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Crítica | Slam Dunk – Volume 1

Descobrindo o jogo.

por Kevin Rick
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Quem leu minhas críticas de Lakers: Hora de Vencer ou Arremessando Alto sabe que sou um grande fã da NBA, assim como quem me acompanha no site também sabe que tenho um carinho muito grande pelo universo de animes e mangás, apesar de nos últimos meses ter me afastado dessas obras – prometo que teremos mais críticas e consistência de material no site sobre as produções orientais para podermos debater. Mas, curiosamente, nunca consumi por completo a obra Slam Dunk, que reúne o basquete e a mídia japonesa em uma das produções mais famosas do gênero de esporte. Já vi muita coisa aqui e ali do material, principalmente quando era mais novo, mas com o lançamento do longa-metragem The First Slam Dunk, decidi mergulhar por completo no universo basquetebolista de Takehiko Inoue.

No primeiro volume do mangá, conhecemos o delinquente ruivo Hanamichi Sakuragi que, cansado de tomar foras das garotas que preferem os esportistas, decide se aventurar nas quadras da bola laranja para impressionar a simpática Haruko, uma garota que ama basquete e que convida o jovem para jogar na escola por conta de sua altura e atributos atléticos. Entremeio a algumas situações atrapalhadas do protagonista e algumas brigas por conta de seu pavio curto, conhecemos outros personagens da escola e o palco da narrativa: o ginásio e o time de basquete.

Inicialmente, confesso que fiquei um pouco surpreso com a mão pesada de Inoue no humor e na comédia romântica, utilizando a certa obsessão de Sakuragi por Haruko, sua “disputa” por seu flerte com o atleta Kaede Rukawa, do qual Haruko tem um crush, e algumas brigas escolares para nos apresentar seu universo. Alguns excessos típicos do humor japonês aparecem aqui, desde os comportamentos e reações exageradas de basicamente todos os personagens, até algumas piadas repetitivas e superficiais do protagonista meio pateta, meio brigão que encara tudo à sua frente com metade de um QI. Esses momentos me afastaram um pouco da leitura, apesar de Inoue criar algumas situações que são genuinamente divertidas, como a cena que Sakuragi bate a cabeça na tabela ou quando puxa o calção do capitão do time.

À medida que a história avança ao longo dos 9 capítulos do primeiro volume, fui entendendo melhor a proposta do mangaká: atrair o público alvo da Weekly Shonen Jump com alguns clichês e convenções de shonens, para aos poucos introduzir seus leitores ao jogo e às regras do basquete. O mangá é conhecido por ter popularizado o esporte no Japão, e aqui já comecei a entender os motivos na maneira como Inoue sabe driblar bem o público com certos atrativos comuns para encaminhar a história para o que ele verdadeiramente quer contar e abordar, com destaque para o nono capítulo, em que a condução da trama começa a ficar mais densa e interessante.

O autor até começa a criar alguns subterfúgios bacanas, seja a comédia em torno de Sakuragi sempre ser rejeitado, algo cada vez menos representado nesses animes de haréns absolutamente horrendos, seja a maneira que tem algumas dificuldades em torno do jogo, mesmo com seus talentos naturais. O próprio slam dunk (enterrada) é simbolicamente notável nesse sentido, já que é muitas das vezes o ato de destaque num jogo de basquete, mas que engana bastante os não conhecedores do esporte. Existem diversos atletas que conseguem enterrar, mas poucos com controle do lado mais intangível do jogo, das “pequenas coisas” que tornam alguns jogadores especiais, algo que começa a ser retratado aqui no capítulo nono que apresenta o lado básico do treino de basquete, do qual Sakuragi não quer tomar partido.

É nesse ponto que Slam Dunk começa a estabelecer seu tom de coming-of-age, trazendo temas como juventude transviada, propósito, trabalho em equipe e disciplina para compor o arco de evolução dramática dos personagens, em especial o esquentadinho Sakuragi. Claro que os diálogos são pra lá de expositivos e abordagem do roteiro é bem convencional para o alfabeto de obras de esporte, além de que os temas citados são mais apresentados e insinuados do que realmente articulados no primeiro volume, mas existe um bom nível de carisma e um interesse no jogo em si que elevam o material de Inoue.

Inclusive, a paixão por basquete do autor é personificada em sua belíssima arte. Existe uma diagramação metódica de Inoue em torno dos painéis que retratam o jogo, com ótimo senso de movimentação e fluidez, seja no simples ato de bater a bola num treino ou da força de uma enterrada, com uma abordagem realista que me encanta muito mais do que algo exagerado como Kuroko No Basket. Os traços dos personagens são relativamente comuns, mas vemos uma rica caracterização e personalidade para o elenco principal, com destaque para o próprio Sakuragi, o gigantesco capitão do time e a sarcástica Ayako. Mesmo novato, Inoue já sabia como impressionar e ser expressivo.

No fim, pode ter sido minhas expectativas exageradas ou o fato de que o primeiro volume tem realmente aquele caráter mais introdutório, com apresentação de personagens, cenários e pistas da história, mas considero o início de Slam Dunk bastante comum e convencional. Respeito a inteligência do autor em utilizar arquétipos e “sacrificar” sua própria narrativa em prol de atenção e recompensas futuras, mas temos que analisar o volume pelo que ele é: meio bobinho e muito clichê, com bons momentos e personagens divertidos. Vejo, porém, todo o potencial que conquistou fãs no mundo todo, com uma provável história de paixão pelo basquete e de um protagonista relacionável e intrigante mesmo em seu arquétipo do punk encontrando um objetivo, com o nono capítulo sendo uma virada de chave dramática e temática do mangá. Vamos ver os próximos volumes!

Slam Dunk – Vol. 1 – Japão, 1991
Contendo: Capítulos #01 a 09
Roteiro: Takehiko Inoue
Arte: Takehiko Inoue
Editora: Shueisha
Revista: Weekly Shōnen Jump
240 páginas

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