Home TVEpisódio Crítica | Star Trek: Discovery – 2X14: Such Sweet Sorrow: Part 2

Crítica | Star Trek: Discovery – 2X14: Such Sweet Sorrow: Part 2

por Giba Hoffmann
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– Contém spoilers do episódio. Leia nossas críticas dos filmes e séries de Star Trek, aqui.

Mais ainda do que o ápice cataclísmico dessa segunda temporada, Such Sweet Sorrow: Part 2 é provavelmente o episódio mais decisivo para Star Trek: Discovery desde sua estreia. Com uma guinada radical prometendo mudar os rumos da produção daqui em diante, o desfecho parece querer adereçar tanto o encerramento da trama do Anjo Vermelho quanto de todo o ciclo de aventuras da USS Discovery pelo século XXIII. Com praticamente uma hora inteira da mais pura batalha espacial, é através de um show empolgante de phasers e kung-fu anti-gravitacional que tais premissas são levadas a cabo.

O resultado é um misto curioso cujo aproveitamento, assim como o da temporada como um todo, dependerá bastante das expectativas esboçadas pelo espectador a respeito da série. Tomado por si só, o episódio é sem dúvida uma hora sólida de sci-fi espacial e traz todos os ingredientes para merecer ser considerada uma produção televisiva excelente — um feito admirável, dada a péssima preparação de campo efetuada pela primeira metade do finale. Por outro lado, é impossível não levar em conta que não se trata de qualquer sci-fi espacial, mas sim de Star Trek.

Para uma trama recheada de paradoxos temporais, corpos celestes sencientes e combate contra uma inteligência artificial revoltosa, o desfecho obtido aqui é surpreendentemente bem pouco cerebral. Os grandes pontos fortes da série continuam a ser a apresentação visual e a construção de personagens, e o episódio parece bastante consciente disso. A batalha espacial entre a dupla Enterprise & Discovery e as forças de “Leland” (Alan Van Sprang) nos fisga desde o primeiro minuto com tensão convincente e ação inescapavelmente empolgante. Só nos primeiros 20 minutos de tela, temos mais agitação do que em todo o episódio anterior inteiro.

Nossas naves estão com a comunicação cortada com o restante da Frota Estelar, e devem fazer de tudo para proteger a Disco a tempo de que o traje do Anjo Vermelho esteja pronto para elevar Michael Burnham (Sonequa Martin-Green) ao posto angelical que lhe era telegrafado como de direito desde o início da temporada. A dinâmica acelerada entre as duas tripulações consegue equilibrar de forma bastante crível o estilo tradicional das batalhas do tipo em Trek (comandantes trocando blefes a torto e a direito enquanto todos engolem seco na ponte de comando) e algo que parece mais saído dos momentos mais hiperbólicos de Star Wars.

Enquanto os capitães Pike (Anson Mount) e Saru (Doug Jones) se esforçam para coordenar esforços em uma situação de probabilidades impossíveis, uma infinidade de pequenos caças se degladia com dispositivos controlados pela mente de colméia de Control, e a Rainha Me Hani Ika Hali Ka Po (Yadira Guevara-Prip) parte em uma heroica missão suicida para tentar fazer algo complexo e muito inteligente, mas que quase me escapou completamente em meio ao caos armado. Por sorte, a direção de Olatunde Osunsanmi carrega bem a entremeagem de linhas narrativas postas para trabalhar aqui, evitando o sentimento de dispersão do capítulo anterior.

Não há aqui qualquer surpresa ou plot-twist de última hora: tudo acontece da forma como as peças do roteiro parecem exigir que acontecesse e, sendo francos, não havia mesmo tempo ou estrutura para comportar novas surpresas a essas alturas do campeonato. No que se propõe a cumprir, a execução felizmente consegue evitar os erros prenunciados na primeira metade do finale, entremeando de forma mais orgânica os desenvolvimentos de personagem com os do enredo.

É claro que o eternamente azarado Stamets (Anthony Rapp) seria o primeiro do elenco principal na fila para servir de tributo aos deuses da tensão narrativa — ainda mais depois da escapada de mestre da oficial Reno (Tig Notaro) após todo o terror tocado no episódio anterior. A situação felizmente é bem aproveitada para trazer um reencontro significativo com Culber (Wilson Cruz), aproveitando-se astutamente da montagem de cenas do episódio anterior para nos deixar em suspenso a respeito de sua real presença ali ou não.

Mais imprevisível foi o sacrifício da Almirante Cornwell (Jayne Brook), que jogou justo com o fanservice ao aproveitar bem o restinho de tempo de tela da nova Número Um (Rebecca Romijn) para formar um bom núcleo emocional em torno da Enterprise e de um Capitão Pike que corria o risco de acabar jogado para escanteio nessa reta final. O que, convenhamos, seria a maior injustiça, já que o cara foi uma das mais gratas surpresas dessa temporada.

Outro bom desenvolvimento foi o da dupla central Michael e Spock (Ethan Peck). O meio-vulcano conseguiu crescer muito bem e de maneira orgânica nessa segunda metade da temporada, passando de MacGuffin perdido a uma revisitação competente e bem dosada do personagem icônico. Lado a lado com os outros personagens, a encarnação de Peck faz valer a empreitada e adiciona ao show sem roubar os holofotes.

É na frente dessa dupla que a série consegue, aos 45″ do segundo tempo, fazer um uso narrativo realmente interessante de seu (agora encerrado) status como prequel. Por nós sabermos, baseados na cronologia estabelecida, que se trata da despedida definitiva entre eles, a aventura final dos irmãos lado a lado adquire ares significativos sutis e convincentes. Alguns podem achar que o elemento “Michael pede para Spock encontrar Kirk” é um exemplo de protagonismo forçado, mas é certo que se trata de um pequeno aceno em meio a uma relação que felizmente consegue ser bem desenvolvida para além disso.

Fechando o círculo completo dessa trama, a viagem retroativa de Michael apenas pontua momentos de roteiro já bem explorados, e percorre terreno já batido ao sinalizar (como se fosse alguma novidade) que os sinais vermelhos designavam elementos necessários para o combate final. Ao menos a incrível realização visual dessas sequências faz mais do que valer o ensejo. Apesar disso, não é o bastante para afastar a impressão de que a ameaça de Control não se sustenta muito bem para além de armar a situação de forma um tanto forçada. Afinal de contas, se Leland estava a bordo da Disco (derrotado definitivamente ou não — difícil saber), isso meio que não eliminava toda a necessidade de se transportar a nave para o futuro distante?

“É só não querer pensar demais que a coisa funciona!” Essa impressão me acompanhou com especial força ao longo dessa reta final da temporada, e não é muito diferente aqui. Uma posição mais sarcástica poderia se valer da citação que Spock faz a Neil deGrasse Tyson de que “o universo não tem nenhuma obrigação de fazer sentido para você”, e dizer que em alguns momentos a produção confere a mesma filosofia aos seus roteiros. Em todo caso, dentro de toda a trama ambiciosa que se propôs a explorar, a saga do Anjo Vermelho encontra em Such Sweet Sorrow: Part 2 um desfecho empolgante recheado de emoção, ação e bons momentos de personagem. Totalmente no escuro quanto ao futuro da Disco e de sua tripulação, a série nos mantém mais curiosos do que nunca a respeito de seus encaminhamentos futuros. Mas não teria Discovery queimado muito de seu combustível narrativo com essa guinada radical? Confira em breve nosso balanço da temporada para uma nota de encerramento sobre o tema e, é claro, o tradicional ranking de episódios!

Star Trek: Discovery – 2X14: Such Sweet Sorrow: Part 2 (EUA, 18 de abril de 2019)
Direção: Olatunde Osunsanmi
Roteiro: Michelle Paradise, Jenny Lumet, Alex Kurtzman
Elenco: Sonequa Martin-Green, Doug Jones, Anthony Rapp, Mary Wiseman, Anson Mount, Shazad Latif, Ethan Peck, Wilson Cruz, Michelle Yeoh, James Frain, Mia Kirshner, Tig Notaro, Rachael Ancheril, Rebecca Romijn, Emily Coutts, Patrick Kwok-Choon, Oyin Oladejo, Ronnie Rowe, Sara Mitich, Sonja Sohn, Alan Van Sprang, Yadira Guevara-Prip, Hannah Spear
Duração: 48 min.

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