Home FilmesCríticasCatálogos Crítica | Sex and The City 2

Crítica | Sex and The City 2

A irregular e inevitável segunda incursão no universo cinematográfico de Sex and The City.

por Leonardo Campos
3,9K views

Escrever sobre Sex and The City 2 foi uma missão bastante estranha nesta minha empreitada de reflexões acerca do universo de Carrie Bradshaw e suas amigas novaiorquinas. Em praticamente todos os textos sobre a série de 1998 a 2004, bem como as análises de suas trilhas sonoras, apontei o filme como irregular e desnecessário, narrativa quase abominável do cinema hollywoodiano contemporâneo, mas ao rever recentemente, consegui me divertir bastante, numa jornada mais envolvente que o antecessor, considerado menos problemático. Curiosa esta percepção, mas sigamos. Ainda considero os filmes que continuam a saga da série extensos demais, rodeados por conflitos dramáticos frágeis e bobos, dissociados da complexidade dos episódios de suas seis temporadas, anteriores ao revival And Just Like That, lançado recentemente. Com sua estrutura “épica” de quase duas horas e meia de duração, o segundo filme começa propondo uma abordagem das amizades da protagonista interpretada por Sarah Jessica Parker, numa apresentação entre o passado, isto é, a chegada delas na grande metrópole onde vivem as suas maiores aventuras e desafios sentimentais e profissionais, e o presente, numa eficiente montagem alternada, acompanhada pela trilha sonora, recurso mais empolgante que o filme em si. Após as primeiras aparições, o mote inicial se estabelece.

Carrie, Miranda (Cynthia Nixon), Charlotte (Kristin Davis) e Samantha (Kim Cattrall) estão num encontro para a compra dos presentes de casamento de dois amigos, para a nossa surpresa (ou não), Stanford Blatch (Willie Garson) e Anthony Marantino (Mario Cantone), melhores companhias gays de Carrie e Charlotte, respectivamente, apresentados para um possível romance na quarta temporada da série e, hoje, apaixonados, após anos de disputas e trocas consideráveis de farpas. O primeiro bloco do filme gira em torno do festejo, com destaque negativo para o encontro de Samantha com um dos irmãos de Anthony, uma passagem com sexo selvagem escandaloso e provido de gemidos excessivos de uma personagem que aqui, parece tratada de maneira desgastada, possivelmente dominada pelos hormônios que tanto consome para evitar o envelhecimento. Samantha sempre foi a mulher fatal que não se deixava dominar pelas regras, mas o seu comportamento no filme não está devidamente equilibrado, fruto de uma direção e roteiro irregular de Michael Patrick King.

A tal festa é um luxo só. A música é de qualidade e a presença de Liza Minelli sendo ela mesma é um presente para os personagens e também para nós, espectadores. Todo mundo dança ao som de uma versão de Single Ladies, da Beyoncé, num evento com clima contagiante. Entre bebidas e muita diversão, somos reapresentados aos conflitos iniciais que gravitam em torno do quarteto de protagonistas. Carrie e Mr. Big (Chris Nott) adentraram num momento de leve desgaste. Ele quer comida em casa, na paz, sem as badalações de restaurantes e a narradora, cansada da mesmice, quer que o marido tome uma posição mais ativa no relacionamento, inclusive, dar presentes sofisticados, como joias, em vez de uma televisão para assistirem filmes no conforto de sua cama. Tal questão vai desencadear uma crise frágil, boa, oriunda de um beijo entre a escritora e seu ex-namorado Aidan (John Corbett), situação que ocorre num reencontro demasiadamente aleatório durante uma viagem para o Oriente Médio.

Charlotte vive o seu sonho, isto é, ter filhos e um casamento equilibrado, mas chegou ao ponto de evitar qualquer conflito com a babá para não perder a ajuda cotidiana. O casamento com Harry (Evan Handler) vai bem, mas cuidar dos filhos tem sido um desafio angustiante para esta dona de casa que usa roupas de grifes caríssimas enquanto prepara bolinhos com as crianças. Uma escapada é algo mais que necessário. Miranda, desta vez, é puro trabalho. Ela não larga o celular por nada e vive sendo pressionada por um sócio poderoso em sua firma, situação que culmina num pico de estresse que a leva para o caminho da demissão. Samantha, mais poderosa profissionalmente do que nunca, exagera nas fórmulas contra o envelhecimento, continua a sua jornada sexual bastante ativa e após uma ligação de Smith Jerrod (Jason Lewis), torna-se o interesse de uns empresários poderosos da indústria hoteleira de Abu Dabhi, capital dos Emirados Árabes Unidos. É a guinada para o segundo bloco do filme, a viagem tão esperada por todas, providenciada por Samantha que, na negociação, alegou só ir se pudesse levar as suas amigas com todas as despesas pagas. Lá, ampliarão as suas noções de consumo e luxúria.

Ao chegar, cada uma possui o seu carro. Sobem em camelos, atravessam o deserto com roupas caríssimas, providenciadas pelo setor de figurinos gerenciado por Patricia Field, Molly Rogers, Jacqueline Demeterio e Danny Santiago, além de passearem por locais belíssimos, reforçados visualmente pelo design de produção de Jeremy Conway, contemplados pela virtuosa e assertiva direção de fotografia de John Thomas, eficiente nos closes dos sapatos, nas movimentações dos vestidos que revoam, bem como nos planos gerais que absorvem toda a atmosfera de luxo proporcionada pelo resort onde as quatro personagens se encontram hospedadas. Miranda aproveita para relaxar, tal como Charlotte, ambas em situações parecidas no casamento. Samantha goza dos privilégios de sua solteirice e ao conhecer um poderoso empresário europeu em passeio pelo local, perde o decoro e esquece das regras sociais que diferenciam a presença da mulher na cultura oriental, trazendo problemas que culminam no desfecho deste longo bloco. Carrie é quem atravessa o pior arco ao reencontrar Aidan, novaiorquino em negócios na região, balançado ao revê-la por lá. Num jantar, eles trocam um beijo e as irritantes neuroses da narradora a levam para o excesso. Ligar para Mr. Big e contar tudo, criando um dramalhão diante de praticamente nada, algo que poderia ser revelado sem tanta parafernália.

Guiadas pela trilha sonora de Aaron Zigman, ora esfuziante e multicultural, ora melancólica, as quatro personagens de Sex and The City 2 voltam com alguma dificuldade para os Estados Unidos, para o conforto de seus respectivos lares. É a entrada do último ato, o bloco final, com os ajustes de contas de todos. Carrie e Big se reconciliam, Samantha desfruta dos prazeres do sexo aos gritos e urros, Miranda adentra para uma empresa que reconhece o seu potencial e seu lugar de fala e Charlotte, em busca de equilíbrio psicológico, tira uma folga semanal no antigo apartamento de Carrie, tendo em vista descansar de sua vida de dona de casa privilegiada cansada das escolhas que fez. Assim é o segundo filme deste universo: cheio de momentos divertidos, figurinos esplendorosos, trilha sonora empolgante, boas características associadas aos problemas de ritmo, tempo excessivo de duração, conflitos dramáticos rasos, escolhas irritantes de personagens icônicas e algumas doses de desrespeito com a cultura alheia, este último ponto, nenhuma novidade na seara das produções estadunidenses que evidenciam o lugar do “outro”.

Sex and The City 2 (idem/EUA, 2010)
Direção: Michael Patrick King
Roteiro:
Michael Patrick King
Elenco: Sarah Jessica Parker, Kim Cattrall, Kristin Davis, Cynthia Nixon, Chris Noth, David Eigenberg, Willie Garson, Mario Cantone
Duração: 146 minutos

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais