Número de Temporadas: 23
Número de episódios: 308 até o momento + longa-metragem
Período de exibição: 13 de agosto de 1997 até hoje em dia.
Há reboot?: A série ainda está em andamento, com a 24ª Temporada prevista para 2021.
Eu nunca fiz uma maratona completa de South Park, ou sequer de uma temporada inteira para ser honesto, mas me considero um fã da obra. Sempre que possível assisto episódios aleatórios, amo o filme e também adoro os jogos, e dentro do estilo de comédia absurda e extremamente ofensiva (em linguajar, visual e tópicos, mas nunca detectei um discurso de ódio ou preconceito no show, ainda que controvérsia é a essência da série), sempre me foi claro a abordagem moral das piadas imorais da obra. Os criadores da animação, Matt Stone e Trey Parker, já disseram muitas vezes como não existe tema ou grupo social isento de sátira, e não é como se eles precisassem frisar isso, pois uma pequena olhada em alguns episódios já expõem o teor humorístico caoticamente absurdo e ilimitado da animação.
South Park é uma das poucas séries que te fazem pensar/dizer: “eles falaram isso mesmo?”; “não acredito que fizeram essa piada”; “isso deu processo”. E não são questões que surgem raramente, mas sim ponderações que aparecem constantemente, em praticamente todo episódio. E esse choque cômico, como dito, é recheado de críticas sociais, políticas, religiosas, e outros inúmeros assuntos polêmicos. Considerando a longevidade da série aliada com esse humor provocativo e controverso, que já gerou uma abundante quantidade de reações conflituosas com vários grupos, é fantástico perceber como ela se manteve fiel a seu estilo satírico polemicamente questionador apesar das altercações.
Essa pequena “introdução” à essência cômica da série foi feita com o intuito de apresentar a inesperada composição do primeiro episódio, Cartman Gets an Anal Probe, que, pelo título, já demonstra o cunho humorístico obsceno da série, mas que trata de uma narrativa bem menos preenchida de uma sátira social, vista em temporadas posteriores, promovendo um humor mais pelo choque visual e linguístico, do que necessariamente examinar algum tópico específico. É bem interessante esse retorno às origens da obra, que ainda não continha essa identidade de alfinetar ideologias, mas já apresentava o humor completamente bizarro. É quase como ver a essência da série sem um pente fino de análise social, e, felizmente, a qualidade cômica não decai em nada, só difere a experiência esperada.
O piloto apresenta o grupo de amigos composto por Eric Cartman, Kenny, Stan e Kyle, que vivem na cidade de South Park, Colorado. Sem nenhum rodeio, o roteiro da série revela seu estilo de humor, com o grupo infantil xingando, brigando e até mesmo chutando bebês (uma das gags clássicas da obra). Por ser familiarizado com o show, já esperava tais piadas, mas é extremamente divertido imaginar quem experimentou a série pela primeira vez. Só para ter uma base, o episódio inicia-se com a discussão dos jovens no ponto de ônibus sobre o pesadelo do Cartman, no qual aliens o abduziram e colocaram aparelhos no seu ânus, com seus colegas constantemente tentando fazer Cartman perceber que tudo aconteceu de verdade, pois o irmão mais novo de Kyle, aquele que era chutado, foi abduzido diante deles.
Esse episódio é de uma incoerência e timing de comédia perfeitos. Os criadores da animação usam a comicidade provocativa e o praguejamento para chocar, mas não de modo para apenas abalar, manuseando o ultraje para simplesmente fazer rir. Esse é o ponto que mais gostei dentro do piloto, afinal, o objetivo não é polemizar, e sim usar desse artifício para proporcionar um divertimento “grosso”. Cada piada controversa, situação surreal, referência à cultura pop (e têm muitas), tem o solene propósito de trazer gargalhadas. Ainda que goste bastante dos episódios atuais, abarrotados de camadas problemáticas da nossa sociedade, foi um conforto ver o núcleo da animação sendo usada apenas para divertimento, sem significados ou comentários como pano de fundo das piadas.
Também é interessante notar como o entorno do grupo principal auxilia na construção do humor negro e violento, com personagens adultos que são seres completamente desprezíveis e irresponsáveis, o estilo cínico dos diálogos, a trama insana mas simplória de acompanhar e, especialmente, a animação de recortes, que lembram papéis em movimento, passando uma simplicidade e um quê de descaso, casando muito bem com a vertente de profanidade da narrativa. O fato das palavras de baixo escalão e os insultos saírem das bocas de crianças é a cereja no bolo da animação, e deste piloto que dá aula de como usar comédia polêmica para meramente provocar riso, algo que evoluiu e mudou bastante ao longo do show, mas, independentemente da visão dada por Matt e Trey, South Park sempre será uma obra-prima de sitcom adulta animada, e mesmo que tenha seus altos e baixos, é, sem sombra de dúvidas, um dos maiores feitos para o gênero da comédia na história do audiovisual.
South Park – 1X01: Cartman Gets an Anal Probe – EUA, 13 de agosto de 1997
Criação: Trey Parker, Matt Stone
Direção: Trey Parker
Roteiro: Trey Parker, Matt Stone, Dan Sterling, Brian Graden
Elenco: Trey Parker, Matt Stone, Isaac Hayes, Franchesca Clifford, Mary Kay Bergman
Duração: 22 min.