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Crítica | “Sling” – Clairo

Um amadurecimento surpreendente em um segundo álbum magnífico.

por Handerson Ornelas
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Acredito que poucos que acompanhavam a carreira de Claire Cottrill – mais conhecida por Clairo – conseguiriam prever o caminho tomado pela artista em seu segundo álbum. A cantora, que ganhou popularidade muito cedo através de vídeos em redes sociais, estourou como um dos primeiros zennials a ganhar destaque na mídia musical. Enquanto em seu álbum de estreia explorava um bedroom pop na linha do que muitos de sua geração já fazem, o segundo trabalho da cantora – Sling – sintoniza o intimismo do folk dos anos 70 para capturar as angústias de uma jovem que não consegue deixar de temer o futuro reservado para si mesma.

Sling é um álbum introspectivo de extrema fragilidade e sutileza. O produtor queridinho da vez, Jack Antonoff, tem aqui um dos seus melhores trabalhos, ajudando Clairo a emular a atmosfera etérea e lo-fi suave do folk setentista sem que a música soe retrô ou voltada para o passado. Muito pelo contrário, a artista conversa muito bem com sua própria geração aqui. Clairo possui total foco em abordar suas experiências, o que faz com que muitas vezes seja impossível telegrafar a direção de seus versos. Enquanto em momentos não tem medo de entregar pensamentos mundanos no absoluto clímax de uma canção (em Bambi, canta que tirará uma foto para o armário do destinatário da canção), em outros – como na melancólica Just For Today – entrega conteúdos absurdamente vulneráveis, detalhando algumas de suas crises de pânico (“desde quando dar um tempo levou toda minha vida?“).

Joanie, faixa dedicada à cadela da artista, é possivelmente a epítome do amadurecimento de Clairo. Difícil encontrar artistas desse calibre que sequer tenham faixas instrumentais em seu portfólio, artistas que façam uma faixa instrumental desse nível de maestria diria que é um feito impressionante. A canção usa de belos arranjos de vozes e ótima progressão de bateria e teclado para transmitir uma gama de sentimentos contemplativos.  Por um lado, uma pura e singela felicidade ressaltada na inocência de brincadeiras e aventuras ao lado de sua fiel escudeira animal, enfatizando o elo entre humano e pet. Por outro, a melancolia ao constatar o nível de expectativa depositada nessa amiga canina e a epifania da solidão sem a presença da mesma. Um instrumental brilhante que bebe da fonte de Brian Wilson no auge de sua carreira.

No entanto, Sling é, acima de tudo, uma jovem meditando sobre os vários problemas que enfrenta – e ainda enfrentará – como mulher. O medo da responsabilidade de se tornar mãe um dia (Reaper), relacionamentos exaustivos e tóxicos (Little Changes e Harbor) e sentimentos de violação em situações de assédio (Blouse) são apenas algumas dessas angústias desabafadas por Clairo. E tudo isso vem envelopado com arranjos lindíssimos, por vezes acústicos e por vezes meticulosamente orquestrados, entregando um ar contemplativo romântico, não para com um outro ser, mas para consigo mesma. Na faixa de encerramento, a excelente Management, Claire reforça o sentimento de coming-of-age do álbum ao reafirmar que “faz isso para seu eu futuro, aquele que precisa de mais atenção“, ao mesmo tempo que admite que vai “esquecer de perdoar e segurar tudo” consigo mesma. É a dualidade entre o jovem e o velho. É o amadurecimento de Claire acontecendo diante de nossos ouvidos.

Aumenta!: Joanie
Diminui!:

Sling
Artista: Clairo
País: Estados Unidos
Lançamento: 16 de julho de 2021
Gravadora: Republic Records
Estilo: Folk, Indie folk, Indie Pop

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