- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série e, aqui, de todo nosso material sobre Star Trek.
A segunda perna da quarta temporada de Discovery ainda não encontrou seu tom e segue decepcionando depois do interessante, mas morno All In e o ambicioso, mas falho Rubicon. A boa notícia é que The Galactic Barrier, dos três, consegue ser o melhor, ainda que não consiga fugir muito do apenas bom e daquela impressão de que tudo o que assistimos até agora nesse retorno da série não passou de filler. Não que haja problema em haver fillers, pois, por vezes, eles acabam resultando em excelentes episódios com a liberdade que normalmente têm, mas este, infelizmente, não é o caso aqui.
Foi sem dúvida muito interessante ver, na forma de flashbacks, o passado de Ruon Tarka como prisioneiro da Corrente Esmeralda e como ele conheceu seu amante(?) Oros (Osric Chau) e a materialização de tudo o que ele rapidamente explicou como sendo sua motivação principal para lidar com a anomalia. O problema disso é que todo esse contexto para o arrogante personagem tinha que ter vindo antes e não necessariamente tudo de uma vez. Sempre aprecio quando uma série se desdobra para criar estofo e contexto para personagens que não são os principais, mas não consigo deixar de imaginar como teria sido diferente a jornada de Tarka, aos nossos olhos, se ele tivesse ganhado essas camadas bem mais complexas (ainda que não complicadas, vejam bem) não muito tempo depois de sua introdução como cientista sabichão que não ouve os outros e só faz o que quer.
Mesmo assim, as sequências para esse passado trágico dele cumprem sua função básica de dar alguma tridimensionalidade ao personagem, com a presença de Book – em mais outra caçada a substâncias raras, a segunda em apenas três episódios, temos que lembrar… – e a conexão entre os dois ajudando a emprestar solidez dramática aos acontecimentos. Aliás, devo dizer que David Ajala parece não fazer o menor esforço para ser um cara que se encaixa em qualquer cena, seja ela em linha ou em oposição a Michael e à Federação. O ator tem uma daquelas auras que simplesmente o faz ser agradável e competente em todo tipo de abordagem, mesmo quando ele, aqui, é apenas uma forma de o drama de Tarka no passado ganhe eco no presente.
Por outro lado, a ação da Discovery finalmente indo aonde ninguém realmente jamais foi me pareceu cansada e não mais do que burocrática. Sim, a conexão de Michael com a Presidente Rillak foi um bom momento e o “namoro” entre Saru e a Presidente T’Rina continua sendo o ponto alto da temporada toda, mas… caramba… um momento tão importante quanto a “quebra” da tal Barreira Galáctica ser resumido a voar de “bolha tirada da cartola” a “bolha tirada da cartola” foi bobo… Sim, bobo. Zero de tensão e zero de credibilidade, mesmo considerando que as apostas sobre o que era a barreira simplesmente apontassem para qualquer coisa. O que eu quero dizer é que, considerando que essa fronteira espacial podia ser absolutamente qualquer coisa, o que ela acabou sendo foi tão pedestre, mas tão pedestre que deu sono. Fico com muito receio se isso for alguma indicação do que será a misteriosa Espécie Desconhecida 10-C, que, aliás, estão enrolando demais para mostrar, não é mesmo?
Falando na espécie misteriosa, achei também um pouco cansada a escolha do roteiro de ameaçar Ni’Var e a Terra, simplesmente porque sabemos que pelo menos a Terra não será destruída de maneira alguma (duvido que Ni’Var seja, mesmo já tendo havido precedente na franquia). Não funciona como elemento para aumentar a tensão e as apostas e nem como algo que torne a temporada mais interessante. Fica parecendo justamente o que é, um artifício banal para criar uma conexão mais próxima com os espectadores sem que, porém, isso aconteça de verdade. E minha desconfiança de que Kovich e sua misteriosa missão ao lado de um dos tripulantes da Discovery será um deus ex machina safado ao final deixou-me ainda mais chateado. Mas, claro, se nenhuma das minhas desconfianças se materializar, ou seja, se realmente destruírem Ni’Var ou a Terra e se Kovich não aparecer no último segundo, já digo aqui de antemão que comerei feliz meu chapéu!
The Galactic Barrier é o terceiro episódio seguido da quarta temporada de Discovery que só serve mesmo, de verdade, para enrolar o momento da grande revelação sobre os misteriosos vilões da temporada, o que só faz aumentar as expectativas sobre eles, claramente um gigantesco perigo em termos dramáticos, pois tenho lá minhas dúvidas se o que a série entregará compensará essa espera interminável e esses episódios insossos…
Star Trek: Discovery – 4X10: The Galactic Barrier (EUA, 24 de fevereiro de 2022)
Showrunners: Alex Kurtzman, Michelle Paradise
Direção: Deborah Kampmeier
Roteiro: Anne Cofell Saunders
Elenco: Sonequa Martin-Green, Doug Jones, Anthony Rapp, Wilson Cruz, David Ajala, Ian Alexander, Emily Coutts, Oyin Oladejo, Patrick Kwok-Choon, Chelah Horsdal, Oded Fehr, Ronnie Rowe Jr., Ayesha Mansur Gonsalves, Annabelle Wallis, David Cronenberg, Shawn Doyle, Rachael Ancheril, Tara Rosling, Osric Chau
Duração: 53 min.
