Home TVEpisódio Crítica | Servant – 3X09: Commitment

Crítica | Servant – 3X09: Commitment

Todos contra Dorothy.

por Ritter Fan
597 views

  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

O que imediatamente chama a atenção em Commitment é o quanto a fotografia ganhou tons mais escuros, mais claustrofóbicos, de certa forma diminuindo o tamanho da mansão dos Turners na mesma proporção que, como de costume, somos apresentados a “cômodos novos” quase mágicos que nos impedem de entender exatamente a arquitetura do lugar, lembrando, guardadas as devidas proporções, o que Stanley Kubrick faz com o Overlook Hotel, em seu inesquecível O Iluminado. É o penúltimo episódio da temporada e essa atmosfera ainda mais sombria casa muito bem com a abordagem profundamente psicológica dada a Leanne e Dorothy, agora inimigas mortais.

Quando realmente notamos a escuridão tomar a cena, o momento é perfeitamente apropriado para isso. Estamos no que talvez seja o diálogo mais importante da temporada, em que a babá deixa bastante claro para Dorothy – são mais do que meras meias palavras – que ela foi a responsável pela violenta morte da repórter Isabelle no episódio anterior. Explicar o como é completamente desnecessário, mas o porquê está lá para quem souber interpretar, ou seja, não se trata exatamente de uma defesa da patroa, como ela diz, mas sim uma maneira de evitar que a investigação que a jornalista estava capitaneando alterasse o status quo de Leanne. Evidentemente, porém, a surpreendente franqueza de Leanne não registra de verdade em Dorothy, em parte pelo seu abalo psicológico perfeitamente compreensível que nasceu com a morte de Jericho e agora se intensifica, mas também pela incredulidade natural – mesmo diante dos diversas situações bizarras que aconteceram na série – em se acreditar em algo desta magnitude.

Mas o momento assusta por sua singeleza e pela forma como Leanne mantém aquela sua aparência e jeito inocentes, mesmo em seguida procurando as drogas de Julian e, não as achando, sexo com o também perturbado irmão de Dorothy, ali mesmo no jardim da casa, sob vigilância da cada vez mais paranoica matriarca. E esse terror sutil afeta Dorothy ainda mais, que renova seus esforços desesperados para internar a babá em alguma clínica psiquiátrica com a ajuda do profissional amigo de seu pai que, pouco tempo depois, faz uma visita para abertamente avaliar Leanne, mas secretamente para analisar Dorothy, em uma virada de mesa telegrafada – mas corretamente telegrafada, vale reiterar – arquitetada por Frank.

A sequência em que isso é revelado a Dorothy é um inspirado momento da direção da dupla Veronika Franz e Severin Fiala, usando o espaço entre a porta de entrada da casa e o pé da escada – talvez a parte mais pública do lar do Turners – para criar uma rede ao redor da cada vez mais confusa e desesperada Dorothy, cujo próprio pai, talvez acertadamente para evitar a repetição do que aconteceu quando Jericho morreu, quer interná-la em um sanatório. Ver Sean, Julian e depois Leanne chegarem para defender Dorothy foi uma jogada de mestre, pois o que vemos, antes de Leanne descer as escadas, é um marido defendendo a esposa no automático e um irmão defendendo a irmã com base em seus conhecimentos anteriores sobre o psiquiatra. Somente quando a babá chega é que a reunião de esforços verdadeiramente acontece, com a arquitetura sonora criando “vozes incorpóreas” para refletir a confusão mental de Dorothy e Leanne descendo literalmente com um anjo (caído?) vem do céu para esfriar a situação e calma, mas certeiramente pegar Jericho no colo para mostrar que Dorothy está bem ou suficientemente bem para permanecer em casa.

Esse jogo visual e sonoro de Commitment é fascinante. O roteiro deixa muito evidente quem está no verdadeiro comando da situação e como Dorothy, agora, é uma pária dentro de sua própria casa, praticamente uma prisioneira que precisa da supervisão de tudo e de todos que deveriam estar verdadeiramente ao seu lado. É até irônico notar que Frank, mesmo tomando uma postura radical sobre a filha, parece ser o mais racional de todos ali, certamente ainda fora da esfera de influência de Leanne, finalmente querendo tomar as rédeas de uma situação que não deveria ter chegado ao ponto que chegou.

Com um pontinha narrativa muito rápida – e, diria, até intrusiva – em que um dos jovens do culto de Leanne é dado como desaparecido, em uma óbvia armação para o encerramento de temporada que deve trazer de volta o culto original de onde a babá fugiu, Commitment dá um show de tensão psicológica com sua fotografia ainda mais sombria, sua direção elegante e excelentes atuações por parte de Nell Tiger Free e, principalmente, Lauren Ambrose. Será difícil o episódio final superar este aqui, mas fica a esperança de que consiga!

Servant – 3X09: Commitment (EUA – 18 de março de 2022)
Criação e showrunner: Tony Basgallop
Direção: Veronika Franz, Severin Fiala
Roteiro: Laura Marks, C. Henry Chaisson
Elenco: Toby Kebbell, Lauren Ambrose, Nell Tiger Free, Rupert Grint, Todd Waring
Duração: 29 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais