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Crítica | Senhor Destino: A Múmia Que o Tempo Esqueceu

por Luiz Santiago
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Sumido dos quadrinhos já há muito tempo — tendo apenas participações em HQs da Sociedade da Justiça ou outros grupos (em ocasiões especiais) desde a década de 1940, quando então deixou de ter as suas histórias individuais na More Fun Comics — o Senhor Destino da Era de Ouro voltou em 1975 para uma (outra) história de origem misturada com uma nova aventura. Martin Pasko explica rapidamente como tudo começou e aborda um pouco as sugestões de Gardner Fox em The Origin of Doctor Fate (1941). Três anos depois, Paul Levitz voltaria para reafirmar essa origem, cobrindo os detalhes que faltavam, mas aqui já temos claramente uma boa explicação para o que aconteceu com o personagem no passado. E como bônus, a verdadeira origem do “Amuleto de Nabu” que, na verdade, é (ou era) de Anúbis.

Inza, esposa de Kent Nelson, está lamentosa, na Torre do Destino, sentindo-se prisioneira. O leitor encontrará a mesma disposição psicológica da mulher em Este Imortal Destino (1978), o que nos dá a entender que era mais ou menos uma visão comum dos escritores olharem para Inza e vê-la como uma pessoa amargurada, confusa, sem saber muito como lidar com a dualidade entre Kent e o Senhor Destino, a entidade que toma conta do corpo quando o elmo é colocado — bem, pelo menos são dissociadas neste momento da história do personagem.

A múmia Khalis aparece pela primeira vez, e descobrimos também a sua origem. Egito, 2030 a.C.. Na cidade de Bubastis, a antiga capital dos gatos, que floresceu no Baixo-Egito e teve sua decadência apenas nos primórdios do período cristão, havia um tempo da deusa Bastet, uma divindade solar, deusa da fertilidade, protetora das mulheres. Então aparece um certo Sacerdote apregoando um novo deus, Anúbis. Isso foi muito interessante de ver aqui, porque colocou em cena uma “briga de deuses”, abrindo espaço para a temática ser ampliada no futuro. O roteiro é rápido na construção da peleja e também rápido em resolvê-la. Com a arte fascinante de Walt Simonson, com acabamento mais rústico, temos realmente a impressão de algo antigo sendo mostrado, sensação ainda maior quando vemos a construção dos balões de fala, que no caso da múmia Khalis, são literalmente quebrados. Palmas para a dupla de letristas da história, Ben Oda e Walt Simonson.

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A trama serve mais para mostrar um pouco do passado do personagem do que para apresentar algo novo. O chamado que Khalis faz para Anúbis, quando recupera o amuleto que lhe foi dado, parece barato demais, sem muita coisa que mostre o momento adiante, algo que não tem exatamente um grande peso mas que soa estranho para o leitor, como uma falta de plano maior (ou de construção desse plano) que não precisava existir. A certo ponto, a paciência se esgota, quando vemos outra e mais outra repetição no roteiro, normalmente da parte da Inza, de que o Senhor Destino e Kent Nelson são entidade e pessoa diferentes. Talvez o autor não quisesse deixar dúvida nenhuma a este respeito e de fato tudo ficou claro, a um preço de repetições chateantes no meio da história.

A relação entre Inza e Kent ainda é estranha, justamente pelo “terceiro elo” no meio do caminho. Mas ele tira o elmo algumas vezes, então vemos que além dos momentos de salvar o mundo, o personagem tem uma vida (solitária, mas ok) ao lado da esposa na Torre. De certo modo, é perfeitamente compreensível os surtos de ansiedade e desespero de Inza. Vinda de um ambiente cheio de pessoas, com boas relações sociais e nada de isolamento (parte disso já podia ser visto nas histórias da Era de Ouro com a personagem), de modo que os dias na Torre do Destino realmente parecem uma grande prisão.

Ao mesmo tempo que olha para o passado e traz algumas origens, A Múmia Que o Tempo Esqueceu é uma trama do presente, que de certo modo problematiza as relações entre Kent e a mulher, além de mostrar a fragilidade dele, em alguns pontos, e que Nabu, surpresa-surpresa, não lhe contou tudo sobre os poderes cedidos ao herói. Uma ótima escolha de Pasko que, anos depois, voltaria a escrever sobre o herói por alguns meses, na parte secundária secundária da revista The Flash Vol.1.

The Mummy That Time Forgot (1st Issue Special Vol.1 #9) – EUA, Dezembro de 1975
Roteiro: Martin Pasko
Arte: Walt Simonson
Letras: Ben Oda, Walt Simonson
Capa: Joe Kubert, Tatjana Wood, Gaspar Saladino
Editoria: Gerry Conway, Paul Levitz
24 páginas

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