claro, gostei logo de cara – enfiando seus discos no solo do planeta para que a união de seus escudos de força inibam uma avalanche mortal provocada pelos ladrões em fuga. Uma ideia original executada com muita qualidade e imaginação.

Quando, finalmente, o episódio arrefece, ele entra em um estado mais professoral que começa, então, a explicar, em detalhes, o que afinal acabamos de ver e o que raios é o tal artefato alienígena que Kovich tanto quer. Temos Tilly explicando o que conseguiu hackear do banco de dados da Federação e Stamets e Culber terminando de extrair a memória do falecido Fred, além de um “confronto final” de Burnham e Kovich que põe tudo a pratos limpos. Não gostei dos textos expositivos, pois eles foram concentrados em um momento só do episódio e acabaram ficando redundantes, mas prefiro isso do que a manutenção de um segredo ou mistério até a metade da temporada. Se é para recorrer à estrutura clássica de Star Trek, que ela não seja misturada com o que costumo classificar como Síndrome de Harry Potter, em que nada é perguntado, nada é explicado, mas, quando finalmente há perguntas e/ou explicações, elas são pela metade ou comendo pelas beiradas. Não que não possa haver mistérios dentro de mistérios pela frente, mas pelo menos o básico já temos aqui logo no início e, agora, só resta torcer para que os episódios seguintes mantenham a qualidade vista aqui para que Discovery chegue a um fim digno.

5X02
Under the Twin Moons

E a caçada pelo MacGuffin romulano continua firme e forte em Under the Twin Moons e, ao que tudo indica, por mais alguns episódios que, espero, fujam do maniqueísmo barato que marcou este aqui. Sei que a relação entre Michael e Saru é muito importante na série, talvez a mais importante de todas considerando o tanto que os dois personagens cresceram desde o começo em razão de uma conexão forte entre os dois, mas eu tenho minhas dúvidas se era mesmo necessário que a última missão dos dois juntos – até que uma outra última missão apareça, claro – fosse uma espécie de lacrimosa e novelesca revisão do passado do kelpiano e tudo o que ele fez e demonstrações sucessivas de quanto Michael se importa por ele, isso tudo enquanto os dois fogem de drones assassinos em uma floresta paradisíaca que é um cemitério alienígena.

Sou o primeiro a gostar de discussões e piadinhas entre dois personagens em meio à pancadaria pura e perigo real e imediato – a franquia Indiana Jones, que citei na crítica anterior pela óbvia conexão com a premissa da temporada, faz isso muito bem -, mas os diálogos escritos por Alan McElroy falharam em criar verossimilhança, em estabelecer uma conexão real entre Michael e Saru, mais parecendo uma sucessão infinita de frases de efeitos e momentos feitos para milimetricamente verbalizar aquilo que já ficou claro visualmente. Não ajuda em nada que a aventura na floresta, com direito a deduções impossíveis em poucos minutos – como destruir os drones, como desfazer a destruição dos versos por Moll e L’ak e, claro, como descobrir um quinto verso ainda mais secreto – é banal até não poder mais, como se todo aquele frenesi quase epiléptico de Red Directive tivesse sugado todo o orçamento desse começo. Mesmo que as bizarras estátuas que abrem os olhos tenham sido sem dúvida interessantes, o diferencial parou por aí mesmo.

Ainda bem que houve uma boa preparação para a conversão de Rayner no novo Número Um de Michael, com o inquérito que ele é obrigado a passar e que ele se recusa a falar o que querem ouvir, a ajuda holográfica que ele dá para as duas cientistas batedoras de cabeça e, claro, a sequência final em que ele é recrutado para a Discovery. Sim, sei bem que o roteiro também jogou pelo lado mais sentimental e criou uma sucessão de eventos, incluindo e especialmente aquele tenebroso diálogo sobre o próximo Número Um entre Saru e Michael, mas pelo menos houve uma construção, uma lógica por trás da escolha de Rayner para a posição de segundo em comando, lógica essa que se aplica até na circularidade das “segundas chances” (que não precisava ser mencionada por Michael, obviamente) e será interessante ver como os dois se comportarão na ponte.

Por mais que “caça ao tesouro” seja uma forma sempre simpática de se construir uma história, sejam em série, seja em filme, é essencial que as fases sejam mais do que momentos estanques em que os personagens correm de um lado para o outro em meio a uma gritaria sem fim. Há que haver mais do que isso e mais até do que o uso do artifício para fazer com que tudo caminhe para o fim, mesmo sabendo que é justamente isso que a temporada tem que fazer, pois o fim é, afinal de contas, inevitável. Os roteiros precisam ser mais suaves, menos “na cara” e sem inventar moda como a coincidência das coincidências que é Book saber quem é Moll. Discovery precisa, portanto, chegar a seu fim, mas isso não pode ser anunciado a cada dois ou três minutos ao longo de seus episódios. Não é pedir muito, não é mesmo?

Star Trek: Discovery – 5X01 e 5X02: Red Directive / Under the Twin Moons (EUA, 04 de abril de 2024)
Showrunners: Alex Kurtzman, Michelle Paradise
Direção: Olatunde Osunsanmi (5X01), Doug Aarniokoski (5X02)
Roteiro: Michelle Paradise (5X01), Alan McElroy (5X02)
Elenco: Sonequa Martin-Green, Doug Jones, Anthony Rapp, Mary Wiseman, Wilson Cruz, Blu del Barrio, Callum Keith Rennie, David Ajala, Phumzile Sitole, Emily Coutts, Michael Chan, Annabelle Wallis, Tara Rosling, Oded Fehr, David Cronenberg, Callum Keith Rennie, Chelah Horsdal, Eve Harlow, Elias Toufexis, J. Adam Brown
Duração: 53 min. (5X01), 52 min. (5X02)

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