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Crítica | Star Trek: Discovery – 4X08: All In

Aposta errada.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série e, aqui, de todo nosso material sobre Star Trek.

A Paramount e CBS estão fazendo novamente: desde meados de agosto de 2021, com o começo da segunda temporada de Lower Decks, a televisão não fica sem Star Trek por mais de 10 dias. O hiato da quarta temporada de Discovery foi suprido pelo retorno de Prodigy de seu primeiro hiato que, ao entrar em hiato novamente agora, abriu espaço para o retorno de Discovery que, por sua vez, será acavalada com a segunda temporada de Picard que, em seguida, será rendida pela temporada inaugural de Strange New Worlds, mantendo a franquia ininterruptamente no ar – e, melhor ainda, com conteúdo muito variado – até julho de 2022, quase um ano inteiro. Um feito e tanto, sem dúvida, mesmo que All In, a volta de Discovery de seu “descanso”, seja desapontador.

Talvez tenha sido a altíssima qualidade de …But To Connect que tenha afetado meu julgamento, mas não sei. O roteiro de Sean Cochran, que basicamente faz com que o destino da humanidade (ou coisa assim) seja decidido em um jogo de cassino, com direito a diálogos que usam o linguajar de jogos de azar para trabalhar um duplo sentido bobão e óbvio não me pareceu algo digno do retorno da temporada para sua segunda metade e sim, somente, um filler pouco interessante, em espaço confinado, que lida com a caçada de Michael, ao lado de Joann Owosekun, a Book e Tarka que precisam comprar uma substância aleatória qualquer para fazer a tal arma que ele prometera para destruir a anomalia.

Ou seja, toda a insubordinação dos dois, prometendo ação em larga escala para decidir o tipo de conflito que terão com a misteriosa e altamente desenvolvida (para usar um eufemismo) raça extragaláctica, é reduzida a uma corrida de gato e rato em um movimentado cassino fora da jurisdição da Federação de Planetas, sob o comando do simpático, mas também ameaçador, Haz Mazaro (Daniel Kash) que gostar de falar usando ditados e metáforas que, claro, só ele sabe o significado. Mazaro é um bom personagem, devo dizer, já que ele consegue andar muito bem a linha entre o vilão e o herói e o fato de ele conhecer Michael e Book de quando os dois eram mensageiros, cria uma interessante ponte que liga o que agora separa profundamente o casal.

Mas o episódio fica perdido entre querer ser a versão Trek de Cassino Royale e uma história genérica mais para tapa-buraco do que qualquer outra coisa. Se, por um lado, é interessante ver Owosekun ganhando destaque, por outro vê-la em uma rinha de galo não me pareceu fazer jus à personagem. Entre as lutas no ringue, Book e Tarka perseguindo um trapaceiro para conseguir dinheiro para comprar o MacGuffin e Michael lidando com seu drama que ela faz questão de repetir para Book, Owo e Mazaro, sobra pouco espaço para o jogo ao final que recebe um tratamento apressado quando era justamente aí que o episódio deveria ter focado.

Ver Michael e Book jogando em conjunto para eliminar dois vilões quaisquer do páreo e, então, ver Book se recusando a abrir mão da substância que ele precisa, em tese selando seu destino no que se refere à Michael e à Federação, é uma bela sequência de eventos que, porém, são empurrados para os minutos finais do episódio em uma correria completamente desnecessária. Com isso, a tensão que poderia ser construída vai literalmente para o espaço e tudo não passa de um exercício de forma sobre substância que em momento algum realmente põe em dúvida o desfecho óbvio, aí incluído o rastreador que Michael inseriu no “trocinho luminoso” que Tarka tanto queria.

Claro que não é o fim do mundo e esse tipo de episódio “acontece” nas melhores séries, então não há muito do que reclamar, até porque há versões reduzidas de sequências que poderiam ser muito boas de verdade e, claro, a revelação de que a tal anomalia, de fato, ao que tudo indica, não é uma arma e sim uma espécie de aparato de mineração da tal Espécie Desconhecida 10-C, é um desenvolvimento importante que só ratifica a importância de se parar Book e Tarka antes que  pior aconteça. Agora só resta esperar que Discovery mergulhe de vez no cerne do problema e use sua estirada final – são ainda cinco episódios, então tem tempo para um belo desenvolvimento – para dar o caráter épico que a temporada merece.

Star Trek: Discovery – 4X08: All In (EUA, 10 de fevereiro de 2022)
Showrunners: Alex Kurtzman, Michelle Paradise
Direção: Christopher J. Byrne, Jen McGowan
Roteiro: Sean Cochran
Elenco: Sonequa Martin-Green, Doug Jones, Anthony Rapp, Mary Wiseman, Wilson Cruz, David Ajala, Blu del Barrio, Ian Alexander, Emily Coutts, Oyin Oladejo, Patrick Kwok-Choon, Chelah Horsdal, Oded Fehr, Ronnie Rowe Jr., Ayesha Mansur Gonsalves, Annabelle Wallis, David Cronenberg, Shawn Doyle, Daniel Kash
Duração: 47 min.

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