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Crítica | Shalako

por Luiz Santiago
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Baseado no livro de Louis L’Amour, lançado em 1962, Shalako tem um elenco misto de americanos e europeus e sua estrutura dentro do gênero western também acaba sendo um misto de abordagens culturais, a começar pela exploração do espaço, já que foi filmado na Espanha. A história é, em essência, muito similar à que conhecemos de um “cavaleiro solitário”, só que dessa vez vemos o personagem ligado a um grupo de europeus que está no Oeste americano praticando caça. Ambientado no Novo México, em 1880, o drama explora um choque cultural ao mesmo tempo que mantém as brigas entre indígenas e homens brancos, com pequenos espaços para diplomacia, esta, claro, diretamente ligada ao protagonista, vivido por Sean Connery.

Sendo o último faroeste da carreira de Edward Dmytryk (do ótimo Minha Vontade é Lei), Shalako traz um certo ar de despedida, de última batalha, inclusive com um encaminhamento esperançoso para o “cavaleiro solitário” da vez, concluindo a camada romântica da obra protagonizada por Connery e Brigitte Bardot. Embora esta não seja a única ocorrência amorosa da trama, torna-se a principal, até porque os dois lados da moeda estão deslocados de seu meio social, cansados de seguir sem rumo ou obedecer a determinados padrões que divergem de sua vontade e personalidade.

Sentir-se desconfortável em seu meio parece ser a tônica do longa. Mesmo Shalako, que tem conhecimento do território e dos Apaches, com quem já lutou anteriormente, encontra alguns dilemas nessa jornada. Os europeus, por sua vez, têm a maior desvantagem, insistindo em manter o luxo e as práticas de caça em um território que não apenas possui animais para o esporte, mas também grupos que protagonizavam lutas intensas. Questões como obediência aos limites de uma reserva indígena ou o cumprimento de acordos diplomáticos entre brancos e nativos acabam vindo à tona, trazendo a tiracolo o racismo e a desonestidade de determinados personagens, achando-se superiores aos Apaches e não dando a mínima importância para os tratados firmados.

A direção de Edward Dmytryk dá o máximo de atenção à movimentação dos grupos, criando uma atmosfera constante de ameaça através do desconhecido. Os Apaches são claramente os dominadores daquele terreno, enquanto os brancos só contam com Shalako como conhecedor não só da geografia, mas da cultura daquele território. As cenas nas ruínas do forte quase deslocam o tema da obra para um drama absurdo (porque é mesmo absurdo o que eles reproduzem naquele clima mediterrânico temperado), mas logo os enfrentamentos tomam conta do filme em todas as esferas, sendo a luta conta os indígenas uma porta aberta para “os finalmentes” dos núcleos românticos do roteiro.

Shalako é certamente um faroeste curioso, que eleva-se muito por conta de seu visual e que, por isso mesmo, caracteriza-se de forma bem distinta em relação às produções do gênero nos anos 1960. Como levantei no início da crítica, é uma mistura de abordagens culturais para o estilo (americano, euro e spaghetti western) com um resultado final no mínimo interessante. A alma um tanto luxuosa dos “dramas de corte” tipicamente europeus atrapalha uma parte da história — assim como o encaminhamento dado aos romances, no miolo da fita — mas aquilo que caracteriza de fato o western faz com que apreciemos Shalako, ao menos até certo ponto. Uma história de luta causada pela estupidez de estrangeiros em território indígena, com algumas sequências de grande tensão (a escalada) e um final capaz de trazer um pouco de felicidade. Ao menos nisso o protagonista é vencedor.

Shalako (Reino Unido, Alemanha Ocidental, EUA, 1968)
Direção: Edward Dmytryk
Roteiro: James Griffith, Hal Hopper, Scot Finch, Clarke Reynolds (baseado na obra de Louis L’Amour)
Elenco: Sean Connery, Brigitte Bardot, Stephen Boyd, Jack Hawkins, Peter van Eyck, Honor Blackman, Woody Strode, Eric Sykes, Alexander Knox, Valerie French, Julián Mateos, Don ‘Red’ Barry, Rodd Redwing, Chief Tug Smith, Hans De Vries
Duração: 103 min.

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