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Crítica | Servant – 3X04: Ring

O completo caos doméstico.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Depois de Hair trair uma das premissas da série sem uma boa razão para isso e, ainda por cima, com uma execução sofrível, Ring retorna à programação normal com toda a ação passada eminentemente dentro da mansão dos Turners. Não é um episódio que avance a trama geral de forma significativa, pois não avança, mas o caos gerado ao longo da narrativa foi gratificante e bem construído, com um clímax, ainda que razoavelmente telegrafado, eficiente dentro do que o episódio se propôs a fazer.

O que realmente importa aqui – ou o que é pelo menos o aspecto mais diferente dentro do episódio – é se o que acontece com Dorothy diante das câmeras, com o leite vazando de seus seios, é algo natural ou se foi de alguma forma causado por Leanne. A tendência é concluirmos pela segunda hipótese, pois isso casa com toda a pegada sobrenatural da série e com a aflição de Leanne em razão da ausência da mãe da casa, em uma construção de um conceito de família um tanto quanto perturbador na cabeça da babá sinistra. O problema dessa conclusão é que, diferente das outras vezes, nem sequer o jogo de câmeras da direção de Dylan Holmes Williams deu a entender que houve alguma manipulação.

Muito ao contrário, apesar de o desconforto de Leanne ficar devidamente sacramentado, o que nós vemos é seu desespero diante da confusão causada na casa pelo trabalho frenético de Sean com dois ajudantes simultaneamente à presença de uma equipe para torna o lugar “seguro” para o pequeno Jericho, em um daqueles hilários exageros burgueses que volta e meia são abordados de forma satírica. Há até um “bônus” (atenção nas aspas!) que é o assédio de Leanne pelo asqueroso contratado para colocar todos os aparatos inúteis para impedir que o bebê morra, por exemplo, caindo pelo vão da escada que a leva a concluir que as roupas normais que Dorothy a faz usar são pecaminosas.

O roteiro de Laura Marks lida muito bem com a profusão de situações em tese prosaicas que vão se intensificando muito rapidamente, mas o destaque fica mesmo com a direção de Williams que trabalha excelentes transições entre cômodos e também no foco na cada vez mais oprimida Leanne que cada vez mais fica parecendo um animal acuado, com uma silenciosa, mas bela atuação de Nell Tiger Free. O momento climático, estabelecido antes pelo gancho quase que ritualmente explicado e instalado por Sean e pela imediata irritação que a nova sous-chef gera pela forma como ela trata Tobe. O crescendo é ótimo, as consequências bizarras – dedo decepado que fica na bancada e depois é inadvertidamente jogado no triturador de resíduos da pia que, claro, é devidamente ligado, sobrando, apenas, o anel do título – são muito bem coreografadas e ver Leanne, ao final, desfilando com o objeto em seu dedo novamente dá a entender que ela, de alguma maneira, foi responsável pelo ocorrido.

Sinceramente, não sei exatamente o que é Leanne. Essa roupagem sobrenatural que, eu sei, sempre esteve presente gravitando ao redor dela, começa a ficar um tanto quanto desgarrada dela, a não ser que concluamos que há alguma conexão com seu humor e que seus poderes – se é que podemos chamar de poder – são razoavelmente  amplos e perigosamente genéricos e convenientes. Não cobro de forma alguma explicações racionais por parte de Tony Basgallop, pois não ter explicações dessa natureza faz parte do DNA da série e, claro, de filmes e séries de horror que lidam com o sobrenatural, mas é importante manter a lógica da coisa toda. Temos que lembrar que foi estabelecido com razoável “clareza” que Leanne é capaz de reviver pessoas e criaturas mortas, mas não muito mais do que isso (e que já é muita coisa, claro), pelo que é razoável esperar que haja lógica interna, sob pena de a série passar a ser um vale-tudo. Isso partindo da premissa que os eventos do episódio não foram naturais, claro, o que consideraria desapontador, pensando bem.

Ring é um ótimo episódio que não desenvolve a trama principal em absolutamente nada, nem sequer naqueles usuais pequenos incrementos da série desde seu início. Não o classificaria como um mero filler, porém, pois a insegurança crescente de Leanne ganha novos componentes aqui, inclusive uma espécie de reversão no que refere seus figurinos e uma abordagem mais, digamos, insana para a personagem quando a vemos, no final, dançando com o anel e sendo observada pelos jovens misteriosos do parque em frente, mas é necessário sempre manter algum tipo de cadência, especialmente depois de um episódio tão fraco.

Servant – 3X04: Ring (EUA – 11 de fevereiro de 2022)
Criação e showrunner: Tony Basgallop
Direção: Dylan Holmes Williams
Roteiro: Laura Marks
Elenco: Toby Kebbell, Lauren Ambrose, Nell Tiger Free, Rupert Grint, Sunita Mani
Duração: 30 min.

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