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Crítica | Servant – 3X02: Hive

O clube das mães esnobes.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

A paranoia de Leanne vem sendo muito bem usada neste começo da terceira temporada de Servant. De jovem misteriosa cujas intenções era mantidas – e ainda são, de certa forma – escondidas sob o manto da ambiguidade, ela graduou para uma vítima, para alguém que se acha perseguida por seu culto e que encontrou na família Turner um refúgio, a ponto de ela realmente, profundamente considerar-se parte dela. Se em Donkey M. Night Shyamalan mostrou como se faz suspense de qualidade com ferramentas e artifícios tradicionais do gênero, agora é a vez de sua filha Ishana, retornando à série pela quinta vez, fazer o mesmo e, de quebra, provar, de uma vez por todas, que aprendeu muito com o pai.

Mas, em Hive, a ambientação muda completamente, ainda que lógico, o cenário padrão da casa seja mantido. O que antes era uma casa mal-assombrada clássica com apenas uma habitante carregada de paranoia e desespero, agora é uma literal creche com diversas crianças e suas mães (e um pai) em uma festinha de “congregação da alta sociedade” para Jericho potencialmente ter amigos relevantes quando crescer e, claro, para Dorothy conviver, do seu jeito, com outras mães. O interessante é que o roteiro, também de Ishana, converte a festa em algo que essencialmente constrangedor, de dar vergonha alheia como aquelas festas dos séculos XVIII e XIX (e XX também, sejamos sinceros) em que a filha “debuta” para a sociedade. Ver aquele grupo de gente rica basicamente decidindo se aceitam os Turners em seu círculo social exclusivo é absolutamente patético e mais bizarro do que a própria premissa da série.

E é por isso que o episódio dá tão certo. A estranheza de uma festa dessa natureza, por razões que não sei exatamente explicar, combina perfeitamente com a pegada culinária de toda a série, aqui com direito até mesmo à cabeça esfolada de um carneiro no balcão da cozinha e também com toda a surrealidade que é o tal culto que pouco conhecemos ainda e tudo o que aconteceu até agora com Sean, Dorothy e Jericho. Deve ser a podridão que une todos esses aspectos, pois não há nada mais podre do que ficar exibindo seu filho e rezando por sua aceitação por gente esnobe de berço esplêndido (ainda que isso não seja exclusividade dos ricos, não podemos esquecer).

Toda a paranoia de Leanne, então, é aproveitada ao máximo, primeiro com ela ficando desesperada com a festa em si que, para ela, é uma surpresa, e, depois, ela passando a achar que todo mundo ali, dos instaladores de câmeras de segurança, passando pelos convidados e chegando ao “animador”, é um cultista em potencial. Claro que já vimos isso antes em outros filmes e séries, mas o trabalho de direção de Ishana é cuidadoso e, mesmo que não tão ousado quanto de seu pai, muito eficiente para canalizar toda a tensão necessária nas alucinações de Leanne e em suas ações, culminando com a tesoura de cozinha apontada para o G.O.  em um daqueles momentos que Dorothy jamais será capaz de fazer suas “amigas” esquecerem (se bem que o ataque de abelhas ao final consegue ser ainda mais marcante e… hilário…).

Certamente alguns espectadores acharão que a trama não tem andado e eu entenderei a reclamação. Tenho para mim, porém, que Servante é sobretudo atmosfera e estética, estética e atmosfera. A história vai sendo contada em incrementos mínimos, com muitos dos mistérios sendo empurrados para a frente com a barriga, algo que certamente também me incomoda, mas que eu passei a apreciar no momento em que aceitei que o foco de Tony Basgallop é a construção de uma ambientação enlouquecedoramente claustrofóbica com o uso de técnicas old school e a auto imposição de limitações consideráveis no que pode ser feito na série. É como uma experiência e, para mim, ela tem dado muito certo.

Hive é outro belo exemplar do muito que Servant consegue fazer com muito pouco. Ao congregar a bizarrice de toda a premissa com o constrangimento que é a festa da alta sociedade de fraldas, o episódio consegue acertar nas duas pontas, a do suspense elegante e muito bem feito e a da sátira socioeconômica ferina e escancarada para quem quiser ver e vestir a carapuça.

Servant – 3X02: Hive (EUA – 28 de janeiro de 2022)
Criação e showrunner: Tony Basgallop
Direção: Ishana Night Shyamalan
Roteiro: Ishana Night Shyamalan
Elenco: Toby Kebbell, Lauren Ambrose, Nell Tiger Free, Rupert Grint, Sunita Mani
Duração: 25 min.

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