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Crítica | Star Trek: Discovery – 3X05: Die Trying

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série e, aqui, de todo nosso material sobre Star Trek.

A misteriosa Combustão tornou impossíveis as viagens interestelares nesse futuro do universo Star Trek que a 3ª temporada de Discovery almeja desbravar. Consequentemente, a Federação e a Frota Estelar não mais existem com o alcance anterior, ficando relegadas a um punhado de planetas e naves em uma base escondida por um campo de distorção. Ainda que o evento catalisador disso pareça longe de ser explicado, a lógica para a transformação das grandes entidades unificadoras da galáxia é perfeita: sem alcance, não há união, sem união, não há Federação ou Frota.

E achei particularmente inteligente de Discovery não eliminar completamente a Federação e a Frota, fazendo a tripulação encontrar um grupo acanhado de pessoas sobrevivendo na base de um dia de cada vez em algum planeta cavernoso. Ao contrário, elas continuam firmes e fortes, contando com um número saudável de pessoas, organização impecável e tecnologia compatível com o salto para o futuro que a série deu. O que falta a elas é, simplesmente, escala, escala essa que só o motor de dobra – ou, agora, o de esporos – permite em um universo em que o dilítio tornou-se raridade.

Com as memórias ancestrais de Adira destravadas, a localização do quartel-general da Federação/Frota é revelado e, sem perder tempo, Die Trying começa com a Discovery chegando lá e sendo recebida com respeito, mas, naturalmente, uma boa dose de desconfiança. A interação de Saru e Michael com o almirante Charles Vance, vivido de forma eficiente e solene por Oded Fehr, consegue lidar bem com o dilema apresentado. Se a Discovery, para todos os efeitos, foi destruída há quase mil anos, não constando absolutamente nada dos arquivos sobreviventes, como saber se aquilo que seus tripulantes contam é verdade? As dúvidas postas irritam Michael despropositadamente, diria, já que é impossível que Vance simplesmente os aceitassem automaticamente. Confesso que fiquei até surpreso por eles todos não serem colocados no mínimo em quarentena dentro da própria Discovery para que toda a investigação pudesse ocorrer sem nenhum tipo de contaminação/sabotagem por parte deles.

Mas o roteiro de Sean Cochran tenta chegar a um equilíbrio que torne o episódio factível e fluido, caso contrário ele seria unicamente composto de conversas de Saru e Michael com um Vance holográfico e coisas assim, o que retiraria todo e qualquer drama da situação. Portanto, a escolha nesse ponto foi acertada e até mesmo a presença de um povo refugiado com alguma infecção misteriosa servindo de catalisador para que Michael tente mostrar o valor que eles têm segue uma lógica interessante, ainda que básica e, na prática, irreal. Afinal, não é em razão de uma missão bem-sucedida que Vance deveria simplesmente mudar de opinião e receber os tripulantes de braços abertos como parece acontecer no final. Espero que ainda haja trepidações no relacionamento entre a “Discovery marginal” e a Federação estabelecida de forma que as arestas sejam aparadas com o tempo e não que sumam de uma hora para outra como se nada diferente tivesse acontecido.

No entanto, é o que está entre a descoberta da infecção e o “bem-vindo ao lar” do final que é o calcanhar de Aquiles do episódio. Não só o fato de a nave-arca de plantas do universo USS Tikhov ainda existir depois desse tempo todo é conveniente demais (sei que é a mesma nave em nome apenas, gerações no futuro, mas mesmo assim ela não ter sido destruída e ainda ser mantida cerimonialmente é talvez um tantinho demais), como a ação que se passa lá não cumpre a missão que parecia pretender. A reunificação da comandante Nhan com outros de sua espécie sem dúvida é uma premissa interessante, mas a execução deixa a desejar, com pouquíssimo espaço para que os costumes barzanianos sejam realmente explorados de forma a criar uma atmosfera É que entendamos o drama do Dr. Attis (Jake Epstein) para além das tecno-baboseiras que explicam o que aconteceu e da situação direta de perda de entes queridos. O que quero dizer é que o fato de ele e Nhan serem barzanianos não afeta em nada o desenrolar da narrativa, com exceção da decisão um tanto quanto estranha de Nhan – e, novamente, sem tempo para ganharmos contexto – de ficar na Tikhov.

Por outro lado, é interessante notar como Hugh Culber tem ganhado destaque na série. É o segundo episódio seguido em que sua presença é importantíssima para o desdobramento da narrativa, especialmente na forma como ele lida com Michael. É impossível não traçar o paralelo dos dois com Kirk e Magro na Série Original e, se for essa a intenção dessa participação mais constante de Wilson Cruz, confesso que me parece uma ótima escolha. Além de Hugh, vale destaque o sensacional interrogatório de Philippa Georgiou por ninguém menos do que David Cronenberg em sequências que parecem até mesmo desconectadas com todo o restante e que talvez armem o tão falado spin-off da Seção 31. Seja como for, fica a curiosidade para saber o que ele contou para a ex-imperadora terrana que a fez ficar literalmente perdida em pensamentos ao final…

O fato de a Discovery ter chegado à Federação/Frota antes da metade da temporada significa que Alex Kurtzman e Michelle Paradise ainda têm muita coisa planejada para a série. Será muito interessante ver como a única nave capaz de novamente criar a união entre planetas será usada e fico aqui pensando se a primeira providência de Vance não será envidar todos os esforços científicos possíveis para replicar o motor de esporos de maneira a reverter o quadro de isolamento em que esse universo ainda mais futurístico vive.

Star Trek: Discovery – 3X05: Die Trying (EUA, 12 de novembro de 2020)
Showrunners: Alex Kurtzman, Michelle Paradise
Direção: Maja Vrvilo
Roteiro: Sean Cochran (baseado em história de James Duff e Sean Cochran)
Elenco: Sonequa Martin-Green, Doug Jones, Anthony Rapp, Mary Wiseman, David Ajala, Wilson Cruz, Rachael Ancheril, Michelle Yeoh, Tig Notaro, Emily Coutts, Blu del Barrio, David Cronenberg, Oded Fehr, Vanessa Jackson, Jake Epstein
Duração: 56 min.

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