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Crítica | Servant – 4X07: Myth

Desconstruindo Leanne.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Em minha constante tentativa de provar que querer roteiros e tramas “imprevisíveis” é uma bobagem enorme e que o que realmente importa é que os acontecimentos de um filme ou série caminhem de maneira lógica e que, claro, tudo seja executado com qualidade, trago a meus leitores o sétimo episódio da temporada final de Servant. Afinal, Myth é, bem no estilo da “Família Shyamalan”, o plot twist  básico transformado em espetáculo, aqui essencialmente representado pela direção e co-roteirização da filha de M. Night que vem usando a série como veículo de – espero! – seu futuro estrelato desgarrado do pai. 

Afinal, vamos lá: não pode ser sido muita gente que realmente acreditou na ladainha de arrependimento e contrição do tio George – com direito até mesmo a um figurino literalmente mais limpo e civilizado -, tentando desfazer todos os aspectos sobrenaturais que cercam Leanne, não é mesmo? Desde o momento em que ele diz que largou a Igreja dos Santos Menores, fica evidente que tudo não passa de um engodo para fazer de Sean e Julian seus instrumentos para reaver a babá angelicamente demoníaca para seu rebanho. E é interessante como mesmo sendo clara essa enganação toda, amplificada pela forma fácil com que Sean e Julian engolem a história, há um cuidado grande para dar peso ao que é mostrado, seja pela investigação paralela de Dorothy, seja pelo rosto de “fui enganado” de Roscoe que basicamente vê sua crença desabar com as mentiras de seu mentor, seja pela inserção de elementos reais em toda essa mistura.

Diria que Shyamalan-filha é muito bem-sucedida em criar uma aura de dúvida por toda a duração do episódio que só realmente é desfeita (para os mais céticos) pela sessão de autoflagelação do tio, algo que reputo como sendo uma cena um tantinho quanto desnecessária, mas cuja inclusão, aqui, eu até entendo por uma questão de economia narrativa. É como o final de Psicose, na base do senta aqui para eu explicar tudinho para você ou a montagem de flashbacks quando da grande realização de Bruce Willis em O Sexto Sentido.

No entanto, o grande destaque do episódio é mesmo a atuação de Boris McGiver. Seu tio George aparece pouco na série, mas sempre que aparece o ator parece estar completamente “vestido” de seu personagem. E, aqui, em sua versão “santo do pau oco”, ele encontra o perfeito equilíbrio entre o literal bem e o mal, assumindo uma aparência mais agradável, um discurso calmo e lógico, longe de seu histrionismo beato, mas sempre mantendo, por trás, um traço de que há algo muito errado ali, uma espécie de timbre de voz e de movimento corporal levemente estranhos que a câmera de Shyamalan captura e amplifica em toda a oportunidade. Chega quase a ser uma covardia quando o roteiro o mantém constantemente em contraponto a Toby Kebbell e Rupert Grint e não porque os dois são ruins, longe disso, mas sim por eles, a essa altura da trama, estarem presos a um tipo de performance que não abre espaço para nuanças. 

Curiosamente, em termos práticos, o episódio não acrescenta muita coisa ao que já sabíamos, mas ele organiza o raciocínio e prepara a estirada final de três episódios em que o conflito entre os Turners – finalmente afinados em uma união anti-Leanne – e a cada vez mais controladora babá ganhará sua resolução, seja ela qual for. É, de certa forma, um filler que arruma o tabuleiro para os últimos movimentos das peças, o que inclui até mesmo, talvez, fazer com que Roscoe volte a aliar-se a Leanne. 

Sem surpreender sequer por um segundo, Myth mostra que, quando bem feito, o óbvio é algo muito mais eficiente do que aqueles twists retirados da cartola mágica de roteiristas que acham que estão abafando. Afinal, se é complementarmente surpreendente, tem alguma coisa muito errada no que veio antes. 

Servant – 4X07: Myth (EUA, 24 de fevereiro de 2023)
Direção:
Ishana Night Shyamalan
Roteiro: Henry Chaison, Ishana Night Shyamalan
Elenco: Lauren Ambrose, Toby Kebbell, Nell Tiger Free, Rupert Grint, Boris McGiver, Phillip James Brannon
Duração: 27 min.

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