Alcançar o desfecho de Sobreviventes, um exemplar acima da média no segmento horror ecológico, é atravessar uma história com muitos soluços e poucos gritos. É o contrário daquilo que esperamos ao ver um casal tentando colocar o relacionamento em ordem e acabam surpreendidos por uma ameaça grandiosa em meio ao tal retiro, isto é, um urso furioso e perigoso, obstáculo adicional numa trajetória que envolve a perda do rumo diante do caminho estabelecido e os contratempos da falta de água, conforto e comida para garantir a mínima chance de sobrevivência num ambiente impróprio para a manutenção humana. Baseada num acontecimento contemplado pela mídia em 2005, quando um casal foi surpreendido por um ataque de urso enquanto acampavam para a realização de uma trilha, a produção toma algumas liberdades em prol do desenvolvimento narrativo orgânico da narrativa, escolhas que nem ajudaram muito a história a deslanchar como material de entretenimento mais massivo, haja vista a letargia da primeira metade e de uma porção da segunda parte, superlativamente longa para um filme com poucos personagens e estrutura narrativa basilar que exige dos realizadores mais movimento interno para que o espectador mantenha-se interessado até os minutos finais.
Dirigido por Adam McDonald, cineasta que se baseia pelo próprio roteiro, Sobreviventes é uma aventura com altas doses de suspense, eficiente na sua busca por trilhar um caminho inicialmente, mas depois nos levar para uma montanha-russa de emoções totalmente diferente do imaginado como proposta basilar. No enredo, acompanhamos um casal que atravessa uma crise relativamente considerável na relação. Ela, Jaqueline Perry (Missy Peregrym), é uma advogada acostumada com os prazeres da vida urbana, interessada no enxame de gente da civilização. Ele é Mark Jordan (Jeff Roop), um homem com espírito aventureiro, interessado em promover algo diferente para o namoro em fase de desgaste. Como já mencionado, inspirado numa história ocorrida em 2005, o filme flerta com os clichês básicos deste segmento cinematográfico, mantendo-se atrelado ao desenvolvimento dos personagens em sua primeira meia hora, tendo em vista o estabelecimento da catarse mais adiante. Primeiro, somos apresentados ao casal se divertindo com piadas, cantando juntos no carro, rumo ao estacionamento na entrada do parque ecológico.
Eles chegam ao local e o atendente insiste na compra do mapa, mas Mark é arrogante demais para aceitar a ajuda de alguém que diferente dele, não conhece “aquele local como parte marcante de sua infância e adolescência”. Na postura de dono do conhecimento, o jovem homem nega a indicação e segue com a companheira para se embrenhar pela floresta. Atravessam uma longa faixa territorial e param para acampar em sua primeira noite. Uma atmosfera de suspense é criada logo nos primeiros caminhos trilhados, pois Mark parece ter esquecido alguns pormenores territoriais e passam a impressão de que está ligeiramente perdido. No entanto, não consegue a tranquilidade suficiente para assumir que está errado e segue seus próprios interesses. Enquanto se organizam, o casal é surpreendido por um estranho, Brad (Eric Balfour), figura enigmática que parece nos indicar que o filme vai trilhar por uma via diferente do que aparentemente seria. A sua presença, no entanto, é apenas uma distração para uma narrativa que até o momento, não tinha dito muito sobre a sua proposta e se bifurcava pelo marasmo com previsão de tédio.
Essa impressão fica por mais alguns instantes, até que o embate de egos entre Mark e o visitante inesperado, Brad, se encerra, com o casal a seguir novamente o planejado. O problema é que eles se perdem na travessia, entram em crise, discutem sobre a proposta de casamento que Jaqueline receberia do parceiro, dentre outras celeumas para engrossar o caldo das subtramas e nos levar ao ápice da tensão, tardia, mas até funcional em seus poucos minutos de duração. A forma como o urso ataca o casal e os coloca num espiral de horror é intensa. O potencial é alcançado graças ao eficiente trabalho de Christian Bielz na direção de fotografia, sempre a colocar personagens num canto dos amplos quadros, dando a ideia de ameaça inesperada a surgir dentro de qualquer instante em cena. Além da câmera que enquadra e se movimenta bem, Sobreviventes conta com uma trilha sonora razoavelmente interessante, composição assinada por Vince Nudo, bem como efeitos especiais supervisionados por David Scott, setores fundamentais para o desenvolvimento de um texto associado ao segmento horror ecológico. A narrativa ainda não é “o” filme que esperamos com a presença de um urso predatório e ameaçador, mas consegue ser melhor que muitos filmes bizarros com animais assassinos, lançados aos montes anualmente.
Sobreviventes (Backcountry, Canadá – 2014)
Direção: Adam MacDonald
Roteiro: Adam MacDonald
Elenco: Missy Peregrym, Jeff Roop, Eric Balfour, Nicholas Campbell
Duração: 92 min