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Embora não tenha “caído” para o patamar menos interessante que se viu em Dirt, Closer certamente deu uma segurada no desenvolvimento real da série, especialmente se compararmos com as novidades trazidas no episódio passado, Ripe. Esta segurada, porém, teve um motivo. Com a comemoração do estranho Calhoun Day, a “base importante” da cidade de Wind Gap se reuniu em um único espaço, o que nos deu a oportunidade de ver todos os personagens que de alguma forma são importantes para o andamento da investigação dos assassinatos (e para a reportagem de Camille) reagindo uns aos outros. E neste ponto, é impossível não destacar a soberba direção e montagem de Jean-Marc Vallée, especialmente em toda a sequência da festa, com um tratamento de ponto de vista triangular realmente aplaudível.
Vallée é o tipo de diretor que se diverte mostrando pontos de vistas distintos. Ao mesmo tempo, ele se utiliza de um planejamento de ângulos, planos e estruturas cênicas que manipulam descaradamente a visão do espectador sobre o que está acontecendo. Isso se mostrou já em Vanish e teve, até então, a sua melhor representação em Fix, mas aqui em Closer essa dinâmica de alteração de visões e de troca de impressões para o público chega a um outro nível. Para conseguir um inicial impacto, o diretor estabeleceu planos mais fechados ou com um maior número de campos de ação para as tomadas internas, com o intuito de contrastar esse cenário com o grande número de externas, onde as composições cheias levantam outro tipo de diálogo com o espectador. Se no início, o roteiro de Scott Brown não fez muito para favorecer a base, essa longa sequência chega quando todos os convidados para o Calhoun Day estão bebendo e comendo no quintal de Adora, abraçando aí tudo o que precisava para terminar de apresentar os coadjuvantes.
Aqui, vemos Camille mais uma vez às voltas com um comportamento insuportável de Amma, mas com um twist diferente, no entanto. A relação entre elas é um misto de birras comuns entre irmãs, só que dentro do Universo de Sharp Objects ganham um significado bem mais intenso. As diferenças de personalidade e os tormentos das duas servem como pontes entre suspeitas, ameaças e até de condução para os blocos mais intensos da série, claramente desenvolvidos num modelo vicioso de conflito de gerações. Percebam que, aos poucos, os encontros entre Camille e Adora, mesmo os aparentemente sociáveis e simpáticos, são apenas uma desculpa mal dada para a agressão (ou passivo-agressividade) de uma delas, contendo revelações cruéis por parte da mãe, como a que temos nesse capítulo. Mesmo envolto em um episódio que “só” delineia aquilo que já conhecemos bem na série — ou talvez incite mais suspeitas por parte de um ou outro personagem –, Closer jamais perde a mão na maneira de representar os dramas pessoais, destacando-se a aceitação e algo que claramente se mostra como um tipo de vampirismo social (ou emocional) na relação entre os moradores da Casa Preaker.
À medida que a verdade sobre os assassinatos se torna mais distante de ser encontrada (acreditem: é um excelente recurso de roteiro que herda uma das melhores nuances do livro), Camille parece conhecer cada vez mais de si mesma, de sua mãe, de sua família. Aliás, a cidade — que inicialmente era um enigma — se abre em sua podridão para nos mostrar o que realmente é. Em Closer, vemos de perto algumas peças-chave para a resolução do caso, ou melhor, para o entendimento final sobre quem realmente são essas pessoas. Considerando que a temporada terá apenas 8 episódios (o que é ótimo, por sinal, embora nos deixe tristes dada a qualidade da série), já dá para esperar as três horas finais como grandes espetáculos de movimento por todos os lados. As consequências de algumas ações, em breve, começarão a aparecer.
Sharp Objects – 1X05: Closer (EUA, 5 de agosto de 2018)
Direção: Jean-Marc Vallée
Roteiro: Scott Brown (baseado na obra de Gillian Flynn)
Elenco:Amy Adams, Patricia Clarkson, Matt Craven, Betsy Baker, Zachary Barton, Guy Boyd, Will Chase, Henry Czerny, Madison Davenport, Stacy Fairley, Barbara Eve Harris, Sophia Lillis, Ericka Kreutz, Chris Messina, Ryan James Nelson, Randy Oglesby, Reagan Pasternak, Taylor John Smith
Duração: 52 min.