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Crítica | Servant – 2X02: Spaceman

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

De todas as – decididamente poucas, reconheço – séries recentes que reúnem as características de terem episódios curtos que vão ao ar semanalmente, Servant é a que menos eficientemente consegue lidar com elas. Enquanto WandaVision tem roteiros que poderiam ser chamados de autocontidos a cada breve capítulo e The Mandalorian segue substancialmente uma estrutura macro de “caso da semana”, Servant estabelece uma continuidade direta que a brevidade e espaçamento de cada episódio acabam detraindo um pouco do todo.

Com isso, não quero de forma alguma dizer que a Apple TV+ deveria alterar a forma com que a série é liberada para o público, pois, pessoalmente, cansei da sofreguidão naturalmente causada pelo chamado binge watching, mas o tamanho dos episódios, que, tenho consciência, elogiei na crítica anterior, é algo que poderia ser abordado por Tony Basgallop, talvez trabalhando roteiros que tematizem a narrativa para além de acontecimentos específicos como foi o caso de Spaceman e sua sessão de hipnose, mas não exatamente aumentando a duração. Afinal, se o primeiro episódio da 2ª temporada soube começar o novo ano com o pé direito, retornando mais diretamente à temática da claustrofobia e da “casa mal assombra versão moderna”, o segundo limita-se a investigar o paradeiro de Matthew Roscoe (Phillip James Brannon), o detetive contratado  por Julian Pearce para investigar o passado de Leanne, que desaparacera no dia do batizado de Jericho.

Ressurgindo do nada como se apenas tivesse dormido uma noite no carro, mas morrendo de fome como se tivesse passado alguns dias sem comer – o que efetivamente foi o caso – o pobre do Matt não consegue entender o que está acontecendo em mais um momento que parece ter uma carga sobrenatural, mas que fica propositalmente enevoado de maneira a nos dar o mínimo possível de informações sobre o culto do qual a sumida babá faz parte. A ideia é muito boa e estabelece uma confusão interessante e ao mesmo tempo assustadora exatamente por não sabermos a natureza do que ocorreu. O problema é que a maneira como o roteiro aborda a investigação do ocorrido por Sean e Julian me pareceu um pouco preguiçosa, basicamente do nada transformando a terapeuta charlatona Natalie, a grande idealizadora do “bebê falso” e, também, um caso de Julian, em uma especialista em hipnose. Quantas especialidades a mulher afinal tem? Será que em algum futuro episódio ela também controlará magia para enfrentar o culto?

Seja como for, temos que aceitar esse atalho tomado ou, pelo menos, engolir a premissa sem reclamar muito, já que a execução da sessão de hipnose é perturbadora o suficiente para justificar sua existência, com Phillip James Brannon tendo finalmente espaço para mostrar que ele é mais do que apenas um coadjuvante-quase-extra. Balbuciando fragmentos de lembranças que parecem se conectar com a cerimônia de autoimolação do culto que Dorothy assistia em vídeo pouco tempo antes, Matt parece genuinamente sofrer por ser obrigado a relembrar o ocorrido, algo que é amplificado pela impaciência e insistência de Sean, em seu desespero para descobrir o paradeiro do bebê. Em outras palavras, apesar de o caminho até a sessão de hipnose ser para lá de conveniente e fácil, os poucos minutos dedicados a ela funcionam muito bem, ainda que teria sido interessante ter visto um pouco mais desse momento, algo que a exagerada brevidade do episódio acabou atrapalhando.

Do lado de Dorothy, algo parecido acontece. Afinal, há também um pouco de conveniência na doença da âncora de seu jornal que faz com que ela seja chamada para substitui-la, algo que ela faz de bom grado de maneira não só a tentar “comunicar-se” com Jericho, como também desentocar Leanne. Digo que essa linha narrativa se parece muito com a da sessão de hipnose, pois foi outro momento tornado muito fácil por uma veloz sucessão de acontecimentos, mas que acabou sendo muito bem executado. Lauren Ambrose, vivendo por um momento sua Dorothy recomposta para aparecer diante das câmeras, mais uma vez mostra-se excelente ao combinar sutis toques de desequilíbrio com uma determinação feroz para lidar com a situação impossível em que se encontra. Sua “versão mamãe” da co-âncora do programa foi ao mesmo tempo engraçada e desconcertante, inteligente e aflitiva, com resultados práticos diretos já que a babá realmente ressurge em uma ligação para Sean ao final que é usada como cliffhanger.

Spaceman não tem a mesma eficiência de Doll, com o roteiro que Basgallop escreveu com Nina Braddock talvez tendo precisado de mais tempo para construir suas cenas-chaves, mas é perceptível o esforço do showrunner e da produção em extrair o máximo do espaço confinado da casa dos Turners, protraindo o mistério pelo máximo de tempo possível, estratégia que não sei o quanto poderá ainda ser mantida sem tornar-se cansativa. Seja como for, o caminho desta 2ª temporada é, neste início, mais sólido e certeiro do que o da 1ª, restando mesmo é torcer para que ele continue assim.

Servant – 2X02: Spaceman (EUA – 22 de janeiro de 2021)
Criação e showrunner: Tony Basgallop
Direção: Julia Ducournau
Roteiro: Nina Braddock, Tony Basgallop
Elenco: Toby Kebbell, Lauren Ambrose, Nell Tiger Free, Rupert Grint, Jerrika Hinton, Phillip James Brannon
Duração: 26 min.

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