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Crítica | Slumber Party Massacre (2021)

Uma refilmagem feminista do icônico slasher dos anos 1980.

por Leonardo Campos
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Um raro caso de slasher dirigido e escrito por mulheres, Slumber Party Massacre é a refilmagem do clássico homônimo que por aqui, ganhou o título de O Massacre, num relançamento recente da produção de 1982 em DVD. Divertido, dinâmico e com tessitura crítica bem estabelecida, esta nova leitura do maníaco da furadeira que persegue as suas vítimas incautas, geralmente corpos femininos, recebeu uma roupagem crítica que o torna criticamente relevante, mescla de entretenimento com reflexão, bem a cara do que venho a chamar de Slasher Contemporâneo, haja vista a falta de uma nomenclatura melhor, ainda não elaborada devidamente, para pensar os filmes deste subgênero na atual safra de personagens-legado e retomadas politizadas de realizações cinematográficas dos anos 1970 e 1980, agora com foco no subtexto atual.

Comportamentos e questões tecnológicas evoluíram bastante, mas a relação dos seres humanos com a violência ainda é uma abordagem tabu, principalmente os debates sobre a misoginia nas narrativas do tipo, geralmente pornográficas ao passo que gozam psicanaliticamente com a morte de mulheres ceifadas por assassinos, mascarados ou não, munidos das armas mais afiadas e pontiagudas que possam existir. Lançado em 2021, Slumber Party Massacre revitaliza o seu ponto de partida e troca a direção de fotografia voyeur do subgênero por consideráveis passagens de exaltação do corpo masculino, aqui apresentados em momentos de nudez que afugentam as discretas bundas e peitorais rapidamente exibidos nas produções de antigamente. O mote slasher do segredo do passado, do retorno macabro e da perseguição não exatamente explicável das motivações do assassino se mantém firme e forte, com poucas alterações.

Dirigido por Danisha Esterhazy e escrito por Suzanne Keilly, o filme basicamente traz a história de um grupo de garotas que se reúnem para um encontro de pijamas, festinha regada a risos, pipocas e outros elementos para diversão. Elas se deslocam para um local distante dos grandes centros urbanos, uma casa de campo situada à beira de um lago. Aparentemente, uma final girl logo é estabelecida: Dana (Hannah Gonera), uma jovem negra que expõe as preocupações do terror social contemporâneo, agora mais focado em eliminar histórias onde tínhamos apenas uma suposta sociedade exclusivamente branca, permitindo a presença realista de outros grupos no bojo do protagonismo de suas narrativas. No texto e na execução do filme de 1982, já tínhamos a paródia como direcionamento basilar para a composição da trama, algo potencializado nesta turbinada e muito divertida nova versão.

A história nega o resgate do antecessor e traz, tal como o recente Natal Sangrento. Na estrutura, soubemos que algo aconteceu no local onde as garotas estão em deslocamento. O preâmbulo faz o mesmo que a refilmagem de Sexta-Feira 13, isto é, apresenta um grupo de jovens sendo perseguidos e mortos, um a um, nalgum momento dos anos 1990. O desfecho desta eletrizante abertura vai até o momento em que um dos componentes aniquila o antagonista. Anos depois, os novos personagens seguem para o local, reencontram a morte representada pela violenta e sádica figura de Russ Thorne (Rob van Vuuren). Lutam o quanto podem, para descobrir que a memória macabra do lugar continua viva e atuante. Nós, espectadores, contemplamos esta experiência visceral e brutal com muita intensidade, numa boa mixagem de humor e terror.

De maneira autoconsciente, os clichês são utilizados em prol do desenvolvimento da narrativa. Escancaradas, tais estratégias visam brincar com o subgênero e trocar de lugar diversos elementos de suas habituais composições, tais como o olhar objetificado da direção de fotografia de Trevor Carlverley, agora focado no mencionado destaque para os corpos masculinos em divertidas cenas de banho no chuveiro ou na intimidade das cabanas que os habitam. Sim, no mesmo lugar em que as meninas se encontram, um grupo de rapazes também faz uma festa do pijama. Juntos, todos tentam um lugar no hall da sobrevivência, algo que para alguns será pura frustração, ao passo que o antagonista demonstra a sua impiedosa fúria com uma broca gigantesca, burlesca, capaz de destroçar vidas sem muito esforço. Ademais, ao passo que os 86 minutos de narrativa avançam, temos algumas reviravoltas e retorno de figuras do passado que adentram na batalha para ajudar as novas integrantes desta jornada de sangue e morte.

Devidamente ambientado, Slumber Party Massacre é um dos melhores exemplares de retorno aos conteúdos do slasher dos anos 1980. Reconhece as suas limitações e entrega, dentro de suas possibilidades, uma história coesa, curtinha e sem muita enrolação, além de fugir do marasmo, colocando em cena um ritmo consideravelmente empolgante. Contemplamos as mortes pela supervisão de efeitos especiais e maquiagem de Clinton Smith, setor que não poupa sangue e corpos desmembrados. Na direção de fotografia, já mencionada, a captação de imagens utiliza movimentações e enquadramentos que reforçam a sensação de perigo presente em todos os espaços deste local ermo e trevoso. O design de produção de Robert Cardoso resgata o clima dos primeiros filmes da franquia Sexta-Feira 13, com aspectos estéticos reforçados pela não memorável, mas eficiente condução sonora de Andries Smith, também assertivo na composição de sua textura percussiva. Em linhas gerais, um slasher que demonstra o quão importante é saber retomar histórias cristalizadas na memória cultural, neste caso, relendo-as e dando ao texto uma perspectiva coerente com os novos tempos.

Slumber Party Massacre (Idem, EUA – 2021)
Direção: Danishka Esterhazy
Roteiro: Suzanne Keilly
Elenco: Hannah Gonera, Frances Sholto-Douglas, Mila Rayne, Alex McGregor, Reze-Tiana Wessels, Rob van Vuuren, Jennifer Steyn, Schelaine Bennett, Masali Baduza, Michael Lawrence, Eden Classens, Nathan Castle, Richard White, Braeden Buys, Richard Wright-Firth, Arthur Falko, Reem Koussa, Jane de Wet, Larissa Crafford-Lazarus, Russell Crous, Dean Goldblum
Duração: 86 min.

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