Após o sucesso de crítica e público em sua primeira temporada, Sex and The City estreou novos episódios para o seu segundo ano em junho de 1999, finalizando mais uma sequência de aventuras para Carrie Bradshaw e suas amigas em outubro, sendo indicada para vários prêmios da indústria televisiva, conquistando cada vez mais espaço e tornando-se um fenômeno cultural sem precedentes na contemporaneidade. Criada por Darren Star e com alguns capítulos dirigidos por Michael Patrick King, futuro diretor dos filmes da franquia, o programa elevou o nível das discussões e mergulhou ainda mais nos dilemas das mulheres novaiorquinas, mesmo que as suas questões sempre privilegiassem determinado nicho da sociedade, em linhas gerais, pessoas brancas, privilegiadas e bem-sucedidas da cidade que pulsa 24 horas por dia.
O que torna Sex and The City demasiadamente interessante não é apenas a qualidade do roteiro, focado em diálogos orgânicos com a escrita de Carrie Bradshaw, interpretada por Sarah Jessica Parker, para cada coluna publicada semanalmente num jornal de grande circulação na cidade. A empolgação vem das situações vividas pela protagonista e suas amigas, coisas que todos nós, na vida adulta, compartilhamos enquanto experiências no vertiginoso mundo dos relacionamentos. Independente de questões de gênero, autoestima balanceada, medos e inseguranças, posturas equivocadas que não dialogam com os nossos discursos, dentre tantas outras questões paradoxais expostas nos relatos de Miranda, Charlotte e Samantha Jones são facilmente identificáveis em nosso cotidiano. Naquilo que fazem conosco, mas também nas posturas que muitas vezes criticamos, mas que aderimos, algo próprio do ser humano.
Para Carrie Bradshaw, as coisas não serão nada fáceis neste segundo ano. Ao longo dos 18 episódios, ela coleciona uma série de experiências transformadas em divertidos relatos para a sua coluna: conhece um homem alcoólatra que a transforma em seu novo vício, num desfecho nada animador para o rapaz, sai com um homem que possui a família dos sonhos, mas ejacula precocemente em todas as tentativas de relação sexual durante os seus encontros, além de ter que lidar com um cara (interpretado por Jon Bon Jovi) que perde o interesse nas mulheres depois do primeiro contato sexual. Numa tentativa frustrada de terapia, a colunista tem o seu relacionamento com Mr. Big (Chris Noth) cutucado pela psicóloga que a acompanha, uma ferida que a personagem não parece habilitada para dar conta de compreender.
O retorno de Big é um dos grandes desafios para Carrie. Eles se evitam, mas depois acabam se reencontrando. O amor e o desejo ainda estão pulsantes e tudo isso se transformará numa montanha-russa de emoções para todos os envolvidos, inclusive as amigas, confidentes e apoiadoras da personagem em suas idas e vindas com o poderoso e charmoso empresário sem aquilo que, na atualidade, chamamos de responsabilidade afetiva. Eles voltam, intensificam a relação, Carrie tenta deixar coisas no apartamento do amado, sem sucesso, depois adentram em crises, principalmente após o tempo em que Big passa em Paris, situação informada de qualquer jeito para a colunista que esperava mais cumplicidade na relação.
A temporada acaba com o noivado dele com uma nova namorada, algo arrasador para o coração de Carrie, gancho para os temas debatidos no ano seguinte da série. Miranda Hobbes (Cynthia Nixon), cansada de se encontrar para falar de homens e decepções, entra em conflito com as amigas logo no começo da temporada, irritada com um grupo de mulheres bonitas, inteligentes e bem-sucedidas que medem as suas emoções apenas pelo sucesso ou fracasso no encontro com um homem. Dentre as principais aventuras da advogada, podemos destacar os orgasmos fingidos com um médico que entende do corpo humano, mas não sabe nada das zonas erógenas femininas, além dos encontros com um homem que a pede para falar sacanagem na cama, algo difícil para a personagem, mas conquistado e elevado ao máximo, terminando em constrangimento. É ainda neste ano que ela conhece o garçom Steve Brady (David Eigenberg), figura que se tornará recorrente ao longo da série, dos filmes e do revival de 2022.
A eterna romântica Charlotte York (Kristin Davis), símbolo do tradicionalismo, adota um cachorro depois de se cansar dos homens, prometendo, mesmo diante da descrença das amigas, evitar relacionamentos por um bom tempo. Logo mais, conhece Mr. Pussy, um solteiro cobiçado na cidade, famoso por levar as mulheres ao extremo do prazer com as suas habilidades orais durante o ato sexual. Num dos episódios mais divertidos de todo o programa, conhece um viúvo e começa a sair com ele, até descobrir que a visita do moço ao túmulo da falecida é uma estratégia para atrair outras mulheres preocupadas com a sua suposta solidão. Além de conhecer um cara com fetiche por pés e se relacionar com um confeiteiro que fica na fronteira da sensibilidade feminina e da heteronormatividade, assunto que renderia debates calorosos na atualidade, a personagem também se cansa das amigas por um determinado tempo e começa a andar com as suas novas amizades, um grupo de lésbicas que logo definirá a sua necessidade em se posicionar ou não dentro deste lugar de pessoas conscientizadas sobre o que querem da vida.
Há ainda espaço para a tentativa de unir o irmão e a esposa, separados depois de uma crise, situação que estabelece uma das tantas brigas da personagem com Samantha Jones (Kim Cattrall), a libertária sexual que em diversas ocasiões, vai irritar a romântica com as suas aventuras desinibidas e sem o dispositivo de controle ao qual se impõe Charlotte. E, sobre a relações públicas conhecida por deixar muitos homens aos seus pés, nesta temporada, iniciamos com o desfecho da relação com James, o homem ideal até o momento de revelações do ano anterior, isto é, um pênis insatisfatório para o furacão sexual que conhece o oposto do namorado, avantajado que a faz desistir da demanda na cama, transformando-o num amigo. Na dinâmica de suas divertidas e irreverentes aventuras, temos ainda um instrutor de ginástica conhecido por marcar as suas conquistas com um raio peculiar, um idoso que a promete o mundo, um casal de gays que a propõe sexo à três, bem como uma drag queen chamada Samantha, ex-namorado da personagem que decidiu usar este nome em homenagem ao seu antigo caso amoroso.
Dominada por diversos ótimos momentos, a segunda temporada de Sex and The City definiu o tom que continuaria nas próximas jornadas, ampliando o feixe de personagens e demonstrando a capacidade narrativa de uma comédia que assegura aos seus espectadores muito riso, reflexão, drinques exóticos e moda de elite, superfície para análises interessantes sobre o comportamento humano no bojo dos relacionamentos. Quase três décadas após o lançamento de sua primeira temporada, Sex and The City demonstra que determinados temas se tornaram coisas do passado, mas se analisarmos diacronicamente, teremos um olhar para o que de fato se discutia naquela época, tópicos temáticos que ainda hoje, são comuns em nossas rodas de conversa, afinal, a humanidade evolui, mas certos instintos continuam a nos acompanhar.
Sex and The City – 2ª Temporada (EUA, 1999)
Criadores: Darren Star e Karen Kirkpatrick.
Direção e Roteiro: vários.
Elenco: Sarah Jessica Parker, Kim Catrall, Kristin Davis, Cynthia Nixon, Chris Noth, David Eigenberg, Willie Garson, John Corbett.
Duração: 18 episódios (20-30 minutos cada).