É bem marcante a memória da primeira vez que ouvi Faith No More. Como foi com muita gente, assisti o sensacional clipe de Epic passar na MTV, ainda que bem a frente do tempo que foi lançado, continuava a ser exibibido como um clássico. Além do espetacular clipe, aquela banda me chamou atenção por vários motivos: o som carregado de peso, mas com uma espécie de funk alinhado ao seu lado metaleiro, assim como uma certa loucura que se destacava na performance do vocalista Mike Patton. O Faith No More viria a passar por diversas fases e sempre se mostrando imprevisível, com apenas aquela “loucura” presente em todos seus trabalhos. E isso não é diferente em Sol Invictus, o retorno da banda após 18 anos de seu último disco, Album Of The Year.
Faith No More nunca foi uma banda constante. Não mesmo, visto os mais de 10 anos de hiato. Mas o real ponto que quero afirmar aqui é sua sonoridade. O que se vê através de seus álbuns é que não há como prever qual será o próximo passo do grupo. E Sol Invictus tem uma aura diferente de tudo que a banda já fez. Entitulado com o nome do deus romano do sol e patrono dos soldados, o álbum possui uma certa obscuridade do início ao fim, faz inúmeras referências a religião e abusa de um peso e experimentalismo distinto dos trabalhos anteriores.
A faixa homônima que abre o disco mostra toda esse imprevisibilidade. Em uma espécie de marcha fúnebre e de letra cheia de menções religiosas acaba servindo como uma ótima introdução. A sequência é marcada por Superhero, primeiro single, que carrega um potencial imenso com arranjo pesado e letra bizarra que parece referenciar autoritarismo religioso. O grande problema dela é passar um falso “experimentalismo” que além de, na verdade, não experimentar nada, se perde em uma repetição desgastante. Esse parece ser o grande deslize de Sol Invictus, visto que o mesmo erro volta a ser cometido em Separation Anxiety com o refrão sendo repetido incessantemente pela insana e assustadora voz de Patton.
Cone Of Shame se mostra uma faixa criativa provando como Faith No More não gosta de permanecer no comum. Bastante obscura, a faixa do “cone da vergonha” tem narração nos moldes de Thriller, e desaba com um instrumental fantástico ao seu final. Por outro lado, o problema da repetição poderia voltar a se repetir no segundo single, Motherfucker, se não fosse sua distinção e importância em relação ao resto do disco, seu modelo irresistível pra cantar e que, involuntariamente ou não, mostra no refrão um teor cômico típico da banda (Get The Motherfucker on the phone, the phone/ Hello Motherfucker/ My Lover).
Se por grande parte do álbum você não vê o groove característico da banda, ele surge em Black Friday em tom macabro, mas quase dançante. Esse lado funk metal aparece também em Sunny Side Up e Matador, que lembram o Faith No More do clássico The Real Thing, sendo as melhores do disco (principalmente a segunda, cheia de variações melódicas), com os vocais hora melódicos, hora esganiçados do grande Mike Patton. É impressionante suas qualidades como intérprete, tomando tons diferentes e impensáveis com sua voz. Sua performance vocal é responsável por fazer canções medianas como Rise of the Fall serem escutadas mais vezes.
Tudo se encerra com a canção mais alheia ao álbum, mas que cai como uma luva para o fim deste. Em clima acústico e melódico, com um ar positivista que conflita com a obscuridade anterior, segue From The Dead com os derradeiros versos “Welcome Home My Friend” saudando o retorno do Faith No More. Por sinal, um dos retornos mais bem vindos entre as recentes voltas de algumas bandas. Simplesmente porque se trata de Faith No More, onde “mais do mesmo” não existe.
Aumenta!: Matador
Diminui!: Separation Anxiety
Minha preferida: From The Dead
Sol Invictus
Artista: Faith No More
País: Estados Unidos
Lançamento: 19 de maio de 2015
Gravadora: Reclamation Records, Ipecac
Estilo: Metal Alternativo, Funk Metal