Originalmente lançado online em capítulos por seu próprio autor, Hugh Howey, Silo (Wool, no original), primeiro capítulo de uma trilogia pós-apocalíptica, foi compilado e editado na forma de romance e publicado como tal em 2012. Sua primeira adaptação para outra mídia se deu não muito tempo depois, em 2014, com Justin Gray e Jimmy Palmiotti arregaçando as mangas para levar o romance para os quadrinhos para publicação independente pela Jet City Comics em seis edições ao longo de apenas três meses, com o lançamento da versão encadernada alguns meses após, como é o formato da indústria de quadrinhos americana.
O trabalho de Gray e Palmiotti segue, com bastante proximidade, o material fonte, só oferecendo mesmo algum tipo de alteração mais radical na forma como a dupla aborda o final do romance que muitos consideram anticlimático, criando eles mesmos uma versão que eu pessoalmente considero tão anticlimática quanto, só que acaba sendo mais interessante. Seja como for, se o leitor do livro procura uma transposição eficiente para os quadrinhos, ele a encontrará na graphic novel, já que nada é deixado de fora, mas também nenhum problema da obra de Howey é corrigido.
A história lida com uma distopia em que a Terra tornou-se tóxica e a humanidade vive em um silo de 144 andares debaixo da terra sob regras estritas reunidas no Pacto que proíbe, dentre outras coisas, que qualquer um sequer mencione que gostaria de ir para o lado de fora, sob pena de a pessoa ser irrevogavelmente mandada para fora para a morte certa. Nesse ambiente sufocante e opressor, uma série de mortes encadeadas que começam com a do xerife Holston, que perdera sua esposa três anos antes, levam a nova xerife Juliette Nichols, uma engenheira que vem dos níveis mais inferiores do silo, a descobrir os segredos da única realidade que conhece. Trata-se de um conceito interessantíssimo que tem como subtexto a manipulação da informação como instrumento de controle, já que até mesmo o transporte entre as partes mais profundas e mais altas do silo se dá unicamente por meio da escada caracol no centro, o que naturalmente aumenta sobremaneira as distâncias.
E, assim como acontece no romance, Gray e Palmiotti consegue estabelecer muito bem a mitologia desse futuro claustrofóbico da humanidade, com a arte de Jimmy Broxton funcionando como um ótimo veículo visual para toda a ambientação. Por outro lado, a dupla de roteiristas não tem material suficiente para suprir a maior carência do romance, que é a caracterização dos personagens. Enquanto é perfeitamente compreensível que os coadjuvantes não ganhem muita atenção do texto, o problema torna-se mais evidente quando a própria protagonista parece mais uma heroína de ação rasa, sem grandes motivações para além de tragédias pessoais de anos atrás que a levaram a se afastar do pai. Falta substância para Juliette no material base, pelo que é natural que falte também na HQ que, porém, por conter o elemento visual, cria mais facilmente a conexão do leitor com a protagonista, ainda que, nesse aspecto Broxton pudesse ter trabalhado de forma a não fazê-la parecer uma adolescente.
No entanto, no final das contas, creio que haja valor nessa proximidade talvez exacerbada com o romance de Howey. Primeiro, para quem leu a obra original, a HQ funciona como um completo visual muito cuidadoso de todos os aspectos desse fascinante universo. E, depois, para quem não leu e não tem a intenção de ler o razoavelmente longo romance (olha a preguiça!), encontrará na graphic novel um perfeito e conveniente substituto que transmitirá as mesmas mensagens e as mesmas sensações em muito menos tempo e com a ajuda da muleta visual para facilitar tudo.
Silo (Wool – EUA, 2014)
Contendo: Wool #1 a 6
Roteiro: Justin Gray, Jimmy Palmiotti (baseado em romance de Hugh Howey)
Arte: Jimmy Broxton
Letras: Bill Tortoloni
Editora: Jet City Comics
Data original de publicação: junho a agosto de 2014
Páginas: 156