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Crítica | Sex and The City: 1ª Temporada

O primeiro ano de um fenômeno cultural da ficção seriada televisiva.

por Leonardo Campos
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Um fenômeno cultural. Uma série com desenvolvimento em seis temporadas, depois expandida em seu legado com dois filmes, um derivado e uma continuação. Aqui, versamos sobre Sex and The City, produção iniciada em 1998, com um formato narrativo bastante peculiar, transformado ao longo de sua evolução que incorporou, organicamente, a cidade de Nova York em seu contexto, a versar sobre relacionamentos no mundo moderno. Com 12 episódios em sua primeira temporada, a produção inspirada no livro de crônicas homônimo de Candace Bushnell ganhou a crítica e o público ao refletir, como nunca visto antes, questões femininas contemporâneas que não ficam apenas restritas ao público em questão, mas podem ser alegorias para qualquer relacionamento em qualquer parte do mundo, numa produção que demonstrava com muito humor, situações que todos nós, em algum momento, vivenciamos em nossas experiências.

Como lidar com um convite para sexo em grupo? A autoestima pode minar quando somos esnobados por alguém que nem sequer nos interessamos de verdade? Como enfrentar as pressões de uma sociedade que enxerga as mulheres que estão na casa dos 30 e ainda não aderiram ao matrimônio como “bruxas modernas”? O amor romântico é mesmo um mito? São muitas as perguntas e diversificados os tópicos desta primeira temporada que fala de sexo, masturbação e desejos femininos autênticos, incomuns na televisão e ainda considerados tabus. O mito do amor é devastado logo na abertura, no episódio O Sexo e a Cidade, quando a narradora Carrie Bradshaw, interpretada por Sarah Jessica Parker, conta uma história de amor que é tida como mitológica na grande metrópole, uma sequência de fatos que lembram bastante o filme Ele Não Está Tão Afim de Você, em linhas gerais, as idas e vindas de uma relação promissora que não se solidifica e ilude cada vez mais os apaixonados modernos.

Carrie Bradshaw é a protagonista do programa. Os episódios se fundem com as suas histórias publicadas semanalmente num jornal de grande circulação na cidade. Os temas da coluna Sex and The City, que também nomeia a série, guiam os acontecimentos da personagem e de suas quatro amigas: Miranda Hobbes (Cynthia Nixon), uma advogada durona, Samantha Jones (Kim Cattrall), uma relações públicas; e Charlotte York (Kristin Davis), uma especialista em História da Arte. Juntas, elas formam um quarteto que cotidianamente compartilha as suas experiências e dialogam sobre a busca do amor num mundo dominado por novas modalidades de relacionamento, dentre elas, os encontros virtuais, numa era predecessora aos aplicativos tal como conhecemos hoje. Brancas e obviamente mais privilegiadas, bem-sucedidas e afoitas por aventuras, elas protagonizam situações de todo tipo no campo da sexualidade, refletindo também sobre dependência afetiva e posicionamento feminino profissional em um mundo onde os homens ainda se sentem ameaçados pela emancipação das mulheres.

Iniciada em junho e finalizada em agosto de 1998, a primeira temporada de Sex and The City ainda traz alguns personagens recorrentes ao longo de todos os anos do programa: Mr. Big (Chris Noth), o grande amor tóxico e inconsequente da protagonista, Stanford Blatch (Willie Garson), o melhor amigo gay de Bradshaw. Importante ressaltar que ao longo da caminhada deste programa, lá nos anos 1990, determinadas questões sobre a presença de personagens negros, os estereótipos do universo homossexual e outros temas hoje combatidos e debatidos com veemência não eram ainda uma preocupação das produções ficcionais como temos na atualidade, por isso, algumas abordagens podem soar ofensivas, mas isso não extrai nem um pouco o brilho dos episódios desta série que discutiu, corajosamente, temas considerados inconcebíveis para a programação televisiva. No devido tempo e com suas reconsiderações, os envolvidos tiveram a chance de se reorganizar, haja vista And Just Like That: Um Novo Capítulo de Sex and The City, mais politizada e em consonância com as demandas contemporâneas.

Dentre os principais momentos desta primeira temporada, podemos destacar: Charlotte e sua busca pelo amor romântico, algo que envolve o desinteresse de um cara depois que ela renega sexo no primeiro encontro, ou então, a sua desesperança nos homens e a busca por afeição com um vibrador chamado de “coelho”, febre na época. Ela também sai com um cara viciado em drogas e que só consegue fazer sexo se estiver sob o domínio de substâncias do tipo. Delirante é o episódio em que suas inseguranças se ampliam após receber o convite para fazer sexo anal com um homem, algo considerado ofensivo para a sua visão idealizada dos relacionamentos. Samantha, por sua vez, encara com naturalidade tudo isso e, como narrado pela protagonista, é a personagem é um fenômeno da cidade, uma mutação no campo das mulheres, alguém que passou a fazer sexo como os homens, isto é, sem compromisso ou dependência afetiva, o que a torna sedutora, fatal e ameaçadora para a visão de muitos.

Confiante, a loira compra seu primeiro apartamento logo nesta temporada inicial. Sai com um cara que gosta de filmar as suas conquistas, se envolve com um homem casado e se torna conselheira amorosa quando a esposa do dito cujo se propõe a fazer sexo grupal para não perder o marido, além de ajudar um rico com problemas de estilo e de hálito a ser socialmente aceitável, se apaixonando, no desfecho da temporada, por James, o homem ideal, mas com um pênis minúsculo, situação que rende excelentes momentos para o texto da série que visualmente trabalha com muitas transições em raccord e diálogos conectados com bastante cautela. A advogada Miranda, mordaz em sua postura num mundo preconceituoso com as mulheres, atravessa experiências engraçadíssimas com um homem da academia que só consegue transar assistindo vídeos de sexo violento, sai com um católico rígido que precisa tomar banho toda vez que se relaciona sexualmente, além de ficar em crise quando numa conversa, nenhuma das amigas diz que faria sexo a três com ela, o que reforça as suas inseguranças.

Por fim, temos Carrie Bradshaw, uma protagonista com defeitos e qualidades esperados de qualquer ser humano. Narcisista em alguns momentos, antipática e egoísta noutros, ela é uma construção cheia de dualidades. Sai com um cara de 20 e poucos anos e observa que determinadas coisas da juventude já se tornaram ultrapassadas para a sua concepção de mundo, entra em crise com uma amiga depois final de semana nos Hamptons após o individuo andar nu dentro de casa e a surpreender, sendo ainda confundida com uma prostituta ao sair com um italiano, a mando de sua amiga Amalita, homem que deixa uma quantia considerável num envelope depois do encontro sexual. Ao se apaixonar por Mr. Big, Carrie enfrenta a primeira de tantas idas e vindas com o homem que demarcará para sempre a sua jornada, uma criatura enigmática que já foi casado, não tem interesse em novos compromissos do tipo e reluta para lhe apresentar para a sua mãe, culminando em algumas crises que determinam um desfecho agridoce para a personagem, de volta ao jogo na segunda temporada, em 1999.

Sex and The City – 1ª Temporada (EUA, 1998)
Criadores: Darren Star e Karen Kirkpatrick.
Direção e Roteiro: vários.
Elenco: Sarah Jessica Parker, Kim Catrall, Kristin Davis, Cynthia Nixon, Chris Noth, David Eigenberg, Willie Garson, John Corbett.
Duração: 10 episódios (20-30 minutos cada).

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