- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
No terceiro episódio de uma temporada que, pelo menos em seu começo, tem conseguido mostrar uma ótima variedade de abordagens de horror, Servant flerta com o humor, mas aquele tipo de humor estranho e desconfortável que se encaixa bem no espírito da criação de Tony Basgallop. No roteiro e direção, temos, novamente, Ishana Night Shyamalan que, como o nome não nos deixa esquecer, é a talentosa filha de M. Night Shyamalan, o que já cria expectativas mais altas para o que assistiremos em seguida.
Usando muito a presença constante e quase sufocante das enfermeiras Bev (Denny Dillon) e Bobbie (Barbara Kingsley) contratadas por Dorothy no final do episódio anterior, Ishana maneja a narrativa de duas maneiras simultâneas: ela usa a minutagem breve do episódio para apresentar e contextualizar as duas novas personagens, sem se furtar de transformá-las em mais dois “seres bizarros” a povoarem a casa dos Turners, dando-lhes personalidade e, claro, aquela comicidade sinistra e arrepiante, como para trabalhar a dinâmica estremecida entre todos os demais, tendo Leanne não tecnicamente como centro das atenções, mas, justamente pela babá ser colocada para escanteio, como aquela “falta sentida” e sempre presente em sua ausência. É quase como se Jerry Lewis entrasse de supetão em um filme sério de horror.
E o mais divertido – pelo menos para mim – é que um das mais fascinantes jogadas desnorteadoras da série retorna com força total. Do que estou falando? Ora, da arquitetura da casa dos Turners, claro. Se puxarmos pela memória, certamente lembraremos da forma lenta como os cômodos e ambientes da casa são apresentados, muitas vezes apenas na medida do necessário ou conveniente para a história que está sendo contada naquela momento. É um porão enorme que tem mais reentrâncias do que o labirinto do Minotauro, um sótão quase mágico que surge do nada, quartos extras que “fazem pontas” aqui e ali e, agora, um anexo para lá de estranho, que mais parece um bunker, que passa a ser a moradia das duas senhoras contratadas por Dorothy para sua terapia e, claro, para mantê-la o mais longe possível de Leanne. E, como se essa expansão infinita da casa não fosse suficiente, há ainda os “poderes” de Bev e Bobbie que são capazes de transformar seu cafofo completamente, arrumar todos os cômodos (por cores!) para desespero de Leanne, comprar presentinhos espertos para todos e assim por diante.
E é essa mistura toda que faz de Séance um dos mais diferentes episódios de Servant, com direito até mesmo à sessão espírita do título que prenuncia – ou reapresenta se, de novo, formos puxar pela memória – uma presença sombria na casa, algo que, espero, seja mais explorado adiante e que empreste mais significado e contexto para os efetivos poderes sobrenaturais da babá e ao culto que a quer de volta. Mais do que isso, espero que Bev e Bobbie tenham vindo para ficar e que não sejam personagens esporádicos, aparecendo apenas quando tiverem funções específicas como foi o caso de Kourtney em Itch. Considerando o quanto de tempo foi empregado para inserir as duas na série – basicamente todo o episódio – tenho para mim que elas permanecerão pelo menos por mais algum tempo, restando saber, apenas, se elas permanecerão do lado de Dorothy “contra Leanne” ou se, pela conexão “mágica” que possa existir entre elas, elas se bandearão para o lado da babá como foi o caso do detetive contratado por Julian.
Ainda há um caminho relativamente longo pela frente para tudo acabar, mas Servant, em sua temporada final, vem sabendo trabalhar variedade, o que faz o espectador esquecer um pouco da narrativa principal que ganhou mais foco em Pigeon. E isso de forma alguma é um aspecto negativo. Ao contrário, diria que é a melhor maneira de lidar com uma história que se impõe tantas restrições de espaço quanto esta, mesmo que as regras originais já tenham sido de certa forma relaxadas. Que as enfermeiras continuem figurando no quadro principal de personagens!
Servant – 4X03: Séance (EUA – 27 de janeiro de 2023)
Criação: Tony Basgallop
Direção: Ishana Night Shyamalan
Roteiro: Ishana Night Shyamalan
Elenco: Toby Kebbell, Lauren Ambrose, Nell Tiger Free, Rupert Grint, Denny Dillon, Barbara Kingsley
Duração: 31 min.