Home TVEpisódio Crítica | Star Trek: Discovery – 4X09: Rubicon

Crítica | Star Trek: Discovery – 4X09: Rubicon

O ponto sem volta.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série e, aqui, de todo nosso material sobre Star Trek.

O Rio Rubicão era um marco geográfico usado no Direito Romano que servia como o ponto final em que um general, retornando de campanhas ao norte da península itálica, podia chegar com suas tropas. Atravessar o rio com elas significava entrar em guerra e foi exatamente isso que Júlio César fez em 49 a.C., em perseguição a Pompeu, iniciando cinco anos de uma guerra civil que o consolidaria no poder absoluto. E, com isso, a expressão “cruzar o Rubicão” atravessou os milênios chegando até hoje em dia com significado imutável: fazer algo que não tem volta.

Iniciei a crítica com essa digressão histórica para explicar o título do episódio, pois chega a ser engraçado com a produção achou que era mesmo necessário já explicar de antemão o que acontece ao final mesmo que o que aconteça simplesmente precisasse acontecer. Afinal, não creio que exista um único espectador de Discovery que tivesse alguma sombra de dúvida que de alguma forma a tal anomalia mineradora enviada pela Espécie Desconhecida 10-C seria destruída pela geringonça inventada por Tarka, não é mesmo? Era o absoluto mínimo que deveria acontecer em termos narrativos, pois, primeiro, a tal bomba era uma Arma de Chekhov, então ela precisava ser usada para que a temporada não derrubasse, sem mais nem menos, um dos mais arraigados princípios dramáticos e, depois, a possibilidade de tudo se revolver diplomaticamente, na base da conversinha, era algo que só de imaginar já me dava sono.

E, com isso, já telegrafando o acontecimento cataclísmico de seu final a partir de seu título, Rubicon mostra a Federação de Planetas, mesmo tentando evitar a detonação a todo custo, atravessando o rio histórico e colocando-se em uma posição sem volta. A boa notícia é que esse “ponto sem retorno” aconteceu com quatro episódios ainda pela frente, o que em tese dá tempo para introduzir finalmente a espécie misteriosa extragaláctica e estabelecer o conflito, mesmo que, no final, tudo realmente se resolva em um grande acordo pela paz universal (espero que não seja isso, porém, e essa espécie, ao contrário, seja caracterizada como uma nova grande ameaça perene desse futuro da franquia). A má notícia é que o episódio em si é tão cheio de artifícios para construir e desconstruir momentos de tensão como Penélope esperando Ulisses que ele cansa demais.

O retorno de Nhan, agora como oficial de segurança da Frota Estelar com o objetivo de manter Michael na rédea curta, evitando sua relação com Book a faça hesitar, é uma boa ideia que, porém, acaba sendo mal executada. Afinal, tudo o que Nhan acaba fazendo é servir de espelho para as ações e reações de Michael, sem em momento algum impor sua vontade. Não adianta introduzir algum fator de risco sem levar esse risco até as últimas consequências. E, com isso, não quero dizer que Nhan precisa ordenar a obliteração de Book e Tarka no primeiro momento, mas sim que ela deveria ter sido um instrumento cortante mais incisivo do que meramente alguém com quem Michael podia usar para testar suas ideias.

E vejam bem, eu gosto que a relação amorosa entre Michael e Book seja usado como artifício narrativo nos episódios da série. Foi isso que marcou o melhor momento de All In, no que de outra forma seria um episódio meramente mediano e é isso que funciona bem novamente aqui em Rubicon, com a cumplicidade entre os dois criando momentos bem orquestrados em que manobras do passado deles são trazidas ao presente, mantendo o jogo de gato e rato ativo e fresco. Mas, como sempre digo, é ruim ter muito da mesma coisa e o episódio inteiro é baseado na estrutura padrão, com Michael sempre tentando adivinhar o próximo passo de Book e vice-versa, com sua jogada final, ou seja, a aproximação física dos dois para uma última conversa, sendo ridiculamente frustrada por um Tarka que mais do que obviamente iria acionar a bomba (Book e Michael não terem percebido isso antes de ser tarde demais foi uma conveniência ridícula de roteiro, que poderia muito bem ser curada com alguma medida mais radical por parte de Tarka, como atirar em Book ou algo assim).

E é por isso que Rubicon faz par com episódio anterior como uma dupla de retorno da série após seu hiato que é absolutamente decepcionante, ainda que não exatamente ruim. A sucessão de “eu sou mais esperto do que você” alternado com “se você não fizer isso, eu farei” foi de revirar os olhos ao ponto de os momentos mais interessantes do episódio terem sido protagonizados por Saru e seu flerte gostosamente hesitante com T’Rina…

Star Trek: Discovery – 4X09: Rubicon (EUA, 17 de fevereiro de 2022)
Showrunners: Alex Kurtzman, Michelle Paradise
Direção: Andi Armaganian
Roteiro: Alan McElroy
Elenco: Sonequa Martin-Green, Doug Jones, Anthony Rapp, Wilson Cruz, David Ajala, Ian Alexander, Emily Coutts, Oyin Oladejo, Patrick Kwok-Choon, Chelah Horsdal, Oded Fehr, Ronnie Rowe Jr., Ayesha Mansur Gonsalves, Annabelle Wallis, David Cronenberg, Shawn Doyle, Rachael Ancheril, Tara Rosling
Duração: 47 min.

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