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Crítica | Slacker

Um bando de desajustados.

por Kevin Rick
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Slacker é um tipo de filme facilmente classificado como aleatório à primeira vista. A obra dirigida por Richard Linklater é um compilado de diferentes cenas num dia mundano em Austin, Texas. A câmera do diretor se move de uma conversa a outra sem qualquer tipo de linearidade específica ou foco em determinados personagens. Cada “pedaço” da história dura entre 5-10 minutos, com Linklater indo de personagem a personagem papeando sobre uma variedade de tópicos, desde literatura russa até teorias da conspiração. Existe, porém, um elemento em comum: todas as figuras que assistimos são parte de um conjunto de párias, desajustados, sonhadores e perdedores, da qual o termo americano “slacker” encapsula.

É exatamente por isso que a obra não é aleatória, mesmo em sua estranha estrutura e aparente falta de objetividade. Na verdade, Linklater está interessado em pintar um panorama geral de uma nova geração emergente no final dos anos 80 e início dos anos 90, caracterizada por estarem às margens das convenções e ambições sociais – algo que podemos traçar paralelos ao movimento hippie dos anos 60/70. O senso de arbitrariedade da narrativa passa à audiência uma sensação de descaso com qualquer tipo de padrão ou protocolo, seja cinematográfico ou societário, o que é bem interessante em termos de estilo e manifestação visual deste modo de vida. Também é possível notar um certo realismo, uma espécie de documentário ficcional urbano, na intenção do cineasta, algo que ele dominaria em obras posteriores.

Ademais, Linklater parece estar em um período de teste como artista. Temos, como disse, um retrato realista da subcultura em foco, enfatizado pelos diálogos crus, os momentos soltos e ordinários da história, a impressão de que a série de eventos é improvisada (ainda que bem arranjada em seus planos-sequências e transições de encontros), e até na estética inexpressiva das ruas de Austin. Mas a obra contém pequenos fragmentos de surrealismo, em especial a sequência de atropelamento de uma moça; toques de humor deadpan em algumas interações e expressões apáticas; e muita comédia observacional nos constrangedores e hilários solilóquios e reflexões pseudo-filosóficas dos personagens sobre política, literatura, ícones artísticos e, claro, alienígenas.

Quando a obra acaba numa filmagem bagunçada e quase-metalinguística de um grupo de slackers apenas vivendo e se divertindo às margens das normas sociais, podemos refletir que aprendemos e rimos sobre um grupo de pessoas, geração ou seja lá como queira caracterizá-los. Enfim, Slacker não é aleatório, mas definitivamente é experimental. Mesmo gostando da proposta e do direcionamento técnico de Linklater, é meio difícil ver a obra como uma grande experiência em seu vasto amadorismo ou ter algum tipo de sentimento e envolvimento em suas casualidades e anedotas narrativas. Sinto especialmente uma falta de conexão e carisma com os diferentes rostos que acompanhamos, atrapalhando bastante o ritmo da fita que gradualmente se torna repetitiva. Dito isso, podemos ver um artista fantástico em formação, dando os primeiros indicativos de trabalhos posteriores melhores executados, e se posicionando como o grande expoente slacker que Linklater se tornou.

Slacker – EUA, 1991
Direção:
 Richard Linklater
Roteiro: Richard Linklater
Elenco: Vários
Duração: 100 min.

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